Danilo critica CBF e admite: "Estamos um passo atrás das outras potências"
Capitão brasileiro e defesa da Juventus adotou uma postura frontal sobre a sua seleção, admitindo que, neste momento, está atrás dos grandes rivais. Nesse sentido, apontou o dedo à gestão da Confederação Brasileira de Futebol nos últimos anos
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Danilo, capitão brasileiro e antigo lateral-direito do FC Porto, Real Madrid e Manchester City, que desde 2019 representa a Juventus, adotou na segunda-feira um discurso surpreendemente frontal sobre o estado atual da sua seleção.
Em conferência de imprensa de antevisão à visita do “Escrete” ao Paraguai (madrugada desta quarta-feira, à 1h30), a contar para a qualificação para o Mundial’2026, o experiente defesa, de 33 anos, admitiu que o Brasil, neste momento, não tem o mesmo nível dos seus maiores rivais, apontando o dedo à gestão feita pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nos últimos anos.
“Eu tenho uma posição bem clara em relação a isso. Separo em duas colunas: em primeiro a qualidade dos jogadores, em material humano, na qual continuamos a ser os melhores do mundo. Estou há 12 temporadas no futebol europeu e tenho a certeza do que estou a falar. A matéria prima é das melhores do mundo. Mas há uma coisa que evoluiu muito no mundo inteiro, que é a organização, o planeamento, observar o que está à frente, e nisso deixámos a desejar por algum tempo. Nos outros dois ciclos, mesmo tendo isso muito bem feito, não conseguimos vencer. Então, pensamos: ‘Se fazendo isso tudo muito bem pensado, não conseguimos vencer...”, começou por dizer.
“Neste momento, estamos um passo atrás. Tivemos muita instabilidade, nomes, treinadores, estratégia, planos, jogadores, pensou-se num caminho de renovação e não. Perdeu-se tempo em relação a isso e isso faz com que estejamos certamente um passo atrás das principais potências. Tudo isso porque o nosso conjunto não está bem feito. Digo em matéria prima, organização e planeamento. Agora sim, com o Dorival [Júnior, selecionador] desde março, as coisas entraram por um caminho que tem um planeamento bem feito. Mas está claro que depois do Mundial perdemos tempo e isso faz com que estejamos um passo atrás”, defendeu, visando a CBF num tom crítico.
Noutro âmbito, Danilo considerou que o futebol atual é mais equilibrado do que no início da sua carreira, mas refletiu sobre o impacto que o investimento económico e a evolução da tecnologia tem causado na relação entre os jogadores e os adeptos, falando num afastamento progressivo de ambas as partes.
“A minha opinião em relação a isso vai muito além da seleção. Claro que em garoto eu gostava de ver o Brasil ganhar por goleada, se fosse só 2-0 eu não ficava satisfeito. Mas o negócio futebol é incompatível com o que é o futebol na sua essência: a paixão, o amor à camisola, o drible, uma coisa mais irresponsável... Por isso, essa distância entre os que são os profissionais do futebol atual com os adeptos, com os leigos que veem à distância... Uma coisa triste é pensar que isso só vai aumentar. Quanto mais tratam o futebol assim, em números, matemática, seriedade, profissionalismo, é entender tudo isto de uma maneira muito industrial”, opinou.
“Essa distância tende sempre a aumentar. Qual a nossa maneira de diminuir isso? Entrando em contacto com adepto, com pessoas que não têm acesso a tudo isto, seja na seleção ou nos clubes. O ‘business’, o negócio futebol, tornou-se incompatível com o que é a paixão, a essência do futebol, e vai ser difícil aproximar-se como já foi um dia”, reforçou, em jeito de conclusão.
Ao fim de sete jornadas (em 18), o Brasil ocupa o quarto lugar da qualificação sul-americana para o Mundial'2026 - que apura seis países de forma direta e possivelmente outro por via de play-off - com dez pontos.