ENTREVISTA, PARTE I - Francisco Benitez, candidato à presidência do Benfica, lança críticas ao adversário e, em entrevista a O JOGO, atira, a propósito do passado recente: "Não pode ser bom gestor"
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Sem acreditar que Rui Costa tenha "acordado de repente", entende que "as frases bonitas" deste "não vão" passar à realidade.
Considerando que a lista do presidente demissionário "é mais do mesmo", defende que o rival na corrida ao ato eleitoral de dia 9, "devia ter dado um murro na mesa" e mostrar-se contra decisões de Vieira
Qual a razão da sua candidatura?
-Há uma razão emocional, pois a minha alma benfiquista exige-me que o faça. E há uma parte racional. Andamos há tantos anos a dizer que as coisas estão mal e agora não aparecia alternativa nenhuma à continuidade? Tinha de haver obrigatoriamente uma alternativa. A lista concorrente, que é no fundo um prolongamento dos 20 anos que tivemos, é a mesma coisa, é mais do mesmo. E porque temos ideias. As eleições não eram altura de ficarmos calados.
Fala em continuidade, Rui Costa é um candidato pelo nome que tem, por ter sido jogador, ou por ser um gestor já dentro do clube?
-Enquanto gestor penso que tem vários handicaps. Alguém que vê o que se passou nos últimos anos e foi conivente, cúmplice ou distraído não pode ser um bom gestor. Nenhum bom gestor, pelo que se passou nestes 13 anos, pode fechar os olhos e dizer que não sabia. Um gestor tem de estar implicado, não poderia dizer nunca que não sabia, não viu, não estava cá... Nessa perspetiva, em termos de gestor deixa muito a desejar.
Transparência, democracia e ambição desportiva são pilares da sua candidatura. Estão perdidos no Benfica?
-Estão, completamente. Por isso vamos fazer uma auditoria fortíssima para se perceber o que se passou no Benfica. Falta transparência e na ambição desportiva também temos ideias, queremos mudar o paradigma. O Benfica, atualmente, é praticamente um entreposto de jogadores, com uma grande quantidade de jogadores a entrarem e a saírem. E aí sim da responsabilidade de Rui Costa.
"Não acredito que as coisas vão ser diferentes. O primeiro sinal assusta-me"
Teme que esta Direção mantenha o paradigma?
-Temo que continuemos nesta senda de que interessa é ganhar dinheiro com a compra e venda de jogadores e não a hegemonia em Portugal e sermos muito fortes na Europa e no mundo. Os intérpretes vão ser os mesmos. Pessoas que estão há 13 anos no Benfica e que fazem sempre a mesma coisa, que veem perder um penta e não dão um murro na mesa, veem vender jogadores ainda extremamente imaturos e não dizem rigorosamente nada... Não me vai dizer que essa pessoa agora de repente acordou e vai dizer que vai ser tudo diferente. Quando nem sequer a equipa mudou. Não acredito que as coisas vão ser diferentes. Pode haver nesta altura de eleições frases bonitas e pomposas que não vão ter correspondência com a realidade. O que podemos esperar foi o que aquela lista já demonstrou no passado. O primeiro sinal é que as coisas não vão mudar muito, e isso assusta-me.
Muda a figura e o nome?
-Nem a figura. A figura sempre foi utilizada pela Direção anterior para apaziguar quando as coisas estavam demasiado tumultuosas e então aparecia esta figura para acalmar tudo. Mas a figura nunca tomou uma atitude convicta para dizer que estava em desacordo com o sistema.
Rui Costa devia ter saído?
-No mínimo devia ter dado um murro na mesa ou uma entrevista a dizer que não estava de acordo com aquilo. Já nem digo para fazer como Nuno Gomes, que saiu porque estava em desacordo. Agora, pelo menos expressar-se para dizer que não estava de acordo com o rumo que o clube estava a tomar. Ser benfiquista e perder um penta num ano em que se investe pouco e tínhamos toda a capacidade para ganhar aquele título investindo metade do que tínhamos vendido... Seria suficiente e não o fizemos. Nunca vi um reparo do agora candidato da Lista A.
"Havia muita gente, e alguma ainda está na Direção, que devia estar lá para servir o Benfica e está para servir-se do clube"
O clube nos últimos anos tem sido muito ligado a casos judiciais. Rui Costa devia ter tomado aí uma posição?
-Rui Costa e toda a Direção. Não vê ali ninguém a dar um murro na mesa e a dizer que não estava de acordo. Aquela gente ou foi cúmplice, ou conivente ou distraída.
Teme que após a auditoria que defende o cenário do clube seja mais negro?
-A auditoria deve centrar-se na forma como os contratos são feitos, como determinadas autorizações foram concedidas e o que se passou, os pagamentos de colégios, de casamentos...
Está a querer dizer que as pessoas serviam-se do Benfica em vez de o servirem?
-Essa é a conclusão lógica a tirar. No Benfica havia muita gente, e ainda há alguma que está na Direção, que devia estar lá para servir o Benfica e está lá para servir-se do Benfica.
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OPA para "servir interesses" e processos que deixam "mancha"
Muito crítico da gestão anterior, Francisco Benitez lembra a existência de uma OPA - "aprovada por unanimidade e que ia prejudicar o Benfica enormemente" - para atingir Rui Costa, frisando que este processo visava "servir o interesse de alguém que estava no Benfica e de alguém que tinha negócios com essa pessoa". Sobre os casos judiciais que envolveram o clube nos últimos tempos, fala de uma "mancha irreparável que vai ficar".
"O Benfica é o único clube em Portugal em que um presidente em funções é detido", atira, analisando a presidência de Vieira: "Fez coisas boas e coisas muito más. Na minha opinião, fez mais coisas más do que boas. Mas a história vai encarregar-se de fazer essa avaliação."
"Alterações recentes foram impostas, não genuínas"
O ato eleitoral de sábado, dia 9, será já com o regulamento acordado entre a Direção e o movimento Servir o Benfica, de Francisco Benitez, que deixa, porém, críticas. "As poucas alterações realizadas não foram genuínas, foram impostas. Foi com a assembleia geral extraordinária que o regulamento eleitoral foi alterado", diz, recusando ser guardião dos benfiquistas. "Os regimes adormecem as mentes, o que fizemos foi despertá-las", atira, analisando o facto de ser a única oposição a Rui Costa: "Vazio? Da nossa parte não existe. Estamos cá, sempre estivemos e vamos continuar a estar. Não lhe chamo oposição porque não há parlamento." E sobre Noronha Lopes, candidato em 2020, mas que fica de fora, diz: "Ele tem as suas razões, são legítimas e temos de respeitar."
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