"Já ajudava o FC Porto ou o Benfica jogarem com 10 a 15 mil adeptos no estádio"
ENTREVISTA - Rui Pedro já voltou a jogar com público nas bancadas e considera que as medidas aplicadas pelos magiares podem servir de exemplo para outros países que também lutam contra a covid-19.
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Rui Pedro está há três anos na Hungria, país que já permitiu a realização de uma jornada da Liga e a final da Taça com algum público nas bancadas em plena luta contra a covid-19. E o médio do Diósgyor acredita ser possível ter estádios cheios até ao fim do campeonato porque todos cumprem as regras de distanciamento, algumas indicadas com recurso a fita adesiva.
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Como explica o facto de já haver adeptos nos estádios húngaros?
-Nós estávamos preparados para jogar sem adeptos, numa quinta-feira disseram que podíamos jogar com 25 a 30 por cento da lotação e no sábado já estavam as leis prontas para que se jogasse em segurança. A Hungria é um país muito organizado e disciplinado, as leis são cumpridas à risca e foi fácil implementar as regras.
O que levou a essa situação?
-Antes do campeonato ser retomado, o Ferencváros fez dois jogos em atraso sem adeptos, mas depois o presidente da federação disse que se podia ter até 30 por cento de fãs. Isso organizou-se assim: cada adepto comum estava numa cadeira e ao seu lado direito e esquerdo tinha duas cadeiras vazias, à sua frente e atrás uma cadeira vazia. Foi assim que nós no Dyósgyor jogámos em segurança e a final da Taça também, com a dez a 15 mil adeptos.
Mas na final da Taça os adeptos não cumpriram o distanciamento...
-Foi um caso atípico, porque as claques foram para o jogo e tornou-se mais difícil controlar o distanciamento. No caso da minha equipa, quando jogámos em casa foi tudo cumprido, não houve problemas. Até há um vídeo de um senhor a dar um beijinho à esposa e cada um a sentar-se em cadeiras separadas. Foi muito engraçado. Sei que para um adepto comum, ver o jogo na liga não é difícil, tendo em contra o sistema que montaram de fitas adesivas nas cadeiras a impedir que alguém se sente nelas.
A medida do distanciamento com fitas aplica-se em todos os estádios?
-Nos outros não sei, mas no estádio do Diósgyor é à base de fitas adesivas. Acho que são três cadeiras com fita adesiva de distanciamento entre cada pessoa. No meu jogo correu tudo lindamente e vai continuar. Estranho vai ser não levantarem as restrições daqui a umas jornadas. Nós estamos a contar que daqui para a frente os estádios vão estar cheios.
"É importante perceber o contexto da pandemia neste país. É um dos que tem menos casos [n.d.r. 539 mortes] e é mais fácil implementar uma lei de distanciamento aqui do que noutro com maior taxa de contágio"
Já há indicações de dirigentes nesse sentido?
-Não, mas é o que se fala. Aqui começam a impor as leis aos pouquinhos no futebol e nós prevemos que mais tarde ou mais cedo isso vai acontecer. Mas também é importante perceber o contexto da pandemia neste país. É um dos que tem menos casos [n.d.r. 539 mortes] e é mais fácil implementar uma lei de distanciamento aqui do que noutro com maior taxa de contágio.
Portugal pode seguir esse exemplo?
-Em Portugal, não acredito que implementem as regras como aqui porque o contágio é mais elevado.
Nem só 25 % da lotação?
-Com as mesmas medidas que há aqui, seria possível e não haveria problemas, acho é que não vão fazer isso devido ao elevado contágio em Portugal. Era muito bom, pois a equipa que joga em casa, se o faz sem adeptos, ressente-se. Perde o fator casa, esse fator tão importante que empolga as equipas muitas vezes. Mas aqui os adeptos são mais disciplinados e organizados. Acredito que Portugal podia olhar para um país como a Hungria, que conseguiu, com sucesso, ter adeptos e em segurança, e fazer parecido. Para o FC Porto ou o Benfica jogarem com 10 a 15 mil adeptos no estádio já era alguma ajuda. Portugal devia seguir o exemplo da Hungria, insisto. Faltam sete jornadas e se tudo correr bem é possível acabar a liga com estádios cheios. É importante para nós porque sentimos que a normalidade regressa.