ENTREVISTA (Parte 4) - Sérgio Conceição fala sobre o mercado de transferências e salienta a importância do contacto direto com Pinto da Costa, presidente do FC Porto.
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As compras e vendas de jogadores são um labirinto de personagens e influências que perturbam os finais de época do treinador do FC Porto. Mas a solução já existia. Ficou só confirmada.
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Na época anterior, pela primeira vez na carreira, teve algum dinheiro para explorar o mercado. Foi mais difícil do que pensava?
-Há algumas coisas que me chateiam nos finais de época. Uma é ir para férias, com a quantidade de miúdos, as malas, parece que fica tudo desorganizado e saio da minha rotina. A outra é o mercado. É um momento difícil, porque acho que existem mais empresários do que jogadores e complicam muito as saídas e as entradas. Como existem muitos, o mercado é muito competitivo entre eles, são cascas de banana por todo o lado. Mas não quero ir por aí, porque entrávamos numa estrada complicada.
O que aprendeu com isso?
-Não aprendi, fiquei foi convencido de que estou certo. Devemos olhar muito para aquilo que queremos para a equipa, tem de haver um canal direto com o presidente e, a partir daí, tudo se torna mais fácil. Se andamos aqui à volta, é muito complicado. A capacidade financeira do clube e estar sob a alçada do fair play financeiro é que não desapareceu... Acredito que os outros precisem de se reforçar mais, porque nós somos os campeões e não precisamos de tanto como os outros. Mas pequenos ajustes teremos de fazer, dentro destas dificuldades que existem. Não podemos esconder isso.
"DUPLO PIVÔ É O QUE PREFIRO"
Os elogios ao capitão são muitos (e mais ainda na segunda parte da entrevista, a publicar este sábado) e sobram para Otávio e Marega, à medida que Sérgio vai descrevendo a mecânica do seu meio-campo ao longo da época.
É muito debatida a tese de que um trinco clássico, como Danilo, pode ser um desperdício no campeonato português, embora o jogo aéreo dele faça pensar duas vezes. Ainda assim, pareceu cada vez mais seduzido pelo duplo pivô, com jogadores mais versáteis. Em que ficamos?
-Jogamos sempre, ou quase sempre, com um duplo pivô e não definimos quem é o médio mais de equilíbrio, ou seja, jogamos praticamente com dois 8. Se um, pelas suas características, aparece mais vezes, isso não é um problema. O Danilo, jogando um pouco mais na frente, quando acelera com bola, é muito difícil de parar. É muito possante nas infiltrações que pode fazer na área e tem um jogo aéreo fantástico. É um jogador que tem alguma experiência para perceber onde cai uma segunda bola, onde tem de aparecer num cruzamento... Ele pode e deve dar esse salto. Já tive algumas conversas com ele sobre isto. Tem capacidade para chegar mais à área, para ser mais 8 do que 6. O jogo depois pode ditar outras coisas e é necessário que fique, porque o Sérgio Oliveira ou o Uribe soltaram-se mais e ele peca por respeitar e querer equilibrar, sendo ele o capitão e tudo isso.
Questão tática que dura há três épocas: Danilo ou dois médios mais versáteis? Conceição diz Danilo é um médio versátil, sem deixar de assumir a preferência pelo desenho que usou mais vezes nesta época
Portanto, assume a preferência tática pelo duplo pivô?
-Duplo pivô é o que eu gosto, mas se tiver de criar uma ou outra variante no jogo, dependendo da estratégia, não tenho problema nenhum. Nos últimos tempos, o Danilo jogou mais posicional, e com dois médios interiores, ficando o Otávio mais perto do Marega e o Uribe mais 8. O Otávio é um jogador muito inteligente, consegue não só estar perto do Marega como na nossa primeira parte da construção. Às vezes, colocava o Uribe um pouco mais alto para o Otávio pegar no jogo atrás. Fazia isto por achar que encontrávamos assim um equilíbrio e criávamos desequilíbrio no adversário, com o Luis Díaz e o Corona nas alas, provocando muito movimento na frente e dando ao Marega aquilo que ele gosta de ter, que é liberdade total para massacrar as defesas adversárias.
Sérgio Oliveira foi importante nas segundas metades dos dois títulos. Arrependeu-se de o ter dispensado em 18/19?
-Não. A decisão tem de ser tomada por todas as partes. É complicado gerir quando há uma vontade grande de um jogador que não tem espaço e prefere sair para jogar. É difícil estimular quem não está a jogar. Na altura, foi uma fase menos boa do Sérgio Oliveira. Queria ir embora e eu não posso ficar com um jogador contrariado. Houve algumas conversas, a ele custou-lhe sair e eu não fiquei feliz, não era a minha vontade. Se teríamos ganho ou perdido alguma coisa, não vale a pena especular. Isto é futebol.
"Foi uma fase menos boa do Sérgio Oliveira. Queria ir embora e eu não posso ficar com um jogador contrariado"
"HÁ COISAS MAIS IMPORTANTES DO QUE O MEU CONTRATO"
Vai renovar contrato?
-Tenho contrato por mais um ano. Vamos ver daqui uns tempos o que vai acontecer. Esse tema já foi falado e abordado, mas há coisas mais importantes, até porque os contratos nunca foram, desde que cheguei aqui com 16 anos, um problema para mim nem para o presidente. Tendo eu contrato, o tempo é tão curto para tratar de coisas verdadeiramente mais importantes. Depois vê-se. Esta é a verdade. O presidente vai ler esta entrevista de certeza, ainda para mais agora que foi operado às cataratas e vê melhor. Vai ler e não estou aqui a dizer nada que não seja verdade. Se não, dizia-me 'ó Sérgio não sejas mentiroso' e eu não sou mentiroso.