"Detenção nos Países Baixos foi o momento mais difícil que tive de enfrentar"
ENTREVISTA, PARTE II >> Josué rebobina relações deixadas com adeptos em vários países, o encanto da Turquia, e o pesadelo gigante que foi uma noite passada na prisão nos Países Baixos, após confrontos com a polícia, enquanto capitão do Legia num jogo com o AZ Alkmaar
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Depois de três países também conhecidos pela paixão dos adeptos, em que difere o amor do brasileiro pelo futebol de turcos, israelitas e polacos?
— Na Turquia, são realmente apaixonados e, independentemente do resultado, estão constantemente, ao longo dos 90 minutos, a apoiar e a gritar. A maneira como se vive o futebol diariamente, o respeito e adoração pelo jogador, é algo incrível no país. Já na Polónia são fanáticos a um nível que nunca vi na minha vida dentro do estádio. Foi, de longe, dos melhores ambientes que já vi e vivi alguma vez… Falo dos jogos, das coreografias, dos sinalizadores, tudo fabuloso. Aqui, no Brasil, também são igualmente apaixonados. Fiquei surpreso porque o Coritiba tem uma torcida impressionante, presente e barulhenta, e no apoio à equipa são fenomenais.
E entender, agora, um pouco mais da relação que ficou com cada país, numa já longa vida longe de Portugal?
— Gostei de viver em todos os países, mas posso dizer que a minha esposa adorou viver na Turquia. Passei por vários clubes, várias cidades, conheci vários lugares e tive sempre uma conexão ótima com o país. Na Polónia foi incrível e indescritível o que lá passei em três épocas. Tornei-me capitão e jogador de referência do maior clube polaco. Senti-me amado pelos adeptos e isso deixa qualquer um orgulhoso para a vida, por poder deixar uma marca tão forte. Mesmo depois da minha saída, é fantástico ver tanta gente a pedir regularmente para voltar.
Dá para imaginar que essa saída da Polónia, com carta de despedida e tudo, foi um momento doloroso?
—Foi, sem dúvida! A saída do Legia foi complicada. Um clube onde estava há algum tempo, fazendo temporadas muito produtivas em termos de números, sempre muito bons, de época para época. E ainda pela idolatria que existia. Tenho por todos os fãs do Legia um respeito enorme, criei uma ligação que não se apaga com todos eles. Tornou-se um clube muito especial para mim em todos os sentidos. O último jogo lá foi muito difícil, emocionalmente falando, mas, ao mesmo tempo, imensamente especial, podendo ver o amor e o carinho que conquistei, olhando e admirando todo o estádio.
“Detenção nos Países Baixos foi o momento mais difícil da vida. Até me custa recordar. Afetou-me muito!”
O momento vivido nos Países Baixos com aquela detenção em Alkmaar ainda o uniu mais ao Legia?
— Foi o momento mais complicado e mais difícil que tive de enfrentar. Não falo apenas pela carreira, alargo-o a toda a minha vida. Não gosto de recordar até porque, mentalmente, afetou-me muito, sem eu perceber o quanto, em abono da verdade. Valeu-me, obviamente, o apoio dos fãs do Legia, de todo o clube, mas também de todo o país. Acentuou-se muito o respeito que tenho pela Polónia, principalmente, o amor que sinto por todos os adeptos do Legia de Varsóvia.
A experiência em Israel foi mais turbulenta com diferentes cenários a assolarem essa passagem mas também marca 19 golos em 66 jogos pelo Hapoel Beer Sheeva?
— Apanhei duas fases muito complicadas, uma que foi o início do Covid, e outra que foi o início do conflito com a Palestina. Mas ainda joguei pela equipa na Liga Europa, conquistei uma Taça de Israel e foi bom poder estar a esse nível. Na questão da guerra tive de fechar-me num bunker e deu para sentir a normalização e organização deles para esses momentos, já sabem como lidar com os ataques. Já sobre o Covid foi difícil também porque ninguém entrava ou saía de Israel. Eu, a minha mulher e filha ficámos isolados muito tempo.