Mundial feminino, Gold Cup, CAN e Copa América, em escalas diferentes, mostraram que há mais gente a ver jogos na TV e menos nas bancadas
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Numa altura em que as cúpulas do futebol debatem o futuro das transmissões, porque os jovens têm interesses mais dispersos e menos duradouros do que 90 minutos, os dados de audiências das provas de seleções deram sinais positivos. Menos quanto ao público nos estádios...
59 milhões de pessoas assistiram pela televisão ao jogo dos oitavos de final do Mundial Feminino entre Brasil e França, fazendo deste o encontro mais visto de sempre de futebol feminino
No início da semana, a UEFA anunciou ter recebido um número recorde de pré-reservas de bilhetes para o Euro"2020: os 19,3 milhões de ingressos pedidos superam por larga margem os 11 milhões solicitados, nesta mesma fase, para o Euro"2016 de tão boa memória para Portugal.
O formato da prova, que vai ser disputada em 12 cidades europeias, não só não afugentou os adeptos como provavelmente até foi um fator de atração, por levar jogos do Europeu a muitas mais regiões ao invés de obrigar os espectadores a deslocarem-se a um só país.
O campeonato da Europa parece, portanto, bem encaminhado para manter o crescimento sustentado de público nos estádios - passou de uma média de 36 mil por jogo na Holanda/Bélgica em 2000 para os 47 mil de 2016, em França -, ao contrário da maioria das restantes competições continentais e internacionais seniores de futebol, como as que se disputaram ao longo das últimas semanas, Mundial Feminino, Gold Cup, Copa América e Taça Africana das Nações (CAN).
2.106 espectadores estiveram no Mineirão (15,7% de ocupação) no Equador-Japão da Copa América. O mesmo estádio teve 4640 no Bolívia-Venezuela
Organizadas sob a égide da FIFA e da CONCACAF, respetivamente, o Mundial Feminino, disputado em França, e a Gold Cup, nos EUA/Costa Rica/Jamaica redundaram num balanço da competição muito semelhante. E tão ou mais sintomático: recordes de audiências televisivas, milhões e milhões de interações de fãs nas redes sociais, mas... menos pessoas nas bancadas dos estádios!
"O jogo de futebol, excluindo os do Mundial, mais retransmitido de sempre" ou "O jogo de futebol mais visto de 2019" foi como a CONCACAF, com base nos números, descreveu a final do passado dia 8 de julho, em que o México bateu os EUA (1-0). Os dados da organização, que sublinhou a transmissão para 180 países em 35 línguas diferentes, dizem que 8,5 milhões de pessoas assistiram a esse jogo pela televisão, enquanto 58 milhões seguiram a competição só nos Estados Unidos.
Argumentos semelhantes, ainda que com números diferentes, preencheram os balanços do campeonato do mundo feminino, como aquele publicado pela BBC - recordes de audiência em França, EUA, Alemanha e China; perto de 59 milhões de telespectadores na partida entre Brasil e França dos oitavos de final, que fez deste o jogo de futebol feminino mais visto de todos os tempos; um "share" de 88% na Holanda, durante a final perdida com os EUA, como não se via desde a meia-final do Mundial masculino de 2014...
Aquilo que também se viu na televisão foram clareiras nas bancadas destas competições. E os dados das assistências confirmaram essa perceção. As médias de espectadores nos estádios da Gold Cup, e Mundial Feminino registaram o segundo valor mais baixo deste século, enquanto CAN e Copa América tiveram a terceira pior assistência média do século.
2.106 espectadores estiveram no Mineirão (15,7% de ocupação) no Equador-Japão da Copa América. O mesmo estádio teve 4640 no Bolívia-Venezuela
A competição da confederação sul-americana, que neste ano foi ganha pelo Brasil (3-1 ao Peru, na final), até nem é a mais preocupante do ponto de vista desta quebra de público nos estádios, já que as médias deste século são bastante oscilantes e só em duas edições passaram dos 40 mil espectadores - 2007, na Venezuela, e 2016, a do Centenário, disputada nos Estados Unidos.
Nas outras três provas constata-se, no entanto, uma tendência - a CAN parece ter regressado a números do início do século, na casa dos 17 mil de assistência média, depois de ter estabilizado durante uma década entre os 19 mil e os 22 mil; a Gold Cup, que esteve sempre acima dos 36 mil de média à exceção de 2009 (34 mil), caiu para os 33 mil, depois de edições acima dos 41 mil e 45 mil (2015 e 2011); o Mundial Feminino, apesar de disputado em França, país do hexacampeão europeu Lyon e com uma centralidade privilegiada na geografia europeia, também sofreu deste mal.
Os menos de 22 mil adeptos nas bancadas estão abaixo dos 26 mil das duas edições precedentes e longe dos 37 mil de 1999 e dos 36 mil de 2007. E, sobretudo, do discurso otimista da FIFA no arranque da competição, que tanto quis anunciar lotações esgotadas que depois teve de corrigir a mira, como no jogo de estreia de Inglaterra e Escócia que, depois de ter sido dado como praticamente cheio, teve na realidade uma ocupação de um terço dos lugares.
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