Não foi à toa que a sua vida deu origem a um documentário televisivo premiado, "The Man in Black"
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David Elleray é uma daquelas (poucas) figuras da arbitragem que se despediu, em 2003, com um estatuto que só não era comparável ao das maiores estrelas do futebol inglês, mas provavelmente superava o da generalidade dos jogadores.
Não foi à toa que a sua vida deu origem a um documentário televisivo premiado, "The Man in Black" ("O Homem de Negro") ou que depois de pendurar o apito se manteve ligado à arbitragem, primeiro como consultor e instrutor da UEFA e da FIFA e a partir de 2016 como Diretor Técnico do International Football Association Board (IFAB), o organismo responsável pelas regras do futebol e que acaba de aceitar, de forma temporária, as cinco substituições por jogo, numa demonstração de que a cristalização no tempo dos seus membros decisores talvez seja cada vez mais uma recordação.
No Subcomité Técnico, Elleray tem a companhia de outros ilustres ex-colegas, mas a sua presença e esta aparente abertura à modernização do IFAB talvez sejam coincidência. É que este Membro do Império Britânico desde 2014, um "Sir", portanto, não é propriamente um inovador ou um rebelde. Pelo contrário. Aliás, se algo marca a(s) carreira(s) deste professor de Geografia, agora com 65 anos, é o facto de ter vivido em pleno o sonho de infância até ao preciso momento em que esteve prestes a cumpri-lo. Estranho? Nada disso: antes que houvesse qualquer conflito de interesses, pôs o dos alunos, que tinham que se preparar para exames à frente do pessoal, adiando o objetivo de ver a carreira de árbitro de futebol chegar onde sempre desejara, à fase final de um Mundial! Estava-se em 1998 e se há decisões capazes de ajudar à construção de uma reputação sólida, esta foi claramente uma delas.
Elleray, que começou a dirigir partidas de futebol aos 13 anos, sendo na altura o mais jovem de sempre em Inglaterra, tomou muitas outras decisões controversas ao longo da carreira na arbitragem, que acabou por prevalecer à de desportista, depois de se ter destacado no râguebi e no remo. Mas no final o que ficou foi a imagem de justiça e consistência que deixou junto de jogadores, treinadores e dirigentes. Isso e o tom professoral, que sempre lhe apontaram, claro. Um exemplo: apesar de ter expulsado Roy Keane por quatro vezes na carreira, quando se despediu dos relvados o antigo e irascível médio do Manchester United enviou-lhe uma camisola autografada e uma carta a desejar felicidades!
O jogo do adeus teve, curiosamente, um toque bem português - foi um Newcastle-Birmingham, que no passado dia 3 cumpriu 17 anos, decidido por um dos quatro golos marcados com a camisola dos "magpies" por Hugo Viana.