REPORTAGEM (parte 3) - O mestre Paulo Araújo acredita que a medicina tradicional chinesa vai acabar por conquistar o seu espaço na alta competição. O Barça já trabalha os seus jogadores com acupuntura, "é uma questão de tempo"
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Por tratar tantos futebolistas ao longo dos anos, Paulo Araújo acabou convidado por André Villas-Boas para integrar a equipa técnica que levou para o Shanghai SIPG, em 2017.
Fez parte do departamento médico do clube onde o treinador português trabalhou em 2017
"Em Xangai, fui "team doctor" e "mental coach". É de agradecer a confiança que ele depositou em mim. Mas foi um trabalho e um desenvolvimento árduo, porque é necessário conhecer por dentro as coisas, as rotinas, o dia a dia dos jogadores, etc... Mas só uma pessoa com a mentalidade aberta como a do André me podia dar essa oportunidade e por isso estou-lhe eternamente grato", comentou Paulo Araújo.
Não que a medicina tradicional chinesa e as suas técnicas não sejam já reconhecidas, mas nem todos os obstáculos são fáceis de ultrapassar. Quando diz que recupera uma rotura em sete dias e que a mesma lesão, para a medicina convencional, demora oito a dez semanas para ser debelada, o desconforto entre os médicos ocidentais, que são confrontados com a situação, é inevitável: "Percebo onde quer chegar e por isso é que muitas vezes trabalho em segredo. Mas é como em todas as profissões: há os que se acomodam e os que procuram desenvolver e investigar novas abordagens."
Marega foi posto nas mãos de um fisioterapeuta que investigou e desenvolveu novas técnicas. "Sim, o tratamento feito pelo Eduardo Santos é o reconhecimento de que havia um método muito mais rápido do que o convencional para o recuperar. Sabiam que isso era possível e a verdade é que ele foi e veio, jogou e não houve reincidências. O Eduardo é um fisioterapeuta de topo, com provas dadas, reconhecido no mundo do futebol, que já não precisa de trabalhar em segredo há muito tempo, porque há muitas evidências do trabalho dele. Não tenho dúvidas de que, no futuro, os clubes vão ter acupuntura, aliás o Barcelona já tem, isso dito pelo Tello, que também já tratei, e que já fazia lá", revelou.
"Ao picarmos num ponto que induz a vontade, vamos alterar a biologia do organismo"
Crescer como um bambu
O mestre está convencido que será uma questão de tempo até a medicina tradicional chinesa ocupar um lugar próprio na alta competição. "Há um provérbio que sigo que é "crescer como um bambu"; quer dizer crescer na vertical, sendo flexível como o bambu, que cresce, faz um calo e dá outro passo, mas sem partir. Não é um processo rápido. Com a medicina tradicional chinesa, vai ser igual, vai demorar, mas vai chegar, é inevitável, porque o que conta é o paciente e aí, quando a dor desaparece, eles não querem saber da evidência científica, querem é curar-se", frisou.
A medicina tradicional chinesa é mais um método para alcançar o mesmo fim e não impediu que Paulo Araújo fizesse parte do mesmo departamento médico no Shanghai SIPG do que o fisioterapeuta brasileiro que curou Marega.
"Na acupuntura, ao picarmos num ponto que induz a vontade, vamos alterar a biologia do organismo, levando-a a acelerar a cicatrização dos tecidos e a regeneração da células, tudo de forma natural, com as substâncias do próprio organismo. Aplicam-se unguentos por forma a ajudar a curar a lesão e agulhas apenas para direcionar essas substâncias", resumiu, apontando de seguida à importância da vertente psicológica na alta competição: "Diria que o bom psicólogo é "mental coach". O psicólogo que ficar só pelo gabinete perderá muito na sua ação sobre os atletas. Os jogadores não se abrem muitas vezes, porque não veem relevância para o fazer. Sou "mental coach" há anos, como mestre de kung fu, e acredito que não estar no terreno retira a capacidade de intervenção."
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