ENTREVISTA (Parte 6) - Jorge Jesus tomou o palco, mas o treinador do FC Porto não se vê como figurante. Nem ele é "o aluno", nem a sua equipa sente reduzidas as suas possibilidades de revalidar o título.
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Conceição recorda que foi campeão contra uma "excelente equipa" do Sporting dirigida pelo agora omnipresente Jesus, que foi em tempos treinador do Felgueiras, mas não mestre.
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O investimento que o Benfica está a fazer é o melhor reconhecimento que podiam dar ao seu trabalho?
-Não tenho de me meter nisso. Não preciso dos outros para dizerem que estamos a fazer um bom trabalho.
Sentiu que houve o reconhecimento justo pela conquista da dobradinha?
-Há um clube que nos últimos anos tem sido competitivo, a par do FC Porto, nas conquistas internas e que não ganhou e achou que se devia reforçar. Somos campeões e vencemos a Taça. Precisamos um pouco menos de nos reforçarmos do que o adversário.
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Que leitura faz da discrepância de resultados do Benfica da primeira para a segunda volta do último campeonato?
-Seria injusto dizer alguma coisa porque não sei o que se passou dentro do balneário e do clube, que é um rival nosso. Para haver essa grande diferença de resultados, alguma coisa não correu bem. E de quem falamos nessas alturas? Dos jogadores, da equipa técnica e do presidente. Alguma coisa não correu bem, mas não sei o que foi. Aqui também houve uma ou outra coisa que não correu bem. Perdemos em Famalicão e empatámos nas Aves e não foi por isso que atirámos a toalha ao chão. O ambiente não é o melhor depois de uma derrota ou um empate, porque só queremos ganhar, mas tem de se saber dar a volta a isso. Se as coisas não andam num dia e não há uma reação é porque alguma coisa não está bem, mas, de fora, é difícil perceber o quê. Às vezes, mesmo quem está lá dentro não consegue perceber.
De repente, fala-se de grandes nomes do futebol europeu a chegar para o Benfica. Jogadores a que o FC Porto não pode chegar. Coloca a hipótese de ter um adversário avassalador?
-Tenho a certeza absoluta de que o FC Porto vai continuar competitivo. Depois, o que o adversário vai fazer ou não, também depende do que nós fizermos. Falando do que posso controlar, que é a minha equipa e os meus jogadores, o FC Porto vai continuar a lutar verdadeiramente pelos mesmos objetivos. Não vamos baixar nada, zero. Nem vamos pensar que vamos defrontar um Benfica, um Sporting, um Braga ou um Vitória que têm determinados nomes ou equipa técnica.
"Receio por defrontar uma equipa que está a investir não faz parte do nosso ADN"
Conhece Jesus e já o venceu algumas vezes. O campeonato português, ao contrário do brasileiro, também o conhece bem. Acha que ele ainda será capaz de surpreender?
-No Brasil foi uma surpresa. Nós conhecemos o Jesus, é um excelente treinador, superexigente e habituado a trabalhar as equipas ao pormenor, dentro da sua dinâmica. Deu organização ao Flamengo. Assisti a muitos jogos, mesmo antes do Jesus, e há pouca organização. O jogo vive de rasgos individuais, do talento dos jogadores. Ele deu isso à equipa, juntou um grupo, potenciou-o, teve resultados que deram confiança e alegria e depois é um ciclo. Aqui, não havendo grandes nomes nem talentos mundiais, temos treinadores capazes de complicar a vida uns aos outros. O Jesus irá ter as suas dificuldades, como o FC Porto as terá também. Agora, algum tipo de receio por defrontar uma equipa que está a investir não faz parte do nosso ADN.
Por outro lado, o Jorge Jesus é, talvez, o maior especialista de sempre no título português. Foram nove anos a jogar para esse objetivo.
-Eu tenho três. No Braga, no Olhanense, na Académica e no Nantes era difícil ganhar o campeonato.
"Falo de futebol com o Jorge Jesus se o encontrar no Solar dos Presuntos"
Essa experiência conta?
-O Jesus estava no Sporting, no meu primeiro ano do FC Porto, tinha uma excelente equipa e as coisas andaram como andaram. Fomos campeões. Não se trata de quem é melhor do que quem ou de nos verem sempre como aluno e mestre. Mas aluno de quê? Com 19 anos, no Felgueiras, eu estava atento ao que eram as movimentações da equipa ou aos espaços ou transições? Mas está tudo maluco? E quem é o mestre? Falo de futebol com o Jorge Jesus se o encontrar no Solar dos Presuntos, mas primeiro quero saber se a família está bem. Nem ele me diz aquilo que trabalha, nem eu a ele. Cada um tem as suas ideias e ponto final. Há ideias que coincidem, claro, mas Jesus é o Jesus, eu sou eu e o Rúben Amorim é o Rúben Amorim.
Vai falar-se muito do Jesus este ano...
-Já se fala. Antes de chegar, quando chegou... Se não percebesse nada de futebol e olhasse à minha volta, no final do campeonato e da final da Taça, eu não sabia quem tinha ganho.
O Jesus é bom a criar e gerir vagas de fundo e o FC Porto não tem essa possibilidade. Considera isso um handicap relevante?
-Somos da Região Norte, englobando cidade e adeptos, pessoas de trabalho, que não têm por hábito falar muito, nem controlar o ecossistema desequilibrado que é o nosso futebol. Cabe à Imprensa definir e criar essa fumarada toda de acordo com o que lhe convém. Nisso estou tranquilo e até acaba por ser mais um condimento para o tempero que é toda esta máquina do futebol.
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