Um mercado pouco "milionário", as saídas de Neves, Neres e João Mário e ainda a AG. Tudo o que disse Rui Costa
Rui Costa, em entrevista à BTV, fala das movimentações de mercado do Benfica na janela de transferências de verão em 2024.
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Terminou a entrevista de Rui Costa, presidente do Benfica, à BTV
"Só deixo um reparo e lamento sobre a última AG: a demissão do presidente da MAG, Fernando Seara, que lamento. Sei do sentimento que ele tem pelo clube e quanto se empenhou para que estes estatutos fossem para a frente. Tenho muita pena e agradecimento por tudo o que deu ao clube. A assembleia foi para o arranque dos estatutos e, apesar de tudo, foi aprovada a proposta global, que agora será discutida tema a tema. Este estatuto não é para o presidente do clube, mas sim para as necessidades do clube e dos sócios. Vai sair um documento muito válido e muito melhor do que até aqui. Isso continuará em data oportuna. Sobre a próxima AG, é diferente. Espero que seja à Benfica, viva, dentro do respeito e da dignidade que este clube tem. A crítica, como sempre, será natural, e cá estarei para isso. Mas dentro do respeito que o clube exige. AG à Benfica.
"Amdouni já estava referenciado desde o ano passado, mas optou por ir para Inglaterra. Aproveitámos o facto de a equipa ter descido de divisão; ele é um jogador muito forte na zona ofensiva e pode atuar em quase quatro posições ofensivas, embora privilegie as posições de avançado e segundo avançado. Completaríamos com 2+1 e ele foi identificado como o jogador ideal para essa posição. Ainda agora, no Bessa, entrou pelo lado esquerdo e pode jogar nas quatro posições da frente, tendo muita presença na área. Chegou na última semana do mercado, houve seleções, e ele ainda está a entrosar-se e a conhecer os colegas. Vai ser importante nesta temporada e esperamos que também nas próximas; ele está por empréstimo com opção de compra. Foi a única forma de o trazer, já que não conseguimos contratá-lo por inteiro logo de início. Fizemos um empréstimo com opção de compra na esperança de que, no final, tudo corra bem e que no final da época ele seja nosso jogador."
"Vendemos mais do que comprámos: 144,7 milhões de euros de receita e 40 milhões de euros de investimento, sendo que estes 40 milhões podem incluir jogadores emprestados que têm opção de compra. Olhando para este resultado, passo a explicar o exercício do Benfica. Tivemos um resultado negativo acima dos 30 milhões de euros; não quero embelezar, mas os resultados dependem muito do timing da venda. Poderíamos muito bem estar aqui com um resultado positivo e um valor económico, mas optámos, de forma ponderada, por prescindir do resultado e trabalhar muito melhor em termos económicos, evitando perder valores na ordem de milhões de euros por vender cedo ou sob pressão. O mercado começou muito tarde, fruto do Europeu e da Copa América; começou muito tardiamente. Não fizemos nenhuma venda até 30 de junho, daí o resultado negativo. Se tivesse aceitado a primeira proposta pelo João Neves, teríamos um resultado positivo, mas com muito menos milhões do que o nosso objetivo económico. Digo isto não como desculpa, mas para tranquilizar os sócios: não estamos aqui sem saber o que fazer. Optámos assim. Se tivéssemos realizado vendas mais concretas até 30 de junho, o resultado teria sido positivo. Preferimos alongar o mercado para valorizar mais os nossos jogadores. Com os valores que conseguimos este ano, já encaminhámos o resultado do próximo ano, quer em termos de fair play financeiro. A parte económica do Benfica está estável e não tem problemas com o fair play financeiro."
"A ele não era preciso apresentar a casa. Com a saída de João Neves, havia a necessidade de colmatar essa saída, e surgiu a oportunidade de perder um jogador da casa, mas trazer outro da casa. Apesar de nos últimos anos Renato não ter tido o mesmo fulgor, sobretudo quando esteve no nosso clube, acreditamos que ele tem uma grande fome de voltar a ser o Renato e de voltar a vestir esta camisola. Hoje está lesionado, é um facto, mas tenho muita confiança de que vai recuperar e dar muito. Sei com que sentimento ele veste esta camisola e que nos vai dar muito este ano."
"Quando se faz um plantel, faz-se com um treinador; Roger Schmidt era o treinador e o plantel foi construído à sua imagem. Conhecendo perfeitamente Bruno Lage e partindo do princípio de que ele veio para o Benfica pela qualidade que lhe reconheço, também influenciou o fato de que este plantel se moldava muito à sua imagem. O próprio admitiu que gostava do plantel e está satisfeito. Sei como ele gosta dos plantéis; trabalhámos anos suficientes para ter esse conhecimento. Este plantel podia até ter sido construído por Bruno Lage em termos das características dos jogadores. Acho que ele está satisfeito com o plantel, e agora é dar rendimento ao mesmo, e ele está a conseguir fazer isso. Quer para Bruno Lage, quer para outro treinador, não é preciso uma carta escrita. É lutar por todas as competições,; não temos outra alternativa. Bruno está preparado para isso, sabe os objetivos do clube e sabe da exigência do clube, mais do que esclarecido. Não é uma questão."
"É sempre um tema muito crítico. Faço sempre questão de explicar as comissões que são pagas. Explicarei as vezes necessárias; é importante que percebam os mecanismos. As indicações da FIFA são de 10% das vendas; estivemos abaixo disso, finalizando o mercado com 8,9%. Ao contrário do que pensam, se os jogadores são transferidos é porque o Benfica tem de pagar comissões; elas estão contratualizadas. As equipas desta dimensão não conseguem ter jogadores sem que os seus agentes contratualizem as saídas, daí pagarmos 10% ou menos. Sobre as entradas, pagámos zero mais uma vez; não tivemos encargos, pagando o mínimo possível pelas entradas. O resto que pagamos é sobre os contratos dos jogadores; isso não é feito no Benfica, é feito em qualquer parte do mundo, os agentes têm sempre uma percentagem sobre o contrato do jogador. Pagamos sobre os contratos de todos os jogadores; sobre saídas, fechámos o mercado com 8,9% de comissões, e sobre entradas, pagámos zero.
"É para preencher a lateral direita. No ano passado, fizemos a época com Bah, por opção própria. É um jogador jovem que vem emprestado, sem opção de compra, porque o City não o permitiu. Chegou agora e um pouco tarde, não conhece praticamente os colegas. Há que ter paciência; é jovem, mas já fez uma época inteira no Marselha e na Premier League. Sei que não entrou na melhor forma no primeiro jogo, fruto de muito nervosismo e da dificuldade de entrar naquele jogo. Vamos ter paciência e esperar que cresça; é um jogador de muita qualidade."
"Um plantel muito equilibrado, dois por posição", diz Rui Costa na primeira resposta
"Um dos problemas que tivemos no ano passado, e que foi bem identificado, foi nas laterais; era necessário completar as nossas laterais. Ficámos com Álvaro Carreras, que cada vez mais se está a afirmar e vai ao encontro do que já conhecíamos. Era preciso mais um jogador, e apontámos em Beste o jogador ideal: um lateral muito ofensivo. Pena que ele teve logo uma lesão que condicionou o seu desempenho, mas temos muita confiança nele e ele tem as características que procurávamos para completar essa posição. No ano passado, terminámos a época com três médios de raiz. Já conhecíamos Beste há muito tempo; ele iria ficar livre, antecipámo-nos, falámos com ele e tivemos facilidade, não só porque o queríamos, mas porque ele queria muito vir para o Benfica, já que tem raízes portuguesas e uma grande paixão pelo clube. Foi uma contratação fácil neste sentido; é um jogador para o plantel e vinha completar o setor do meio-campo, que era uma área onde queríamos estar mais apetrechados."
"Chegou nos últimos instantes do mercado, mas não deixa de ser um jogador já visto e referenciado muito antes. Ele só chegou no último dia por causa das novas leis da imigração e de tudo o que está envolvido nesta situação. Isso se entrelaça muito com o que disse sobre Neres. Perdemos Neres, um jogador criativo que privilegiava muito mais jogar pelo lado direito. Entendemos que precisávamos de um jogador criador, desequilibrador, mas com maior preponderância para atuar em mais de uma posição. Nos três jogos que fez, deixou a sua marca em todos, e esperamos que continue assim. Isso também vai ao encontro do equilíbrio do plantel; sentíamos que tínhamos menos criadores do lado esquerdo do que desejávamos. Tínhamos Fred, que jogava nesse flanco, e libertámo-lo para outras missões. Temos também Schjelderup, em quem apostamos muito, mas entendemos que não é o caso de lhes dar a responsabilidade, como ao Prestianni, que não têm a obrigação de serem já responsáveis pelo sucesso da equipa. Com estas medidas, em termos de projeto desportivo, criamos uma equipa para o presente e para o futuro, com jovens jogadores que irão chegar lá, mas que não têm, desde já, a responsabilidade de serem os 'abre-latas' da equipa."
"Fez mais golos na pré-temporada do que em jogos oficiais, mas isso não impede que tenha tido prestações altíssimas, tanto a nível individual como para a equipa. Tem sido de grande sacrifício, mostrando muita qualidade, e os golos vão aparecer naturalmente, já que sempre fez golos ao longo da sua carreira. Havia necessidade de ter um ponta-de-lança com uma média de golos mais elevada do que no ano passado; isso não significa que os que estavam não tivessem qualidade, mas havia necessidade de ter um jogador com características diferentes. Ele estava referenciado há muito tempo, mas, devido aos valores de mercado, não conseguimos chegar a um acordo antes. Aproveitámos esta oportunidade este ano e estamos muito satisfeitos com ele, assim como com a dupla de avançados, ele e o Arthur. Neste último jogo, produziram dois golos. Já era muito referenciado e estamos muito satisfeitos. Tínhamos muita convicção nas qualidades deste jogador."
#Em relação ao Paulo e ao Jak, dois jovens jogadores, foram feitas operações unicamente para que pudessem prosseguir as suas carreiras. O Paulo, à semelhança do que fizemos com o João, curiosamente com o mesmo clube, deixou uma percentagem de mais-valia futura. A operação foi mais baixa do que a do Jota, mas muito semelhante em termos de operação. Uma vez que os jogadores não estão a ser utilizados pelo Benfica, não podemos prender os jogadores e devemos deixá-los prosseguir as suas carreiras."
"Começando pelo João, foi um dos jogadores e homens mais extraordinários que conheci enquanto profissional de futebol. Deu-nos muito, foi influentíssimo no ano do título, mas, como todos assistiram, houve um elo de ligação que se partiu. Nós, como clube e jogador, aceitámos que era melhor seguirmos caminhos diferentes. No entanto, não deixo de agradecer tudo o que fez pelo Benfica e desejar-lhe maior felicidade nesta nova aventura. Como foi bem visível, houve algo que se quebrou pelo meio, e entendemos que era melhor para ambas as partes.
"O caso de Morato é um pouco semelhante ao de Marcos. É um jogador formado por nós, que nos deu muito. No ano passado, até foi muitas vezes sacrificado jogando numa posição que não era a sua, e cumpriu com máxima abnegação. Temos de fazer contas. Pode parecer que estamos aqui só para vender, mas as saídas não acontecem sem razão. Com a continuidade de Otamendi, a afirmação clara de António e a ascensão de Tomás Araújo, arriscávamos ter Morato como quarto central, o que o deixaria mais na bancada do que no banco. Se é verdade que, há dois anos, ele tinha uma projeção diferente, os jogadores só mantêm projeção se jogarem. Entendemos que não deveríamos desvalorizar o ativo, nem prejudicar a carreira do jogador, mantendo-o como quarto central, já que teria muito menos minutos na época. Optámos, portanto, por deixar que ele prosseguisse a sua carreira e evolução. Daí a saída de Morato, ficando o plantel com os três centrais já referidos e promovendo mais um central da formação, como aconteceu com António, Tomás e o próprio Morato."
"Apesar de toda a sua qualidade, que é inegável, e de tudo o que de bom fez no Benfica, David Neres não deixa de ser um jogador de 27 anos que oscilou muito entre a titularidade e a não titularidade. É, sem dúvida, um jogador extraordinário, mas oscilou. Já no ano passado houve propostas, e da parte dele existia alguma ideia de mudar de ares. Pensámos que o melhor seria ele continuar, e houve mais propostas até chegar a do Nápoles. Inicialmente, a oferta era mais baixa, mas depois chegou a estes valores, para um campeonato que também lhe agradava. Entendemos que, em termos de formação do plantel, podíamos ter outras opções, jogadores com características diferentes. A saída dele implicou, então, a vinda de Kerem, que joga nos dois flancos, ao contrário do Neres, que preferia muito mais jogar pela direita. Aceitámos a saída por um valor substancial para um jogador de 27 anos que não era titular indiscutível da equipa. Entendemos que foi bom para ambas as partes, e procurámos uma solução diferente."
"O caso do Marcos Leonardo é diferente. Tem a ver com a estratégia desportiva da equipa e com a formação do plantel. Uma das posições que entendemos reforçar com Pavlidis, não querendo trazer azar, parece que tem justificado, e de que maneira, a sua aquisição. Num plantel apontado para jogar com um avançado, no máximo dois, planeámos ter apenas dois pontas-de-lança de área e mais um jogador que pudesse atuar tanto como 9 e meia-9, daí a contratação de Zeki Amdouni. Não íamos ficar com todos os pontas-de-lança. Por isso, Marcos Leonardo saiu no final, assim como Tengstedt. Ficámos com Pavlidis, Arthur Cabral e Zeki Amdouni. Fomos evitando propostas e rejeitando, até que chegou uma oferta de 40 milhões de euros. Sejamos claros, e apesar de considerarmos a mais-valia do jogador e o seu elevado potencial de progressão, estas mais-valias só acontecem se o jogador jogar. Ter no plantel um jogador com uma proposta de 40 milhões de euros, que não seria titular e não teria os minutos esperados, tornava quase inevitável aceitar a proposta por um jogador que, como suplente, já estava a valer 40 milhões. Em termos de estratégia desportiva, foi muito relevante o facto de querermos dois pontas-de-lança de área, mais um jogador que pudesse fazer ambas as funções, e assim completámos o plantel."
"Primeiro ano desde muitos anos que não houve transferência acima dos 100M€. E não estamos aqui para bater recordes de vendas, estamos aqui para valorizar os nossos jogadores. A mais alta trata-se de um avançado campeão do mundo que vai para o Atlético Madrid por 75 M€. Se num ou outro ano os 6 milhões, poderia ser considerado valor mais baixo, e o mercado tem tendência a baixar, esperemos que não se confirme, mas é a realidade atual. 60+10 está no top cinco das vendas deste mercado e se chegar aos 70 será a segunda mais alta deste mercado. Apenas para explicar o ponto do mercado, não é para bater recordes de vendas, o nosso desejo é não vender. Mas é para explicar o preço do João e porque neste mercado é extremamente alto. E daí o Benfica ter aceitado, assim como o João, porque em termos salariais para ele também são uma mais-valia muito grande. Custa sempre ver partir um dos nossos meninos"
#Tanto eu como o Joãozinho [João Neves] tivemos oportunidade de explicar a saída. Um jogador com carisma do João e da nossa formação é sempre uma dor quando sai. Acontece que fomos rejeitando propostas para o João que tinham chegado mais cedo e de menor volume, quer para nós quer o João. Fomos levando propostas, fazendo subir as propostas. As primeiras eram inaceitáveis para nós e para o João, acabámos por chegar a um valor inevitável para nós e para o João. Ele não queria sair do Benfica e demonstrou em campo, mas há números inevitáveis para o Benfica e para o jogador. Podemos pintar como quisermos, mas a realidada é esta. Em relação aos 60 milhões e que certamente chegarão aos 70. Há variadíssimas coisas para falar do valor. Quando se trata de jogador como o João, com carisma e da formação, não tem preço. Mas acontece que temos de olhar para o mercado e perceber como funciona. Este foi o mercado mais baixo desde 2016/2017"
"Temos cinco competições para fazer este ano, três nacionais e duas internacionais. Sabemos da exigência do que é este clube e procuramos que este plantel esteja pronto para essas competições e exigência do clube. Reforçamo-nos bem, colmatámos saídas que havia para colmatar, criámos competividade diferente no plantel, temos trabalho bem realizado. Agora são resultados que vão ditar se bem ou mal feito."
"Plantel de qualidade, homogéneo, mais competitivo do que foi no ano passado, equilibrado do ponto de vista desportivo e financeiro. No final do mercado, colmatando saídas que foram necessárias colmatar, apetrechando setores que eram necessário reforçar em relação à época passada. Numa análise geral conseguimos o que queríamos. Plantel forte, competitivo e muito equilibrado nas posições, com dois jogadores no mínimo capazes de assumir a titularidade. Era o que nos guiava, dar maior equilíbrio do que o do plantel ano passado tinha."
"O que esteve subjacente à construção do plantel foi o que desde o início tentámos, criar um plantel com qualidade, que tivesse vários itens, plantel curto, de 25 jogadores, sem ter jogadores em excesso, com forte presença da nossa formação e temos oito jogadores, podemos até ter 9 se contabilizarmos que João Rego está a trabalhar entre a B e a principal."
Rui Costa, em entrevista à BTV, fala das movimentações de mercado do Benfica na janela de transferências de verão em 2024. O programa começa às 19h04.
As saídas de David Neres, João Neves e João Mário, bem como as entradas de Pavlidis a Akturkoglu serão, muito provavelmente, abordadas na entrevista ao canal do clube