Fagioli acumulou milhões em dívidas de apostas e foi ameaçado: "Parto-te as pernas"
Médio da Juventus foi condenado a 12 meses: sete sem futebol e cinco de reabilitação. Arriscava três anos.
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Nicolò Fagioli, jogador da Juventus envolvido no escândalo das apostas ilegais em Itália, revelou esta quarta-feira à Procuradoria Federal daquele país como essa atividade passou de um simples passatempo para uma "obsessão" que o levou a acumular milhões de euros em dívidas.
"No início, enquanto jogador, tinha muito tempo livre e (...) acabei por experienciar a emoção das apostas para ultrapassar o aborrecimento. Comecei a apostar nos treinos da seleção nacional de sub-21. No entanto, com o passar do tempo, comecei a entrar num estado de stress por causa das dívidas", pode ler-se no depoimento do médio às autoridades, a que a "Gazzetta dello Sport" teve acesso.
Fagioli acrescentou que o seu pior momento aconteceu entre março e abril deste ano, em que foi visto a chorar após ter sido substituído durante uma partida do campeonato italiano, uma reação que justificou ter sido motivada pelas dívidas que tinha naquele período.
Em setembro do ano passado, essas dívidas ainda não tinham chegado aos sete dígitos, mas já eram muito preocupantes - 250 mil euros - mas nem por isso Fagioli deu ouvidos à família, que já tentava convencê-lo a procurar ajuda para largar o vício de apostar.
"Quando estava na Cremonese, a minha mãe aconselhou-me a procurar tratamento, fui lá algumas vezes, mas ficou por aí. Eu tinha a ilusão que conseguia fazê-lo [curar o vício das apostas] sem isso. Eu apostava de forma impulsiva à frente da televisão em qualquer evento desportivo que estivesse a dar, incluindo a segunda divisão e abaixo", revelou o internacional italiano, de 22 anos.
O médio explicou ainda que chegou a ser-lhe proposto que cometesse faltas ou visse cartões amarelos em partidas de forma propositada, mas rejeitou por ser contra a sua "ética" pessoal. Também referiu que Sandro Tonali, outro jogador envolvido no escândalo, foi quem o incentivou a juntar-se a um site ilegal de apostas, garantindo que nunca apostou em jogos da Juventus ou Cremonese, equipas que representou na carreira.
Fagioli também reiterou que a Juventus desconhecia o seu vício de apostas, apesar de ter chegado a pedir dinheiro emprestado a colegas de equipas para aliviar as suas dívidas, nomeadamente a Federico Gatti e a Radu Dragusin, que veste atualmente as cores do Génova.
"Pedi 40 mil euros a Gatti, mas disse-lhe que eram para comprar um relógio e que as minhas contas tinham sido bloqueadas pela minha mãe. Dragusin emprestou-me 40 mil euros em outubro de 2022 e eu comprei uns Rolex caros em Milão. Às vezes entregrava esses relógios em pessoa, outras vezes eram os donos das plataformas ilegais que vinham coletá-los das joalherias", detalhou.
De resto, o jovem revelou os valores exorbitantes que chegou a dever a essas plataformas ilegais de apostas, o que levou inclusive a que fosse ameaçado fisicamente.
"Cerca de 110 mil euros à 'betar.bet' e à 'specialibet.bet', cerca de 1,5 milhões à plataforma ilegal 'bullbet23.com', cerca de 1,3 milhões a outra plataforma ilegal (...) cerca de 17 mil euros a uma agência legal e à volta de 31 mil euros a um banco ilegal na província de Como", enumerou.
"À medida que a minha dívida aumentava, cheguei a receber ameaças físicas pesadas como: 'Vou partir-te as pernas' e pensei: 'Estou apenas a jogar para recuperar a minha dívida'", desabafou, em jeito de conclusão.
Refira-se que o jogador fez um acordo de confissão, reduzindo assim a pena, que podia chegar aos três anos sem poder jogar.
Assim, Fagioli foi condenado a 12 meses, sete sem futebol e cinco de reabilitação, mais uma multa de 12 500 euros. Terá agora de seguir um programa de reabilitação terapêutica e testemunhar contra o vício do jogo em dez ocasiões.