Ex-adjunto de Ferguson confia em Rúben Amorim, mas avisa: "Vai ter de arrepiar caminho"
Antigo adjunto de Alex Ferguson aplaude a escolha do Manchester United, mas lembra que o técnico vai intervir num momento delicado. Disciplina, criatividade e mentalidade vencedora são qualidades apreciadas pelo trabalho em Alvalade que podem e devem ser transportadas para Inglaterra com encaixe na cultura do clube.
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A chegada de Rúben Amorim a Inglaterra não deixa ninguém indiferente, tendo à sua espera a cadeira especial que o fará alimentar os sonhos de largos milhares de fãs do Manchester United pelo mundo. O jovem técnico português vai arrastando com a sua escolha muita admiração, procura de informação, gerando simpatia por uma ideia de frescura e vanguarda. O JOGO falou com René Meulensteen, histórico adjunto de Alex Ferguson na sequência final do seu comando em Old Trafford, coadjuvando o carismático escocês de 2007/08 a 2012/13. Viveu o último título da Premier League dos Red Devils e uma era de sorrisos inesgotáveis com quatro campeonatos e uma Liga dos Campeões. O holandês conhece o historial vencedor, o ADN feito para mandar, mas também diagnostica com facilidade os problemas de uma seca prolongada e perda de protagonismo no topo da pirâmide.
Van Gaal, Mourinho, Solsjkaer e Ten Hag passaram sem sorte pelo United, pertencendo a Amorim a próxima defesa de tese de homem predestinado. Meulensteen, adjunto da Austrália nos últimos anos, dispara vários louvores para o ainda técnico do Sporting.
“Rúben traz uma nova perspetiva e uma forte perspicácia tática, o que é crucial para um clube como o Manchester United. As expectativas são elevadas, adeptos e dirigentes querem ver um regresso do clube às vitórias. Há uma exigência e uma esperança para que ele incuta disciplina, criatividade e uma mentalidade vencedora. Como novo treinador, também deve adaptar-se rapidamente à cultura do clube e às pressões que a acompanham”, assevera René Meulensteen, atualmente com 60 anos.
O neerlandês aprova a escolha feita. “O sucesso de Amorim no Sporting mostra que consegue desenvolver jogadores e construir uma unidade coesa. A sua juventude e o facto de ser altamente considerado podem oferecer uma abordagem refrescante. Ao contrário de alguns dos treinadores que o precederam, chega com uma reputação de futebol inovador e uma visão clara, que pode ter uma boa repercussão tanto nos jogadores como nos adeptos”, sustenta, atento ao que foi o legado de Amorim em Alvalade.
“Ele provou capacidade de estabelecer um estilo de jogo forte e atraente, que enfatiza o trabalha coletivo e a disciplina tática. Os seus conceitos assentam num jogo ofensivo fluido e numa estrutura defensiva sólida. É algo que pode ter impacto significativo na identidade do United”, avalia, apresentando as necessárias inquietações.
“Tal como Ten Hag, Amorim está a sair de um campeonato que não é comparável. Vai intervir num momento difícil, uma época já começada há três meses, pelo que não terá uma pré-época para conhecer os jogadores. Vai ter de correr e arrepiar caminho.”
Talvez um mentor como Ferguson
Meulensteen acredita que o estilo próprio é uma arma mas absorver essência do clube é outra...
Conhecedor privilegiado da grandeza de Ferguson, René Meulensteen escalpeliza o divórcio do clube com conquistas da Premier League, desde a saída do proeminente treinador. “Era de certa forma expectável que a transição, após Sir Alex Ferguson, fosse desafiante, dado o seu imenso legado. O clube tem enfrentado dificuldades para encontrar um técnico que possa repetir esse sucesso. A inconsistência e as frequentes mudanças de gestão têm dificultado o regresso a um desempenho de alto nível e exigirá estabilidade e uma visão a longo prazo”, expressa o neerlandês, aconselhando Amorim a falar com Ferguson.
“Embora Amorim tenha o seu próprio estilo, é crucial que possa compreender a essência do que fez Ferguson ter sucesso. Se aprender a história do clube e os princípios de Ferguson, receberá informações valiosas. Construir relações e fomentar uma cultura forte dentro do clube é essencial. Ter um mentor pode ajudá-lo a navegar nesta transição”, evidencia, procurando identificar alicerces e planos imediatos.
“Rúben Amorim precisará de ser assertivo no mercado, mas também tem de maximizar o potencial do atual plantel. Existem jogadores com atributos técnicos e mentais para terem sucesso e ele deve focar-se em desenvolvê-los. No entanto, se o plantel necessitar de reforços deverá ser proativo no mercado para trazer jogadores que se enquadrem na sua filosofia e elevem o rendimento da equipa”, defendeu.