A European Leagues vai subir o tom da contestação à ECA e à UEFA, que ponderam elitizar a Liga dos Campeões. Assembleia Geral de sexta-feira, em Lisboa, servirá para marcar posição das ligas nacionais. A O JOGO, um dirigente do organismo europeu garante: "Estamos mais unidos que nunca na defesa das competições nacionais". Contam, para isso, com as ligas mais importantes, nomeadamente a inglesa e a espanhola. E têm proposta para aumentar fundos solidários.
Corpo do artigo
O contra-ataque à "Super Champions", modelo que é defendido pelos clubes de maior dimensão europeia sob a égide da ECA (Associação Europeia de Clubes) passa por Lisboa, mais exatamente pelo Estádio do Sport Lisboa e Benfica, onde sexta-feira se realiza a Assembleia Geral da European Leagues, associação que congrega 32 ligas de 25 países, onde estão representadas as competições que agregam alguns dos emblemas que revelam interesse em elitizar a Liga dos Campeões a partir de 2024.
Em declarações a O JOGO, Alberto Colombo, secretário-geral adjunto da European Leagues, confirmou que o organismo, ao qual também pertence a liga portuguesa, "irá levantar a voz" contra as alterações que a ECA se prepara para apresentar à UEFA, reforçando a ideia de que "as ligas estão mais coesas e unidas que nunca na defesa e proteção dos campeonatos domésticos". Refira-se que há cinco emblemas portugueses representados na ECA: FC Porto, Benfica, Sporting, Braga e Marítimo.
1113357830709481472
A possibilidade de transformar a Liga dos Campeões numa competição cujo acesso seria ainda mais fechado e com critérios favoráveis ao poder financeiro e histórico de cada emblema está a preocupar os responsáveis e gestores das ligas domésticas, sabendo-se que a própria UEFA está sensível à necessidade de transformar a sua principal marca num produto que, aproveitando a expansão global de que já beneficia, gere ainda mais receitas em função do peso dos competidores, sobretudo com os direitos de transmissão televisiva.
O assunto entrou na agenda, de forma mais consistente, desde o passado dia 26 de março, quando Andrea Agnelli, presidente da Juventus, que é também líder da Associação Europeia de Clubes, anunciou que a assembleia Geral da ECA mandatou os seus dirigentes para "iniciar conversações para renovar a Champions a partir de 2024".
1113358804069040128
"A European Leagues está atenta e a monitorizar o debate em curso, promovido pelos maiores e mais ricos emblemas da Europa, para reformar as competições continentais entre clubes a partir de 2024, com a bênção da UEFA", refere Colombo, sustentando que as ligas europeias se têm "oposto consistentemente à criação de uma superliga mais elitizada ou até fechada". Ou seja, as ligas onde atuam os principais emblemas: Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha. As frentes de batalha estão espalhadas pelo continente.
Para este responsável, a reunião magna de Lisboa marcará o tom da oposição à ECA, onde estão representados : "As ligas defendem os valores básicos do modelo desportivo europeu, baseado nos méritos desportivos, acesso definido em pirâmide estrutural com todos os clubes na base da sua estrutura e em que todos os clubes podem sonhar em atingir o topo". E, em resposta a rumores de que UEFA estaria a ponderar, no âmbito do protocolo estabelecido com a ECA, em fevereiro, a European Leagues "reitera que as competições domésticas devem ser jogadas aos fins de semana."
"A paixão dos adeptos pelo futebol está assente nas competições locais e nas suas tradições, nomeadamente nas idas aos estádios juntamente com as suas famílias e amigos, aos sábados e domingos. As ligas defendem os atuais calendários, que garantem o devido equilíbrio entre as ligas domésticas e o futebol europeu", defende o dirigente.
"As ligas acreditam que é vital o incremento dos mecanismos de solidariedade de modo a salvaguardar os sonhos de todos os clubes, e não apenas os sonhos de poucos, dos mais ricos"
A dimensão do debate escalou e o próprio New York Times, diário norte-americano de referência, dá conta do mesmo numa das suas edições desta semana, titulando: "na Europa, ganha forma uma batalha entre os maiores clubes e as ligas nacionais". E, tal como O JOGO já havia noticiado, em outubro passado, a European Leagues tem uma proposta diametralmente diferente: retomar os critérios meramente desportivos no acesso às três competições a partir de 2021, já a contar com a Liga Europa 2, de forma a impedir a elitização crescente desde que entrou o critério histórico, e a reforma dos mecanismos de solidariedade.
Aliás, sobre esta última matéria, a European Leagues reitera a sua convicção de que é "fundamental a introdução de um modelo mais justo de redistribuição de forma a proteger e desenvolver o equilíbrio financeiro e competitivo nas competições nacionais", refere Alberto Colombo, confirmando que esse será, também, assunto a debater na 38.ª assembleia geral da associação, liderada pelo dinamarquês Lars-Christer Olsson.
Por isso, apresentaram uma proposta na UEFA, ainda não debatida, que visa o modelo de distribuição financeira, baseado em três pilares:
1. Diminuição do rácio entre as três competições europeias (já a contar com a Liga Europa 2);
2. Remoção do coeficiente histórico na distribuição das verbas (que os títulos há muito conquistados deixem de contar, por exemplo);
3. Aumento das taxas de solidariedade destinadas às ligas caseiras e aos clubes não participantes (Portugal costuma receber cerca de quatro milhões anuais, distribuídos pelos clubes não participantes nas fases de grupos das duas competições).
"As ligas acreditam que é vital o incremento dos mecanismos de solidariedade de modo a salvaguardar os sonhos de todos os clubes, e não apenas os sonhos de poucos, dos mais ricos, de modo a que dos desempenhos se façam num justo ambiente de competição", conclui.