ENTREVISTA, PARTE II - Numa análise ao regresso do campeonato português, que acompanha, Rui Pedro, jogador do Diósgyor, explica que FC e Benfica vão perder mais pontos por haver mais igualdade com as outras equipas nos índices físicos.
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Formado no FC Porto, Rui Pedro assume ser "portista", segue com atenção a I Liga portuguesa e assistiu ao duelo com o Famalicão e ao do Benfica com o Tondela. E não tem dúvidas em salientar que ambos os candidatos ao título terão dificuldades em impor a intensidade de jogo a que estavam habituados neste recomeço competitivo.
A I Liga portuguesa já regressou, que análise faz?
-Acho que tanto o FC Porto como o Benfica vão perder muitos pontos, mais do que perderiam se o campeonato não tivesse parado. Esta paragem vai afetar mais os grandes. Depois da derrota com o Famalicão, já estavam a dar o FC Porto como "morto" e o Benfica voltou a empatar. Temos o FC Porto e o Benfica a perder pontos como nunca se viu.
Porque aponta para essa quebra dos grandes?
-Porque os níveis de índices físicos dos jogadores vão estar praticamente iguais, nenhuma equipa vai estar melhor do que a outra. Os grandes têm mais qualidade técnica, mas FC Porto e Benfica não vão conseguir implementar a intensidade normal que têm, nem o ritmo alto, nestas primeiras três ou quatro jornadas. Isso ajuda as equipas mais pequenas, ou com menos qualidade, se jogarem com um bloco baixo. Por exemplo, o Tondela só defendeu e o Benfica não conseguiu impor o ritmo a que estava habituado. No FC Porto notei que na primeira parte estava com força, mas a partir dos 60 minutos já não conseguia, tinha dificuldade, o que é normalíssimo. Depois, há o fator casa. Sem público, a sensação é que os grandes não jogam em casa e isso tem uma influência enorme. FC Porto e Benfica conseguem encher estádios e isso empurra, ajuda a equipa, mas neste momento não têm isso. Isso já se notou no Benfica com o Tondela.
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Na sua opinião quem vai ganhar o campeonato?
-Acho que vai ser o FC Porto. Mas continuo a dizer que vão continuar a perder muitos pontos e vai ser até à ultima jornada. Só aí se vai saber o campeão.
"Aqui paga-se muito bem"
Rui Pedro não está arrependido de ter rumado à liga húngara e aconselha outros compatriotas a explorar este mercado.
Esta é a sua terceira época na Hungria, qual o balanço?
-Já passei por alguns momentos maus. No meu primeiro ano no Ferencváros [2017/18], devido a uma lesão e às restrições de estrangeiros - éramos 16 e só podiam ser inscritos dez -, perdi a motivação e até pensei deixar o futebol, apesar de ter sido campeão. Foi o momento mais baixo. Agora, há ano e meio que jogo a bom nível, estou otimista e tenho contrato até 2021 com o Diósgyor.
E depois, qual o futuro?
-Gostaria de regressar a Portugal, mas não penso muito nisso. Vou analisar, mas aqui sou reconhecido, é um bom mercado para mim.
Na Hungria, os salários compensam?
-Para mim compensam muito e o nível de vida é igual a Portugal. Para se ter a noção, com 29 anos fiz o melhor contrato da carreira. Este país deu-me tudo e estou muito feliz.
É um cenário animador, mas é o único português na liga húngara. Porquê?
-Não entendo. É um país que paga muito bem. Em temos de salários é o país mais cumpridor por onde passei, nunca vi. Em temos de organização é como a Alemanha, não falha um dia. Não entendo como não há mais portugueses. Vejo portugueses a ir para todo o lado menos para aqui, não entendo. É um mercado que podiam explorar um pouco mais.
Qual o objetivo no Diósgyor, quinto classificado do campeonato?
-Faltam sete jogos e estamos acima das expectativas. O clube estava a desinvestir, era último, mas contratou-me a mim, a mais três jogadores, e o treinador. O objetivo era a manutenção e agora estamos a cinco pontos do terceiro lugar, que dá acesso à Liga Europa. É o que almejamos.