Dos meninos desaparecidos aos que jogam na lama: "É essa a essência de Valência..."
Ricardo Costa, atual treinador do Dila Gori, da Geórgia, lembra seu passado em Valência e não esconde amargura pelas imagens que chegaram da tragédia da tempestade Dana
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Com 124 jogos pelo Valência, atuando pelo clube entre 2010 e 2014, impondo voz de capitão muitas vezes, Ricardo Costa, atual treinador do Dila Gori, terceiro classificado da Liga da Geórgia, é alguém particularmente consternado pela drama humanitário na comunidade valenciana, dando pela expressão das vítimas como pelo resto de destruição deixado numa cidade que não tem como esquecer. São inesgotáveis os pontos de contacto da calamidade com locais que marcaram uma época fantástica do atleta português na região.
"Declaro-me um valencianista pelos quatro anos maravilhosos que lá passei. Era chamado um dos 'capitanes' pela liderança que sempre impus, dando a cara pelo grupo, pelos valencianistas. Davam valor a quem era apaixonado pela cidade, era o meu caso. Vejo com dor estas notícias, porque batem-me recordações várias das ruas onde andava e passeava, do shopping ao qual tantas vez fui, da via rápida para o porto da cidade, onde fazia praia muitas vezes. É terrível estar tão longe, por razões profissionais, e não poder ajudar", lamenta Ricardo Costa.
"Enquadro-me perfeitamente na identidade das pessoas de Valência, tratou-se de um povo maravilhoso para mim. Estou sempre atento às notícias, leio os jornais espanhóis e os da comunidade, tenho amigos que lá seguem. Vi o que fizeram o Soldado e o Tino Costa, que estão a ajudar na limpeza das ruas, o exemplo do Gaya, inexcedível na procura de bens essenciais para as pessoas mais afetadas, que viram tudo o que era seu destruído ou levado pela água. Vi o próprio Valência oferecer o Mestalla para ser o centro de recolha alimentar. São muitos atos de nobreza e de coração muito digno que vou vendo. Impressionado, é alguma esperança em dias muito difíceis", documenta o antigo central, que viveu uma época bonita no clube che, mesmo com falta de títulos.
"Foram anos fantásticos, não ganhei troféus mas alcancei a conquista de um povo e uma região. Valência estará sempre no meu coração, por tantos e tantos momentos que apliquei todo o meu esforço e dedicação em prol do clube. A intensidade foi levada ao extremo e com mérito consegui ser reconhecido nas hostes valencianistas", lembra Ricardo Costa, carregando na Geórgia a dureza das informações vindas de Espanha.
"Somos bombardeados com atualizações, vi a notícia de dois meninos desaparecidos mas também vi outros a jogaram à bola em cima da lama e do barro. É essa a essência de Valência, por isso tem uma grande academia, todos adoram futebol e o clube consegue esse recrutamento de jovens muito talentosos. É uma enorme fonte de riqueza do cube, saca jogadores da rua e conseguem limar certos detalhes para os fazerem evoluir ao ponto de muitos se transformarem em estrelas do Valência", destaca Ricardo Costa, animado pelas manifestações de apoio com que o futebol também brindou uma comunidade valenciana em desespero, a gritar por ajuda, para que um pouco de luz chegue.
"Foram vários os clubes espanhóis que se apressaram a passar uma mensagem e a dar uma resposta, também vi o FC Porto assinalar o que aconteceu neste último jogo. Espero que todas as forças façam o seu trabalho, que a ajuda seja rápida à população para resolver alguns danos, já que muita coisa foi completamente arrasada. Mas há muitas ruas que precisam de recuperar a sua imagem para que a vida das pessoas possa voltar a ter algo de normal."