Tiago Leite: "Quero um clube ambicioso. A melhor forma de chegar aos nacionais é fazê-lo em campo"
Depois de dar conta <a href="https://www.ojogo.pt/futebol/nao-profissional/noticias/tiago-leite-a-saida-da-ovarense-o-desgaste-e-um-balanco-muito-positivo-14418549.html" target="_blank">dos pormenores sobre a saída da Ovarense</a>, Tiago Leite abre a porta para futuro e, em entrevista a O JOGO, fala sobre os objetivos a curto prazo, os sonhos e as referências que tem como treinador.
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Depois da Ovarense, o que se segue?
-Saí exatamente há um mês, já recebi alguns convites e abordagens, mas nenhum me convenceu totalmente, até porque precisava deste período de pausa. Quero muito chegar aos campeonatos nacionais, treinar lá, mas quero chegar por mérito próprio. A melhor forma de o fazer é subir uma equipa do distrital para o Campeonato de Portugal. Idealmente, gostava de trabalhar numa equipa que tenha plenas condições para subir, para conquistar esse direito em campo, a jogar bom futebol e subir de escalão. Sem nada em concreto neste momento, o clube que gostaria de treinar é um clube que seja ambicioso, que aspire a subir aos campeonatos nacionais, um clube de massa adepta forte, que se caracterize por ter um grande caráter. Isso torna-se importante e cria uma envolvência muito forte, que abafa por completo o adversário. Quero um clube que ambicione grandes conquistas, de estrutura forte e que possa deixar uma marca na cidade, seja ela qual for.
Pode revelar a origem das propostas que recebeu entretanto?
-Não vou fazê-lo, por respeito a todos os envolvidos, até porque são clubes que têm treinadores. Da mesma forma que não falei sobre o Bock na Ovarense [na primeira parte da entrevista], não falo dos outros colegas. Tenho sempre o máximo respeito para com eles, tento tratar todas as pessoas desse modo.
Houve cobiça de outros clubes enquanto esteve na Ovarense?
-Sim, houve, e a Direção da Ovarense sabe. Sempre fui muito leal à Ovarense, mas houve essa cobiça. Passei sempre essa informação à Direção. Saliento uma proposta que quadruplicava o que ganhava no clube. Recusei logo, sem qualquer tipo de negociação, porque sentia que era fundamental para a Ovarense, sentia que era muito importante para o projeto. O que estou a dizer é a realidade. Por amor ao clube e ao projeto, estive sempre completamente compenetrado com os objetivos da Ovarense.
Se surgir uma proposta de um clube rival da Ovarense, estará disposto a aceitar?
-Sim. A vida é mesmo assim, a distrital tem essa peculiaridade, os clubes são muito próximos, as pessoas acabam por se conhecer, as rivalidade são muito acentuadas. Se chegar uma proposta dentro dos moldes que já referi, de um clube ambicioso, com massa adepta apaixonada, aceitarei sem hesitar, porque tenho de ir ao encontro da minha felicidade. Jogadores e treinadores estão aqui e, amanhã, podem estar acolá. Se uma pessoa fosse despedida do Continente não diria que não ao Pingo Doce [risos]. Teremos sempre as nossas paixões e nossos amores, mas, seja qual for o meu próximo clube, posso garantir que a paixão que colocava no meu trabalho na Ovarense será colocada de igual forma nesse clube. O clube que me levar terá um treinador completamente apaixonado.
Onde se imagina a treinar daqui a dez anos?
-Se daqui a 10 anos surgir a possibilidade de ser campeão nacional, sinto-me capacitado. Sei que cada trabalho que tiver vai tornar-me mais forte. Sou muito melhor treinador hoje do que era no início da época. Daqui a dez anos serei melhor treinador do que sou hoje, claro. Se as oportunidades surgirem, vou querer agarrá-las sempre. Se, um dia, isso acontecer na I Liga, ainda melhor.
- Quais as grandes dificuldades de conciliar o cargo de treinador nos distritais com uma profissão no dia a dia?
-Quero muito ser um treinador profissional de futebol, tenho isso bem assente. Tenho uma profissão durante o dia e o futebol entra em cena ao final do dia, porque as circunstâncias do patamar em que me encontro a isso obrigam. Mas, se me chegar uma proposta de Liga 3, um campeonato profissional, abdicarei do trabalho que tenho agora para agarrar esse sonho. Gostaria de chegar a I Liga e ser campeão nacional, um dia. O que sei é aquilo que a minha vida me ensinou: ir à luta. Se falhar, sairei sempre de cabeça erguida. Sinto-me com competência e paixão mais do que suficientes para chegar a esse nível. Agora, tenho é de provar que mereço. Se chegar lá [aos campeonatos profissionais] com um convite direto, aceitarei, mas gostava de chegar aos nacionais com uma subida em campo. Tenho o Luís Freire, treinador do Rio Ave, como referência, ele também foi subindo patamar a patamar apenas com o nível II de treinador.
O trabalho realizado na Ovarense, quer a nível tático, quer pela forma como vive os jogos, levou a que fosse comparado a Rúben Amorim. Como olha para essas comparações?
-Pode ter a ver com a postura no banco, com a juventude... Claro que tenho o Rúben Amorim como um exemplo, é um treinador de uma humildade fantástica, revejo-me na opção tática dele e na postura que tem, na forma de estar no futebol, mas não me agarro a essas comparações. Em termos de caráter e personalidade, revejo-me na paixão do Sérgio Conceição, pela forma abnegada como defende o clube em toda e qualquer circunstância. Não posso deixar de referir, também, que tenho uma grande admiração pelo Jorge Jesus, por tudo aquilo que, taticamente, trouxe ao futebol português. Mostrou-nos coisas que não eram idealizadas no nosso país; com um 4-4-2 mais dinâmico, fez-nos pensar de forma diferente. Não me revejo claramente num só treinador. Depois há Guardiola, que, para mim, é o maior génio. Sou completamente apaixonado por aquilo que faz, pela forma como se consegue reinventar. Também admiro muito Klopp e Simeone, pela forma como põem as equipas a jogar à sua imagem. Em termos táticos, eu nunca tenho um sistema estanque. Tenho uma forma de defender e uma de atacar, com um lateral a ficar e outro a projetar-se. Na Ovarense, defendíamos num sistema de quatro defesas e atacávamos com um dos laterais a subir. É uma ideia de jogo que já trazia ainda antes de ser treinador da Ovarense. Portanto, até pode ter sido por aí que começaram as comparações com o Rúben Amorim...