Presidente suspenso da FIFA concede entrevista a jornal francês e confessa ter sentido medo, inclusive "fisicamente", quando a polícia entrou em ação.
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O presidente suspenso da FIFA, Joseph Blatter, confessou, em entrevista ao jornal francês "L'Equipe", ter temido o pior quando a polícia deteve sete membros do organismo a 27 de maio de 2015.
"Tive a sensação de estar abandonado. Nesse dia, pensei para mim que Deus me tinha abandonado. Quando te cai tudo em cima... Foi terrível, senti que tudo desmoronava. Primeiro fiquei chateado e depois senti tristeza", revelou o dirigente suíço, que esteve 17 anos à frente dos destinos do organismo que tutela o futebol mundial.
Blatter acredita que não estaria envolvido nos alegados casos de corrupção e tráfico de influências caso o Mundial de 2022 tivesse sido entregue aos EUA, ao invés de ao Catar. "Se assim fosse, os norte-americanos não teriam razões para atacar a FIFA porque teriam o seu Mundial e hoje eu estaria a finalizar o meu último mandato", defende aquele que está prestes a celebrar, ao 10 de março, 80 anos.
Além de partilhar as suas convicções e emoções, Joseph Blatter contou alguns episódios do processo de atribuição do Mundial de 2022, como o telefonema de Michel Platini, em novembro de 2010, a informar que havia tido uma reunião com Nicolas Sarkozy, então presidente do governo francês, e com o príncipe herdeiro do Catar. Ambos queriam, relata Blatter, o Mundial no país árabe. "A partir daí percebi que seria tudo muito complicado, mas ainda tinha esperança porque havia um acordo para eleger a Rússia (2018) e os EUA (2022). Mas quando ganhou o Catar, pensei: ''vão começar os problemas'".
Em relação a Platini, o presidente suspenso da FIFA voltou a deixar algumas suspeitas no ar. "No jogo de abertura do Europeu de 2008, em Basileia, ele colocou-me o mais longe possível da tribuna de honra. Foi muito simbólico. Não disse nada, mas percebi que algo de errado se passava", conta o dirigente suíço, recordando a vontade demonstrada de Michele Platini, em maio de 2015, de vê-lo afastado da presidência da FIFA. "Ainda não sei porque queria que eu me retirasse das eleições. Perguntei-lhe mas não em respondeu. Ele disse ao meu irmão: 'Diz-lhe para não se candidatar ou terminará na prisão'. Estava a par do que iria acontecer? A história um dia o dirá."
Depois de resolvidos todos os escândalos que o envolvem, Blatter assegura ao "L'Equipe" só desejar ver a sua imagem limpa e ser convidado pelo comité da FIFA para poder se despedir honradamente.