ENTREVISTA, PARTE I - É com um discurso sem mágoa que Seferovic olha para as cinco épocas de águia ao peito. Assume-se como adepto e quer estar em Istambul a ver o Benfica ganhar a Champions.
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Seferovic não se furta a temas, mesmo os que envolvem a sua saída e as críticas que sempre ouviu. Direto, agradece o tempo que passou no Benfica, aposta tudo no sucesso na época em curso e aponta um responsável: Roger Schmidt.
Olhando para a carreira no Benfica, que momentos mais destaca?
-Tive momentos muito bons, sobretudo quando Bruno Lage era o treinador [época 2018/19]. Não estava a correr bem, depois mudou, jogámos de maneira diferente com João Félix e conseguimos dar a volta à época. Essa foi a melhor fase que vivi no clube.
Qual foi o troféu que mais prazer teve em conquistar?
-Nesse ano ganhámos o campeonato [2018/19], fui o melhor marcador do campeonato [23 golos] e jogávamos um bom futebol. Ganhar o título de campeão e depois a Taça foram os momentos que mais prazer me deram e, como referi, também o prémio individual pelos golos que marquei.
Dos 74 golos que marcou, há algum que destaque?
-Foram muitos e vários importantes, mas destaco um, em Guimarães [janeiro de 2019 e deu a vitória por 1-0], porque a minha mulher estava grávida e era, para mim, um momento especial. Todos os golos são bonitos e cada um tem a sua história. Era o meu trabalho, também [risos]. Nos primeiros anos estava Jonas, depois Jiménez, tinha sempre concorrência de peso no plantel, mas eu sou um jogador que dá o melhor de si, nunca desmotivei e nunca pedi para sair nessa fase porque o Benfica é um grande clube, com uma história muito rica. Por isso fiquei cinco anos e foram muito bons, com muitos bons momentos e alguns maus, como é normal em futebol.
Muitas vezes foi apontado à saída e sempre ouviu críticas. Como explica isso?
-Não sei bem. Tenho uma cara parecida com a do meu pai, muito fechada e a parecer pouco simpática [risos]. Sou uma pessoa que faz o seu trabalho e tudo o que diziam de mim, de especialistas ou de alguns adeptos, passava-me ao lado, não influenciava o meu trabalho. Faço, como sempre fiz, o melhor para o clube porque sou um jogador que dá prioridade à equipa e só depois a si próprio. Se ganhamos e eu não marco fico feliz porque ganhamos, não sou uma pessoa egoísta que pensa apenas em si mesmo. Meto sempre os interesses dos outros, da equipa e até dos companheiros à frente dos meus. O meu pai dizia-me sempre "tens de ser um pouco mais egoísta", mas eu não sou assim. A verdade é que fiquei aí cinco anos porque trabalhei, porque dei tudo, porque sou um bom ponta de lança e tenho qualidade. Por isso estou agora na liga espanhola e não noutra parte.
O que faria diferente na sua passagem pelo Benfica?
-Essa é difícil... Acho que não mudava nada. Tudo o que aconteceu fez-me crescer como jogador e como pessoa. E tudo está bem assim, tenho a minha história no Benfica, deixei a minha marca.
Teve sempre apoio dos dirigentes nos momentos mais conturbados?
-Sempre fui apoiado por todas as pessoas do Benfica. Eu também estava concentrado no meu trabalho e por isso fiquei aí cinco anos. Se não fizesse o meu trabalho não estaria tanto tempo. Sempre fui acarinhado por eles e no final os 74 golos que marquei dizem tudo. É um número que não me parece assim tão mau. Não é fácil ficar no Benfica cinco anos porque o jogador que não tiver ou não mostrar qualidade vai rapidamente embora porque o Benfica é um dos melhores clubes do mundo, com a história que todos conhecem.
Ainda podia estar no Benfica ou o sistema de jogo não o beneficia?
-Penso que sim. Porém, no último ano estive pela primeira vez na minha carreira muitas vezes lesionado e os outros avançados, como Darwin, estavam a fazer bem o seu trabalho. Mas saí porque eu queria mudar. Achei que cinco anos já chegava e queria experimentar outro campeonato, outro país. Ainda assim, com a qualidade que tenho, podia jogar pelo Benfica, sem problema.
A decisão de deixar a Luz no início da época foi mais sua ou partiu de Schmidt?
-Eu queria sair. Sabia que ia mudar muita coisa no Benfica, que era uma mudança de ciclo. Ele falou comigo e disse-me claramente não iria contar comigo com a importância que eu desejaria, que contaria comigo se eu continuasse no plantel, mas sem prometer que iria jogar muito. Foi direto e sincero comigo. Eu quando cheguei também lhe disse que estava a ver possíveis destinos, porque também queria experimentar outros campeonatos. Ele disse-me que não havia problema e que iria treinar com ele como se fosse um jogador importante do grupo.