Wilson Gottardo, capitão do último Botafogo campeão, em 1995,antes da conquista de 2024, acredita que o técnico português pondera diversas variáveis nesta altura. Mas discorre elogios a uma grande liderança e a um destacado perfil humano
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Campeão brasileiro na batuta de Paulo Autuori, com quem estivera no Marítimo, Wilson Gottardo, teve passagem fugaz por Portugal, após ter sido ator imperial no Botafogo, como capitão, dono de uma imensidão de jogos, e peça influente no título de 1995. A retoma das grandes conquistas pela Estrela Solitária, equipa que imortalizou o futebol de Nilson Santos, Didi, Garrincha, Paulo Cézar Caju ou Jairzinho, com a excelência de um trabalho português, no caso de Artur Jorge, agarrando para a galeria pouco consagradas do Fogão nas últimas décadas o troféu do Brasileirão, o terceiro, e uma inédita Libertadores. Wilson Gottardo, 61 anos, também grande figura no Cruzeiro, rende-se ao trabalho produzido pelo antigo técnico do Braga, que vive tempos de incerteza quanto à sua continuidade no Botafogo.
"A minha história no clube é única, foram sete temporadas, aproximadamente 400 jogos. No contexto da época nada se compara com o atual momento. Nessa altura, conseguimos superar tudo e todos em condições desiguais estruturalmente e economicamente. Para o adepto, uma conquista do campeonato é um misto de alívio, euforia, orgulho e o amor pela Estrela Solitária. É algo que une gerações e cria memórias que serão contadas por décadas entre os adeptos e famílias. Sementes que, semeadas no passado, continuam dando frutos", ilustra o antigo central, taxativo sobre o papel dos conquistadores da glória em 1995, onde morava essa temível dupla de Donizete e Túlio Maravilha.
"Com orgulho e gratidão posso dizer que só Deus sabe dizer onde a instituição estaria sem nossas lutas e conquistas!", defende Gottardo, muito elogioso para a assinatura portuguesa nesta excitante aventura dos cariocas em 2024, selada com chave de ouro, ajudando a esquecer a carga dramática de 2023. "Definitivamente Artur entrou para a história do clube, solidificou seu nome entre os melhores. Mesmo com grande investimento financeiro feito pelo John Textor foi necessária muita habilidade estratégica e liderança. Ele soube unir o potencial técnico do elenco com um espírito coletivo de superação. Não posso deixar de endereçar os parabéns a todos os departamentos que transformaram o Botafogo num conjunto competitivo e temido", destaca Wilson Gottardo, situando os méritos de Artur Jorge na longa temporada brasileira, mantendo a equipa fresca na mente e no corpo por dois objetivos gigantes.
"Além dos conhecimentos que envolvem um jogo, acredito que sua liderança e caráter selaram sua ótima temporada de 2024", desvenda, sem conseguir clarificar um destino seguro do técnico para a próxima temporada. Adorado no universo do Fogão, Artur Jorge ainda expressou ontem, em Portugal, ao ser condecorado, tranquilidade para continuar ao leme de um clube extremamente popular e singular "Tenho o hábito de dizer que os bons trabalhos 'derrubam técnicos' na ótica de os levarem para cima. Ele receberá, certamente, propostas milionárias de grandes clubes de outros continentes. É um momento muito pessoal em que merece ouvir a sua família por tamanha decisão e avaliar num todo a possível mudança de ares!", explica Gottardo, que até foi adversário de Artur Jorge na Liga Portuguesa.
Sobre a ascensão do técnico português no Brasil, prestígio alavancado por esse abraço à Libertadores dado por Jorge Jesus, Abel Ferreira e Artur Jorge, o antigo central é mais comedido. "Outros estiveram aqui com desempenhos pífios. Acho que o português como qualquer técnico estrangeiro, incluo argentinos e uruguaios, acaba por merecer mais oportunidades e maior condescendência da imprensa que os nativos. Eventualmente também importaremos os comentadores portugueses e decidiremos quem são os melhores!", ironiza Gottardo, atento ao dossiê do treinador do Botafogo para 2025. "O Artur é pessoa acima da média, sabe e entende que antes do profissional vem o lado humano de cada um. Nunca haverá um profissional acima da pessoa e, como tal, os profissionais são substituíveis, as pessoas não."