Vítor Carvalho, o segredo do Gil e memórias de Vítor Oliveira: "Oh miúdo, vamos trabalhar"
ENTREVISTA - Vítor Carvalho cumpre a terceira época no Gil Vicente. Apesar de ter começado como médio ofensivo, é hoje um dos trincos em destaque na Liga Bwin e uma das figuras da equipa-sensação.
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Vítor Carvalho tem sido um dos alicerces da construção sólida que é este Gil Vicente de Ricardo Soares. É ele quem vigia as costas do ataque, após uma reciclagem de funções que o obrigou a baixar no terreno.
O Gil Vicente é a equipa que joga melhor em Portugal?
-Acho que é uma das que joga melhor futebol em Portugal. O futebol é muito mais prazeroso quando se tem a bola, quando se consegue produzir tudo com bola; atacar num jogo apoiado e construir várias jogadas com muitos recursos para poder fazer golos. A verdade é que divertimo-nos em campo. Claro que os resultados também ajudam, mas entendo que, quando as coisas começam a funcionar lá dentro, os jogadores sentem-se mais confiantes, soltam-se e produzem mais.
Chegou como médio ofensivo, há três anos. Tinha feito toda a carreira no Coritiba (Brasil) nessa posição ou experimentou outras no meio campo?
-Fazia outras posições. Jogávamos numa formação tática diferente, com dois médios, num 4x4x2 em que os médios tinham mais liberdade, o box-to-box de que se fala, tanto podia pisar a área para atacar como estava lá para defender. Cumpria tanto ofensivamente como defensivamente.
Já tinha, então, princípios defensivos. Quando Ricardo Soares lhe disse que jogaria como médio defensivo mais fixo, na altura da lesão de João Afonso, como reagiu?
-Claro que fiquei chateado por ter tido a oportunidade de chegar a titular dessa forma, com a lesão de um colega, mas, quando o míster me disse que achava que eu poderia cumprir bem essa função na equipa, fiquei contente pela oportunidade de evoluir jogando com regularidade e, ao mesmo tempo, escutar tudo o que ele tinha para me passar de forma a desempenhar o meu papel da melhor maneira.
E agora, passado este tempo todo, concorda com Ricardo Soares, que diz ser essa a posição que melhor potencia as suas características?
-Sim, concordo. Acho que ali encaixo melhor, a ver o jogo de frente. Tenho muita qualidade nessa primeira fase de construção, como ele costuma dizer, tenho o passe curto refinado, consigo dar muitas bolas para o Pedrinho e o Fuji [Fujimoto] poderem distribuir munições aos nossos atacantes.
Acha que podia evoluir mais na carreira fazendo várias posições, afirmando-se como polivalente, ou aperfeiçoando uma só posição, como está a acontecer agora?
-Entendo que, quanto mais aperfeiçoarmos o nosso ponto forte, mais recursos vamos ter. Se fizer uma carreira toda a médio defensivo, sem estar a mudar o tempo todo, é melhor. Mas, por outro lado, também acho que entender as outras posições é importante. O facto de ter jogado como médio ofensivo deu-me várias leituras de jogo que, agora, me beneficiam. Por exemplo, quando a equipa está com bola, é mais comum o médio defensivo fechar, mas, quando há um bocadinho mais de espaço, tenho mais liberdade para construir o jogo, porque essa experiência a médio ofensivo foi importante.
O que acha que melhorou com esta nova função em campo?
-Sempre fui um jogador muito dinâmico, muito competitivo, e nesta posição já consigo ganhar mais bolas, participar mais e melhor sem bola, no chamado jogo sujo, de destruir jogadas, de desarmar, enquanto antes não participava tanto. Sinto-me um jogador mais completo.
"Não dormi depois dos dois golos ao Braga"
Dia 8 de fevereiro de 2020, Pedreira, Braga. Vítor Carvalho tinha sido contratado semanas antes, estava no banco e foi lançado aos 31", para o lugar de Soares. O Gil perdia, então, por 2-0. Mas o brasileiro acabou por bisar, sendo a figura desse jogo, que terminou empatado (2-2): "É engraçado, porque jogámos contra o Braga há pouco, e é sempre marcante lembrar aquela noite. Não consegui dormir. Lembro-me de voltar para o balneário e o míster Vítor Oliveira dizer-me: "Oh miúdo, já passou, vamos pensar no próximo jogo, vamos trabalhar (risos)"."
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