Como a mesma situação pode ditar resultados tão diferentes: respeito e intolerância
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A semana que agora termina trouxe para o palco mediático duas histórias centradas no hijab - o véu islâmico.
As duas situações não poderiam ser mais distintas.
A que recolheu elogios, genericamente falando, passou-se há já ano mas, por algum motivo, só agora se tornou viral. Numa competição asiática de futebol feminino, o hijab de uma jogadora do Amman Club soltou-se durante uma jogada. De imediato, cinco futebolistas do Shabab al-Ordon Club rodearam a adversária para que esta se pudesse recompor à vontade. Poucos segundos depois, o jogo prosseguiu.
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O outro caso é efetivamente mais recente, mas os contornos são negativos. Noor Abukaram, atleta de 16 anos, bateu o recorde pessoal nos cinco mil metros numa competição do Ohio, EUA. Mas ficou surpreendida ao ver que o seu nome não aparecia nos quadros dos resultados. Só então foi informada que foi desqualificada por causa do uso do véu, pese embora Noor ter utilizado um especificamente concebido para a prática desportiva.
Não havia qualquer alínea no regulamento que a impedisse de correr com o hijab. Nenhum juiz, nas inspeções e verificações antes da prova, fez referência ou reparo - ao contrário do que fizeram com outra concorrente, por exemplo, que foi informada que teria de trocar os calções para um exemplar enquadrado nas regras. Noor também já tinha realizado diversas corridas e o hijab nunca fora assunto. Só ali. No final daquela corrida.
Podemos questionar e debater a utilização do véu, defender o fim da obrigação, sensibilizar para essa ideia. Está claro que é uma forma de opressão dirigida às mulheres.
Mas também é evidente que ações como aquela que invalidaram o esforço de Noor Abukaram têm zero de utilidade e bom senso, até porque falha logo na ausência de sustentação regulamentar.
As jogadoras do Shabab podiam não concordar com a obrigação de utilizar o hijab, mas naquele momento tratou-se apenas de simples e genuíno respeito pela posição do outro, pelas crenças do outro, mesmo que não sejam as nossas.
Qualquer que seja a mudança, terá sempre de partir deste princípio.