Vasco Seabra, único técnico a travar os três grandes em 2020/21, analisa o Benfica-FC Porto para O JOGO
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Desafiado por O JOGO, Vasco Seabra, técnico do Moreirense, lança o duelo de hoje e aponta duas equipas "muito fortes no último terço".
Que diferença sentiu a preparar os jogos grandes, no caso Benfica e FC Porto?
-Quando defrontamos uma e outra equipa sentimos que são dominadoras, intensas na forma como pressionam e com reações à perda muito fortes, embora, eventualmente, o FC Porto utilize um jogo com mais gente a pedir na profundidade. O Benfica também é uma equipa muito difícil de controlar em virtude da capacidade que tem de atrair para explorar por dentro e depois acelerar nos momentos em que a bola fica descoberta.
Ganhou pontos ao Benfica duas vezes. Qual o segredo?
-Não existe... São clubes diferentes, a preparação teve coisas distintas e o que pretendíamos fazer também era diferente. Em termos defensivos, aí sim, procurámos ser capazes de reduzir o espaço que dávamos ao Benfica para jogar para a frente entre linhas. Quisemos defender um pouco mais à frente, pois o Benfica é muito forte no último terço e por vezes em espaços muito reduzidos consegue encontrar soluções para fazer golo. No Boavista, inicialmente conseguimos defender um pouco mais alto, mas, no Moreirense, em alguns momentos tivemos de defender um pouco mais baixo.
Primeiro no Boavista ganhou 3-0 aos encarnados, depois, pelo Moreirense, empatou com todos. Aponta a pressão "intensa" das duas equipas e, agora, vê um Benfica "mais preparado" para a perda
Quem tem mais bola ou é mais direto rumo à baliza?
-São duas equipas que têm capacidade para ambas as coisas: serem mais verticais ou de posse para depois encontrarem os espaços para atacar. Penso que a do FC Porto é mais agressiva no ataque à profundidade, ou seja, tem jogadores e uma capacidade para um jogo mais profundo e dar menos toques para chegar à baliza contrária, o que também lhe permite ser uma equipa muito pressionante na segunda bola, que consegue recuperar muitas vezes e instalar-se no último terço adversário. Penso que o Benfica procura rodar mais vezes a bola, encontrar mais vezes os espaços interiores e enquadrar os seus jogadores para que fiquem sem pressão e a partir daí serem verticais e acelerarem o jogo. São duas equipas que têm a mesma capacidade, com o FC Porto a solicitar eventualmente mais a profundidade a partir da primeira linha de construção, enquanto o Benfica procurará eventualmente encontrar mais os espaços por dentro, rodar mais a bola para encontrar outros espaços mais à frente.
"O facto de o FC Porto ou o Benfica serem mais ou menos agressivos tem a ver essencialmente com a agressividade que se coloca com a bola porque sem a bola são ambas muito pressionantes, com uma chegada na pressão muito forte"
Quais são as principais ameaças de Benfica e FC Porto?
-Ambas são muito fortes na transição, quer ofensiva quer defensiva. Esses são normalmente momentos de fragilidade das equipas porque quando ganham a bola estão a abrir para se projetarem para a frente e a equipa volta a recuperar a bola e consegue transitar... As ameaças têm a ver com essa verticalidade que conseguem dar ao jogo, quando tornam o campo mais descoberto, ou seja, quando conseguem desfazer-se do adversário e ficam com a bola sem ter pressão do adversário e virados para a frente. Quando isso acontece são ambos muito fortes a atacar a profundidade, e a atacar os últimos espaços e, aí, são letais. São duas equipas muito fortes no ataque ao último terço.
Concorda com a ideia de o FC Porto ser mais agressivo?
-O facto de o FC Porto ou o Benfica serem mais ou menos agressivos tem a ver essencialmente com a agressividade que se coloca com a bola porque sem a bola são ambas muito pressionantes, com uma chegada na pressão muito forte. Por vezes ser forte fisicamente não quer dizer que se pressione melhor ou mais depressa. A agressividade é inerente às duas equipas.
Como sentiu as equipas emocionalmente?
-No Boavista, o Benfica vinha de uma sequência só de vitórias, mas com carga de jogos acumulada. No Moreirense, estava em crescendo após a covid. Já o FC Porto estava mais próximo na luta pelo título, com muita vontade de vencer e empurrou-nos muito para trás. Não senti ansiedade.
Que diferenças vê entre o 4x4x2 e o 3x4x3 do Benfica?
-O Benfica já jogava com três atrás muitas vezes, a diferença é que recuava um dos médios. Em termos de construção não vejo diferenças significativas. A equipa está mais preparada para o momento da perda de bola por ter os três defesas lá, ao mesmo tempo que, em termos defensivos, quando pressiona no corredor consegue ter uma anulação do espaço lateral/central, que com uma linha a quatro é eventualmente maior. E como tem mais um defesa consegue defender melhor esse espaço quando se pressiona no corredor, que é um dos espaços que o FC Porto também ataca com muita agressividade.