ZOOM - Ligas europeias querem diminuir "cativos" dos quatro grandes na Champions
A EL (European Leagues), associação das ligas europeias de futebol profissional, quer propor à UEFA um conjunto de alterações à Liga dos Campeões, que passa pela redução de quatro para três das vagas cativas dos campeonatos melhor classificados: Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália. Quer, também, distribuição mais solidária das receitas. Tudo isto a partir de 2021, ou seja, no final do atual ciclo. Motivação: proteger as ligas caseiras e o balanço económico e competitivo no futebol do Velho Continente.
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A European Leagues, que congrega 32 campeonatos de 25 países (Portugal incluído), vai propor à UEFA a revisão dos atuais critérios de acesso à Liga dos Campeões e Liga Europa, assim como os critérios de distribuição de receitas financeiras, com efeitos a partir do próximo ciclo competitivo, o triénio 2021-24.
Membro efetivo, desde 2017, do Comité Executivo do organismo que tutela o futebol europeu, a EL não está satisfeita com os critérios do atual ciclo das competições e considera "urgente" garantir mais justiça no acesso e na distribuição das verbas milionárias das duas competições, tudo para não quebrar o equilíbrio competitivo nas ligas caseiras e, por consequência, no futebol europeu.
Para já, a EL quer reduzir para três o número de vagas permanentes do quarteto composto pelas federações melhor classificadas no ranking "uefeiro": Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália, que têm direito a quatro vagas, no ciclo 2018-21.
Caso esta proposta seja aceite pela UEFA (que se pode pronunciar sobre o assunto em dezembro), dependendo dos critérios a implementar - se de alguma forma se assemelharem aos que vigoraram anteriormente -, Portugal poderá reconquistar o direito a duas vagas diretas na fase de grupos.
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Mas, para isso, claro, os clubes portugueses devem contribuir para a classificação no critério por países/federações. Que é como quem diz, convém que pontuem sempre o mais possível.
Sendo assim, a EL propõe três critérios de acesso:
1. Que a participação de cada clube esteja baseada no último desempenho na sua liga principal, sendo que as únicas exceções sejam os vencedores da Liga dos Campeões e Liga Europa;
2. Que um mínimo de 36 campeões (aproximadamente dois terços da lista de acessos) faça parte das fases de grupo das duas competições;
3. Que o máximo de acessos diretos à fase de grupos da Liga dos Campeões seja três por cada federação/país, mais um nos play-off e fase de qualificação.
O que é de realçar em tudo isto é que estas propostas incluem o apoio das próprias ligas profissionais mais poderosas, nomeadamente da espanhola, com o seu presidente Javier Tebas no comando do combate ao desequilíbrio competitivo no Velho Continente.
Atual ciclo foi anunciado em 2016
Quando, no verão de 2016, a UEFA anunciou as alterações no processo de acesso às competições europeias no ciclo 2018-21, nomeadamente os lugares disponíveis para as várias federações, uma maior importância dada ao coeficiente histórico definiu um critério mestre: as quatro federações melhor pontuadas garantiram quatro emblemas na fase de grupos.
Ora, se a fase de grupos manteve os mesmos 32 emblemas na disputa do acesso aos oitavos de final, tal implicou, no imediato, um ajuste (para menos) entre os clubes de federações que não as da Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália, um quarteto "cimentado" pela maior importância do coeficiente histórico, que até de fora deixou a França, por exemplo.
De realçar que estas propostas incluem o apoio das próprias ligas profissionais mais poderosas, nomeadamente da espanhola.
Portanto, quaisquer cálculos em vigor estão sempre condicionados pelo critério base: quatro equipas garantidas dos quatro países melhores classificados no ranking, que foram, no início desta temporada, Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha.
Seguem-se os dois primeiros classificados de França e Rússia e apenas os campeões de Portugal, Ucrânia, Bélgica e Turquia. A este total de 24, somam-se o vencedor da prova do ano anterior e o vencedor da Liga Europa, ambos com direito ao lugar na fase de grupos.
A juntar a estes 26, há seis vagas a disputar em três pré-eliminatórias, sendo que uma está aberta ao segundo classificado português, pelo menos enquanto estivermos nos primeiros dez mehores do ano.
Portanto, há uma decisão política que define o número de equipas dos quatro primeiros e tudo o resto é mais ou menos cálculo, melhor ou pior equação, mais ponto ou meio ponto para garantir combatividade nos lugares abaixo. É essa decisão política que a European Leagues, presidida por Lars-Christer Olsson, quer ver discutida e revista na UEFA.
Como se pode confirmar, não foram apenas os desempenhos melhores ou piores dos emblemas portugueses nas épocas anteriores que determinaram a perda de um lugar cativo na Champions, mas tão-só os cálculos a partir da premissa dos quatro cativos para cada um dos quatro primeiros.
Junta-se a isto o número total de clubes nas duas competições europeias (os primeiros quatro conseguiram meter sete equipas e a França e a Rússia tiveram seis - Portugal meteu cinco, mas já só sobram FC Porto, Benfica e Sporting), mais os pontos que cada um poderá vir a fazer e percebe-se que é monstruoso o risco de descolagem economica e desportiva do quarteto da frente.
A Champions vale sempre mais (mediática e economicamente) com a presença massiva dos emblemas ingleses, espanhóis, italianos e alemães.
Para manter o conceito de equilíbrio económico e competitivo (Competitive Balance) que é a principal preocupação da associação das ligas profissionais europeias, é importante diminuir o fosso que os atuais critérios estão a intensificar.
Os critérios económicos, claro, terão pesado na cativação de quatro vagas para os quatro campeonatos mais pontuados (já se si mais poderosos), pois uma Champions vale sempre mais (mediática e economicamente) com a presença massiva dos emblemas ingleses, espanhóis, italianos e alemães.
Mas, claro, todo o restante continente passa a ser uma segunda divisão do futebol profissional e o impacto socioeconómico, a que se junta o desequilíbrio desportivo e competitivo politicamente assumido, podem rebentar, segundo as ligas profissionais, com o ecossistema da indústria, provocando falências em catadupa nos países com menos poder futebolístico.
Por isso, apresentam também uma proposta que visa o modelo de distribuição financeira, baseado em três pilares:
1. Diminuição do rácio entre as três competições europeias (já a contar com a Liga Europa 2);
2. Remoção do coeficiente histórico na distribuição das verbas (que os títulos há muito conquistados deixem de contar, por exemplo);
3. Aumento das taxas de solidariedade destinadas às ligas caseiras e aos clubes não participantes (Portugal costuma receber cerca de quatro milhões anuais, distribuídos pelos clubes não participantes nas fases de grupos das duas competições).
Por fim, a proposta da EL prevê ainda a reserva dos fins de semana para as competições caseiras, à exceção da final da Liga dos Campeões.