Metade dos oito apurados na Champions são equipas inglesas. São as que menos descansam e, por maioria, provam a maior competitividade da sua liga face às restantes. Entre os emblemas ainda em prova e que menos repousam está o FC Porto, com 43 jogos oficiais. Alemães até têm pausa de Natal, mas caíram todos.
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Ingleses jogam mais vezes e descansam menos tempo, mas têm quatro equipas nos oitavos da Liga dos Campeões. Entre os oito favoritos, o FC Porto é a quarta equipa com mais jogos oficiais (43) desde o início da temporada, mais três do que o Liverpool, o seu próximo adversário na prova. Para trás, ficaram favoritos de campeonatos mais "relaxados", como a Alemanha e a França. Tudo isto numa altura em que se discute a calendarização e o descanso (menos jogos no inverno) como fator de competitividade. Será mesmo assim?
Comparando essas duas realidades - Premier League e Bundesliga -, os três emblemas alemães tinham todos menos jogos que o quarteto inglês.
Costuma dizer-se que há sempre vantagens nos detalhes e um dos maiores detalhes no futebol é a gestão dos tempos de descanso. Porém, num "raio x" ao número de jogos dos oito sobreviventes da Liga dos Campeões (à data da passagem aos quartos de cada um), conclui-se que, entre os favoritos ao título, ficaram as equipas com mais jogos disputados desde o início da atual temporada, contando com campeonatos, taças federativas, taças das ligas (onde as há), competição europeia e supertaças (nacionais ou internacionais).
Olhando para a comparação mais numerosa e evidente, a diferença do descanso entre os quatro ingleses ainda na luta pelo título continental face aos alemães é grande: os britânicos tinham mais jogos disputados que os alemães. Comparando essas duas realidades - Premier League e Bundesliga -, os três emblemas alemães tinham todos menos jogos que o quarteto inglês (ver lista completa abaixo): Borússia de Dortmund (39 jogos), Bayern Munique (37) e Schalke 04 (36) "versus" Manchester City (48), Tottenham (44), Manchester United (42) e Liverpool (40). De realçar, ainda, que estamos a falar de um campeonato, o alemão, que, tal como o francês, tem uma pausa por alturas do Natal, ao contrário do inglês, onde nem existe a regra do descanso de 72 horas entre partidas de alta competição.
A questão da competitividade, portanto, não se resume a aspetos de calendarização como as pausas e períodos de descanso. Terá mais a ver com os modelos de gestão dos emblemas e, por aí, na capacidade financeira dos mesmos para se prepararem para uma campanha intensa como o são as várias frentes de batalha, internas e internacionais, contando com outros fatores ponderáveis, como cedência de internacionais às seleções (e os emblemas mais fortes têm sempre mais internacionais de todo o mundo), ou imponderáveis, como lesões.
Mas tudo acaba por entroncar na questão financeira, na medida em que, mais do que os descansos previstos nos modelos de calendarização, a diferença entre orçamentos dos vários competidores acaba por ter um peso considerável, apesar dos "corpos estranhos" que são o FC Porto e os holandeses do Ajax. Se bem que isso já se sentiria nas contas dos oitavos de final, com as grandes potências a somar presenças: Inglaterra (4), Alemanha e Espanha (3), Itália e França (2), Portugal e Holanda (1).
Refira-se, a propósito, que até na Liga Europa já só resta um emblema germânico, precisamente o Eintracht de Frankfurt, o próximo adversário do Benfica na fase seguinte da prova.
A queda abrupta na Champions (três equipas eliminadas de uma assentada nos oitavos), que não ganham a prova há seis épocas, e até ao nível das seleções (eliminados na fase de grupos do último Mundial) deixou os germânicos em alerta vermelho, conforme ontem afirmou publicamente Jurgen Klinsmann, ex-internacional e antigo selecionador da Alemanha. Para ele, o conceito de desenvolvimento de talentos na Alemanha está em causa, tal como o modelo de negócio.
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É que, para Klismann, "tudo é importante, mas existe a regra dos 50+1 [a maioria das ações dos clubes tem de estar nas mãos dos seus sócios] vem da velha ideia de clube. Mas só se consegue obter dinheiro de investidores se estes tiverem uma palavra a dizer". Que é como quem diz, se as regras (caseiras, do fair-play financeiro ou dos mecanismos de solidariedade da UEFA) não resolvem as dicotomias, então há que se procurar, sem descanso, uma fórmula que não os deixe - aos alemães - descolar das ligas da Inglaterra e da Espanha, bem mais fortes a esse nível.