A 11.ª promoção foi garantida com o regresso do Paços em 2019/20. O JOGO foi procurar a receita dos sucessos por onde passou o treinador português.
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Feirense, Penafiel, Chaves, Académica e o (clube do coração) Leixões, além de um par de outros emblemas, já andam há semanas a sondar Vítor Oliveira para garantirem um lugar na I Liga em 2020/21. Ou seja, a tentar contratar o rei das subidas (11, com a conseguida agora pelo Paços de Ferreira, a segunda neste clube) para a próxima época (2019/20). O "bilhete I Liga" custa 300 mil euros.
Dez mil euros líquidos por mês, os adjuntos de quem não abre mão, controlo sobre a construção do plantel e garantias sobre o salários dos jogadores são as principais exigências do rei das subidas.
As condições de Vítor Oliveira são poucas, mas claras e sem grande margem de manobra: controlo na construção do plantel e nas condições de trabalho, garantias financeiras do cumprimento de obrigações para com o plantel, um salário de cerca de 180 mil euros brutos anuais, dois assistentes imprescindíveis (ver peça secundária) e 300 mil euros de prémio de subida. Ou seja, quando se fala no custo de 300 mil euros do "bilhete I Liga" é no pressuposto de que a aura triunfante do matosinhense não se desvanecerá, obviamente.
"Tentámos o Vítor Oliveira, claro, porque vale a pena o investimento. O foco dele em termos negociais é o prémio de subida e a construção do plantel. Em termos de salário, não era muito mais caro do que outras soluções, como, pelo que sei, o Carlos Pinto", refere fonte de um clube da II Liga com aspirações a subir.
Outra fonte, de outro emblema - sendo este um dos que estão na corrida pelos serviços do treinador -, sublinha o retorno. "Se se pagar 300 mil euros de prémio de subida, vale bem a pena, porque só em direitos televisivos se vai buscar entre 3,5 e 4 milhões de euros", diz.
O treinador fecha-se em copas, sobretudo numa fase em que ainda nada estava decidido (o contacto foi antes do jogo que garantiu a subida, sábado, frente ao Ac. Viseu, 2-1). "Só quando tudo estiver definido é que vou decidir o que fazer na próxima época", limitou-se a dizer a O JOGO. Nem provocado com cenários em cima da mesa (convites da I Liga, o pelotão de pretendentes à subida na II Liga...) se descuidou. "Não vale a pena, não vou dizer nada até tudo ficar decidido", sublinhou.
300 mil euros é o prémio de subida exigido por Vítor Oliveira, que só assina contratos de uma época e exige ser acompanhado por Manuel Nunes e José Luís Antunes.
E tudo ficar decidido até poderia passar pela renovação do contrato com o Paços de Ferreira, que pretende que Vítor Oliveira continue com o projeto na I Liga. Seria uma forma de o técnico encerrar a carreira como projeta: na I Liga. Mas ainda não será em 2020 que se retira e em 2019/20 vai mudar de clube (a não ser que haja um volte-face).
Com 34 anos de carreira (iniciou-a, formalmente, em 1985/86 no Portimonense, mas já tinha, como jogador-treinador, orientado o Famalicão em 1978/79, aos 25 anos), Vítor Oliveira tem muito por onde escolher. E as SAD ou SDUQ sabem o que têm de oferecer para se habilitarem ao talão premiado com a subida à I Liga. São cerca de dez mil euros líquidos/mês de salário (a contratação do braço direito Mário Nunes, adjunto, e Tó Ferreira, técnico de guarda-redes).
350 mil euros foi a cláusula aceite pelo Santa Clara em caso de subida conseguida pelo treinador Carlos Pinto (2017/18). Está a ser paga às prestações.
BILHETE DE IDENTIDADE
Vítor Manuel Oliveira
Nascimento: 17 novembro 1953 (65 anos)
Naturalidade: Matosinhos
Títulos: 4 II Liga
Jogos: 1053
Vitórias: 432
Derrotas: 340
Carreira tem 49% de vitórias na II Liga
Vítor Oliveira jogou em seis clubes e treinou 18, tendo em vários deles mais do que uma passagem. Na sua contabilidade como treinador constam 1053 jogos em oito competições diferentes, incluindo a Liga Europa, com uma percentagem de triunfos de 41%. Na II Liga, essa taxa é um pouco superior, 49,1%, fruto das 265 vitórias em 540 partidas. Empatou 150 (27,8%) e perdeu 125 (23,1%).
Braço direito, de Jardim até Vítor Oliveira
Mário Nunes completa 39 anos a 2 de setembro, tirou a licenciatura (especialização futebol) na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em 2004, e é o braço direito de Vítor Oliveira desde 2014, quando se cruzaram "por acaso" no União da Madeira.
"O míster é o cérebro, o líder. Eu tenho funções específicas no início e final dos treinos, em que me dá total liberdade. Que me lembre, nunca me fez um reparo - claro que cada vez mais conheço as ideias dele. Tenho liberdade para intervir nos treinos, mesmo quando ele está no centro do campo, para fazer uma correção ou outra", explica o treinador que não tem "obsessão de ser líder", mas tem essa "ambição, um dia".
Rei das subidas encontrou Mário Nunes no União em 2014. Dá-lhe liberdade, mas não prescinde dele.
"É muito fácil trabalhar com o míster, tem ideias muito simples, mas que não oscilam. A criação de exercícios é fácil porque sabemos perfeitamente aquilo que ele quer. Valoriza muito a própria equipa", revela. "Sim, pensa como treinador de equipa grande, mas ele também só treina grandes na II Liga".
E como é que Mário Nunes se torna no braço direito de Vítor Oliveira, sendo o mais antigo da atual equipa técnica? "Em 2005/06, vou para a Madeira dar aulas. A minha primeira experiência é nesse ano na escola do João Luís (que foi jogador do Marítimo e está no Stumbras). No ano a seguir, fui para formação do Camacha, treinado pelo Leonardo Jardim e professor José Barros, que voltou a ser adjunto do Jardim no Mónaco no ano em que foram campeões [2016/17] e continua hoje", avança. "Em 2007/08, o Jardim veio para o Chaves em novembro e José Barros sobe a treinador e dá-me oportunidade de entrar no futebol profissional. Em 2012/13, vou com ele para o Marítimo B, depois para o União da Madeira", concretiza o natural de Murça.
Três anos é o tempo que leva de colaboração o outro assistente mais antigo de Vítor Oliveira: Tó Ferreira esteve no Arouca (2012/13), Moreirense (2013/14) e agora no Paços.
E em 2014/15, encontra Vítor Oliveira no União. "Não tenho ideia sequer de antes me ter cruzado com ele, nem em palestras, nem em nada. Tinha sido adjunto do José Barros e do Rui Mâncio (é um histórico do União, mas passou pelo Nacional e Torreense - agora, está nas seleções distritais) e na altura só tinha interesse em ficar. Disseram-me que estavam a pensar contratar o Vítor Oliveira, se estava disponível", recupera.
Desde aí, foi com Oliveira para Chaves ("clube que representa a minha região"), Portimonense e Paços. Está numa equipa que inclui Manuel Sousa ("era jogador na primeira passagem do míster, trata do scouting e integra a equipa técnica"), Tó Ferreira (treinador de guarda-redes com muitos anos de colaboração com Oliveira, mas que não foi para o União e só agora voltou a trabalhar com o rei das subidas), Hugo Silva (scouting, já estava no Paços) e José Luís Antunes (está mais no scouting do clube).