Aguero recorda infância na Argentina: "Pessoas serem baleadas era normal"
Antigo avançado do Atlético de Madrid, Manchester City e Barcelona recordou os perigos que enfrentava no bairro onde cresceu
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Sergio Aguero encontra-se a filmar um documentário sobre a sua carreira em Cannes, França, e falou nesse âmbito com o jornal The Guardian, aproveitando para revelar que o seu pai sempre evitou elogiá-lo, tendo esperado pela sua retirada forçada dos relvados, em 2021, por problemas cardíacos, para lhe dizer que era “o melhor jogador que já tinha visto”.
“Eu perguntava ao meu pai porque nunca dizia que eu tinha jogado bem. Ele dizia que não queria que eu pensasse que era o melhor e ficasse convencido. Ele pensava que estava a impedir-me de perder a cabeça. Ele ficava sempre zangado comigo depois dos jogos e também não queria que mais ninguém dissesse que eu era bom. Até queria controlar os meus amigos. O meu pai e eu sempre nos demos bem, depois mal, depois bem outra vez.... Irritávamo-nos um ao outro, mas ele é meu pai e irei sempre amá-lo de forma igual. O documentário foi em parte para responder a porque é que ele dizia aquelas coisas, porque me criou daquela forma”, começou por explicar o antigo avançado do Independiente, Atlético de Madrid, Manchester City e Barcelona, de 36 anos, vencedor de uma Copa América pela Argentina, que representou em 101 ocasiões (41 golos).
“As pessoas já conhecem a minha história no futebol, queria contar-lhes agora como vivi, a minha jornada pessoal, para que vissem o sacrifício. Quando eu era miúdo pensava: ‘Ah, [ser futebolista] é muito fácil, estes gajos nunca treinam, só coçam os tomates’. Não. É fundamental teres pessoas ao teu lado e, no meu caso, foi o meu pai. Ele era muito rígido mas, no final, se não o tivesse sido, o que teria sido da minha vida?”, prosseguiu Aguero, que marcou um total de 426 golos em 786 jogos na carreira, sendo o máximo goleador da história do City, com 260, e dono de uma estátua no Etihad.
Campeão de cinco Premier Leagues, Aguero revelou assim que a rigidez do pai também se deveu muito aos perigos que enfrentava no bairro Los Eucaliptus, em Quilmes, onde cresceu na Argentina.
“As pessoas têm de ver isto a partir do outro lado. O que teria acontecido se ele não tivesse puxado por mim? Em bairros como o meu, havia muito vício, muitas drogas. Eu passeava por túneis e cheirava a marijuana. Eu não sabia o que era, mas quando dizia ao meu pai, ele ficava chateado: ‘Onde?’. Três pessoas serem baleadas era normal, mas agora pensa-se nisso e não é normal. Eu andava por ali e tudo o que queria era jogar futebol, mas os sarilhos em que me podia meter eram muito perigosos”, recordou.
“Descobri mais tarde que os meus pais tinham dificuldades (financeiras). Não é fácil escapar, o bairro consome-te, engole-te. Eu saí de casa aos 12 anos e lembro-me de visitá-los um ano depois, o rapaz que vivia ao meu lado estava num mau estado, tinha sido detido algumas vezes. Eu não conseguia acreditar, costumávamos jogar futebol juntos”, completou "Kun".