Villas-Boas: "Em 12 anos estamos a falar de 27 milhões de euros em remunerações..."
Declarações de André Villas-Boas, candidato às eleições do FC Porto - a 27 de abril -, em entrevista à RTP
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Já disse que não vai ter salário, que vai ser um presidente não remunerado, porquê?
Porque acho que estou e estamos para servir o FC Porto, dentro desta candidatura também há uma série de pessoas, destas que eu escolhi, que fazem um esforço financeiro para vir para o FC Porto, sofrendo cortes na sua remuneração e aceitando servir o FC Porto. Eu acho que o presidente, neste caso, tem de ser o reflexo máximo deste esforço, mudar também o paradigma. Ele também já é presente no caso de um dos nossos rivais, onde há um presidente também não remunerado, e eu penso que é assim que deve ser também no futuro. Portanto, tenho muito orgulho em representar esta mudança, nós teremos cortes acentuados no ponto de vista da remuneração, tem sido um dos pontos de escândalo relacionados com a administração do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, onde sensivelmente em 12 anos estamos a falar de 27 milhões de euros em remuneração, e a administração tem de servir como exemplo.
O FC Porto pode deixar de ser dos sócios, há esse risco, eu creio que ouvi dizer que não era impossível o fundo Quadrantis, ligado a João Koehler, da candidatura de Pinto da Costa, vir a ser dono do FC Porto? Estamos a falar de um eventual incumprimento do clube que possa conduzir a isso?
Sim, o que nos alertou foi sobretudo um prospeto que estava presente no site do fundo Quadrantis, onde estavam a ser dados como colaterais receitas do FC Porto, portanto o fundo Quadrantis queria levantar 250, 300 milhões de euros, e no seu prospeto dava indicadores claros e nítidos de receitas do FC Porto. Curiosamente esse prospeto mudou muito recentemente, onde apareciam logos da UEFA, do Fundo Saudita, ou seja, a transferência do Otávio para a Arábia Saudita, onde apareciam o logo dos operadores e onde aparecia o logo da Super Bock, e aqui estamos a falar da antecipação de receitas do contrato da Super Bock, que foi feita com a Connect Capital, também precisamente detida pelo fundo Quadrantis, ou em parte pelo fundo Quadrantis. Portanto, quando nós vimos a presença destas colaterais, destas receitas colaterais relacionadas com o FC Porto, ficou claro que este financiamento e este levantamento de capital que pretendia a candidatura do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, na ordem dos 250 milhões a 300 milhões, pudesse ter a ver com este fundo levantar este capital. Isto ficou ainda mais claro e presente quando nesse fundo fazem parte não só João Koehler, como também a José Fernando Figueiredo, que mais tarde viria a ser apresentado como CFO do FC Porto. Nós continuamos a ver muitos sinais presentes da influência deste fundo, não só também com a presença de Pedro Rosas recentemente no camarote de Pedro Pinho no jogo de FC Porto-V. Guimarães, portanto tudo roda à volta sempre das mesmas pessoas.
O FC Porto foi o grande vencedor do futebol português nas últimas quatro décadas, foi também grande na Europa, hoje e nos últimos anos tem sido uma sombra pálida daquilo que já foi. Ganhou três campeonatos nos últimos dez anos, é seguramente a pior década em termos de resultados. É possível o FC Porto voltar a ser grande, tendo em conta essa situação financeira de que tem falado na entrevista?
Sim, penso que sim. Eu acredito piamente que há possibilidades de sucesso, de criar equipas competitivas, de ser muito mais rigoroso e criterioso nas escolhas dos jogadores para a equipa principal.
De voltar a uma final europeia?
Dificilmente. Repare, há uma ameaça clara, em primeiro lugar, sobre o ecossistema do futebol atualmente, por conta da decisão do Tribunal Europeu relativamente às competições paralelas e a UEFA e a FIFA não poderem castigar novas competições que venham a ser, competições e jogadores, não poderem castigá-los. Acho que há uma nova ameaça sobre o ecossistema do futebol. Isto levou à reformatação dos quadros competitivos da UEFA, de todas as competições da UEFA, e vive-se uma altura muito sensível. Agora, o que é que parece claro? Há um domínio cada vez maior dos grandes clubes europeus dentro deste ecossistema do futebol e uma ameaça cada vez maior com os grupos de clubes. Temos o grupo City, temos o grupo Paris Saint-Germain, o grupo Textor, o grupo Red Bull, cada vez mais a funcionarem em cadeias, e agora temos também fundos de investimento que compram carteiras de agentes dos jogadores. Tudo isto são sinais da mudança do ecossistema do futebol, que leva as coisas a tornarem-se muito sensíveis, e para FC Porto poder chegar a uma competição europeia tem que estar ao máximo nível desportivo, ao nível do scouting, ao nível da sua formação e ao nível da criação de uma equipa competitiva. É muito mais complicado, temos essa experiência e esse background europeu que nos sustenta e que nos permite sonhar.