No topo dos seis principais campeonatos, o italiano foi o que mais mudou em cinco meses. A Real Sociedad resiste no pódio espanhol, Milan, Lyon e Sporting recordam doces sensações, Liverpool e Bayern não disparam e há colossos atordoados. O calendário, sufocante para quem compete na UEFA, dá que pensar... e discutir.
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Esta altura do ano convida sempre a balanços e retrospetivas, mas talvez o impulso seja ainda maior neste estranho 2020, marcado por estádios vazios (ou quase em alguns países) e por um calendário sobrecarregado.
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Um olhar às seis principais ligas com uma comparação entre a classificação atual com a final de 2019/20 traz-nos surpresas, tubarões atordoados e esperanças renascidas, com um traço vincado de equilíbrio. Como se vê nas tabelas ao lado, só a Serie A tem mudanças significativas entre o top 5 que encerrou a última liga e o atual - nas restantes provas, troca-se um nome. Por outro lado, enquanto em Inglaterra, Espanha e Alemanha, os campeões em título estão no topo da tabela, Itália, França e Portugal têm líderes que há algum tempo não se encontravam em tal posição. Contudo, não seria necessário recuar muitas rondas para encontrar diferentes equipas na liderança, como na sempre competitiva Premier League, por exemplo: o Tottenham, que até à jornada prévia à do Boxing Day nem sequer surge no top 5, esteve quatro rondas consecutivas no lugar mais desejado, até ser "desalojado" pelo Liverpool. Na Alemanha, um golo de Lewandowski ao soar do gongo fez Bayern de Munique e Bayer Leverkusen inverterem posições, enquanto os rivais de Madrid partilham a liderança de La Liga, mas com o Atlético a ter dois jogos a menos e já uma derrota infligida pelo Real. Foi também em Espanha que esteve uma das principais surpresas pela positiva: a Real Sociedad foi líder em sete jornadas, mas não vence há seis consecutivas, apesar de ainda andar pelos lugares cimeiros.
O Barcelona ainda não resolveu a crise de identidade e está longe da liderança da liga, tal como Manchester City e Juventus
No capítulo dos renascidos, irrompe o AC Milan, que lidera a Serie A com o dobro dos pontos que tinha na última época, com igual número de partidas. O "tal" Milan que esteve pertíssimo de ser afastado pelo Rio Ave nas eliminatórias da Liga Europa, divide apenas com o Sporting o estatuto de invicto nas seis principais ligas, depois da Fiorentina ter batido a Juventus por 3-0. A repetitiva campeã italiana, que tem encontro marcado com o FC Porto na Liga dos Campeões, ainda não sabe o que é ser líder esta época, mas não é o único clube habituado a celebrar que anda desencontrado. O PSG, que na véspera de Natal despediu Thomas Tuchel, vê na liderança o Lyon, cujo aproveitamento dos pontos é o mais alto desde a última vez que conquistou a Ligue 1, em 2007/08. Este trio de líderes de cara lavada é então completado pelo Sporting, que também não passava o Natal no topo desde o último título celebrado, em 2001/02.
Por contraponto, o Barcelona não se liberta da crise de identidade - não ganhou metade dos jogos que fez para o campeonato - o Manchester City não consegue lugar na carruagem da frente e o Arsenal (adversário do Benfica na Liga Europa) entrou para o Boxing Day (bem) mais perto dos lugares de descida do que da zona de qualificação europeia.
Se "isto não é como começa, é como acaba", também não é como vai a meio, ou perto disso, mas abre perspetivas interessantes para 2021, até porque, nos últimos anos, foi comum alguns campeonatos chegarem a esta altura já com fossos bem definidos.
Desafios e problemas nos calendários
Cada situação, boa ou má, terá as suas explicações, mas é inevitável pensar na densidade dos calendários e em eventuais faturas europeias, ou a ausência destas para atrapalhar. Ao contrário do que era norma até à pandemia, as jornadas da UEFA não de se desenrolaram semana sim/semana não, mas praticamente em todas as semanas desde o início até ao fim da fase de grupos. As "pausas" surgiram à boleia dos compromissos internacionais, que só serviram para deixar os treinadores ainda mais ansiosos com a acumulação de milhas nas pernas dos jogadores. Jurgen Klopp, Pep Guardiola, José Mourinho e Ole Gunnar Solskjaer, que já em condições normais enfrentavam calendários preenchidos em Inglaterra, têm feito várias críticas aos agendamentos.
Borussia M"Gladbach, Atalanta, Lázio e Sevilha são algumas das equipas que se apuraram para a Champions e, neste momento, estão fora do top 5 das respetivas ligas. O fim da da Ligue 1 em março ficou "atravessado" no Lyon, que agora é líder com números que há muito não se viam
Não será, por certo, a única explicação, mas porventura também não será coincidência que Borussia M"Gladbach, Atalanta, Lázio e Sevilha, equipas que "sumiram" do top 5 das suas ligas, tivessem todas passado pela Liga dos Campeões, uma prova que não lhes é propriamente familiar. No mesmo sentido, Sporting e Lyon não competem na UEFA, o que no caso dos franceses originou uma luta nos tribunais, por a liga francesa de 2019/20 ter sido homologada com a classificação à data da interrupção forçada pela pandemia.
Entre estes campeonatos, a equipa com mais encontros realizados é o Tottenham, que faz hoje o 27.º, entre qualificação para a Liga Europa, fase de grupos da prova, Premier League e Taça da Liga inglesa. Para tornar tudo um pouco mais confuso, Manchester United e Manchester City ainda tiveram os jogos da primeira jornada adiados, para que fosse respeitado um período de 30 dias entre o fim de uma época e o início da outra - os rivais terminaram 2019/20 um pouco mais tarde que os outros ingleses devido à disputa de jogos na UEFA. "É difícil aceitar que quatro equipas tenham um jogo a menos e nem sequer se sabe quando vão o jogar. Isto pode afetar a competição. Jogámos quatro jogos numa semana e ninguém chorou ou nos apoiou", lamentou José Mourinho, treinador do Tottenham.