Yaremchuk com mental coach para explodir em 2022/23: "Poderá estar a sofrer..."
SAD confia que o avançado, agora ajudado por um mental coach, vai explodir em 2022/23. Ricardo Porém, psicólogo desportivo, explica a O JOGO que as expectativas altas podem ter minado em 2021/22. Saída de Darwin pode ajudar, mas há outros obstáculos.
Corpo do artigo
Com a saída de Darwin... ganha Yaremchuk. O avançado vai ser aposta forte para 2022/23 e a estrutura do Benfica acredita que o ucraniano vai justificar o investimento avultado na época passada, quando os encarnados pagaram 17 milhões de euros ao Gent por 75% do passe. O Benfica confia na capacidade de recuperar a veia goleadora do jogador, que marcou 61 golos ao serviço do clube belga em quatro anos, tendo ficado aquém das expectativas nas águias em 2021/22, época na qual fez nove tentos.
A falta de confiança é, no entender dos encarnados, o problema a resolver e o psicológico do atleta é alvo de escrutínio, tendo sido, naturalmente, afetado pela invasão da Rússia à Ucrânia. Ainda assim, e em paralelo à expectativa diretiva, o próprio jogador está empenhado em dar a volta ao texto. Nesse sentido, segundo apurámos, começou a trabalhar recentemente e por iniciativa própria com um mental coach, um especialista do seu país na área em questão.
O JOGO procurou perceber as estratégias que poderão ser usadas para retirar o maior proveito do avançado, conversando com Ricardo Gomes Porém, psicólogo de Desporto.
"É preciso estabelecer uma aliança com o atleta, que o jogador perceba que esse psicólogo não vai correr a contar as coisas ao presidente. Sem conhecer o caso em questão, o Yaremchuk poderá estar a sofrer por uma questão de expectativas, por ter a família em perigo, por exemplo. Depois da avaliação direta pode chegar-se à conclusão que tem um problema estrutural, que poderá não estar tão bem enquadrado devido às relações sociais", principia o profissional que militou na estrutura profissional do Benfica e também no Sporting, neste último sob a égide de Frederico Varandas, que liderava o departamento clínico.
Chamando a atenção para a necessidade de avaliar o sono, o stress e a desmotivação, Ricardo Porém assinala que a primeira época na Luz pode ter sido prejudicada pela presença de Darwin.
"Quando se alicia um atleta criam-se expectativas. Depois, ele chega e tem um Darwin... se não existir estrutura de suporte junto aos colegas, porque a família está mais longe, a resiliência não será tão grande. Se começa a correr tudo mal e as expectativas eram elevadas então começa a não haver resposta; podes esforçar-te, é muito importante para trabalhar as expectativas para quem não teve sucesso, se começar a correr tudo bem, mas se alimentar expectativas muito elevadas começa a não dar resposta", assinala, lembrando que "o stress pode ter um impacto negativo no jogo" e que o jogador pode ficar "tenso quando as primeiras jogadas não correm como planeado".
Daí que Ricardo Gomes Porém vinque a importância da boa relação com os colegas. E a língua pode ser um impedimento: "É um desporto coletivo. Além do talento individual existe a sinergia, podemos ter 11 elementos fantásticos, mas a coesão tem impacto no rendimento. Deixas de ter a família, numa cultura diferente... É preciso ter âncoras no plantel, encontrar perfis de jogadores que ajudem na integração".
Portanto, um segundo ano no Benfica terá sempre benefícios para Yaremchuk?
"Espera-se sempre que a adaptação seja diferente, que o segundo ano seja melhor, mas se não existirem mudanças de expectativas ou de trabalho individualizado do atleta é difícil a mudança. Ao ver o Darwin, que melhorou de um ano para o outro, pode ver-se um melhor Yaremchuk, mas há que ver a situação do Benfica, os anos de insucesso, a possível aposta na formação que lhe poderá tirar espaço e que até pode convencê-lo de que não tem futuro no clube. E tem um novo treinador, o que fará com que seja o primeiro ano, no fundo, pois vai ter de adaptar-se a novos métodos", explica, adiantando que um modelo tático com um ponta de lança até lhe possa ser benéfico.
O desporto como escape para dar a volta ao texto
Jogar futebol para galvanizar um país em guerra pode ser um bálsamo positivo. "O desporto é um escape interessante, pois há foco na atividade profissional. Acredito que durante o jogo o resto, a guerra, não entra nessa bolha , mas pegar nessa força que virá do país para os treinos é irrealista. Às vezes há uma força suplementar, por um momento, devido a uma morte de um familiar, mas nunca será uma situação benéfica. Cada indivíduo tem 19 "drivers" motivacionais. Alguns conseguem colocar a bolha perante problemas gravíssimos, para outros é só mais um peso", termina o especialista.
Posição de alta pressão explorada por... Pepe
"A cobrança ao ponta de lança é sempre grande. São indivíduos que são os mais bem pagos, porque são os que resolvem", realça Ricardo Gomes Porém, lembrando que cada dianteiro "tem duas ou três oportunidades de golo" e que podem "tocar meia dúzia de vezes na bola, logo têm de trabalhar certas realidades psicológicas".
E há um mestre a aumentar a pressão nos rivais: "O Pepe estuda, percebe o ponta de lança que tem ali à frente. Tenta que a atenção e concentração que o ponta de lança tem seja ameaçada".