REPORTAGEM (parte 2) - Paulo Araújo, especialista em medicina tradicional chinesa, comentou o muito falado desarranjo da estrela argentina do Barcelona
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As imagens de Lionel Messi a vomitar antes de entrar em campo sucederam-se a dada altura. O problema poderia ser tratado através da medicina tradicional chinesa, refere Paulo Araújo, especialista em medicina tradicional chinesa, a O JOGO.
"Há algo a perturbar o fígado dele que desencadeia aquilo tudo e se resolve só com acupuntura"
"Começa-se por fazer um diagnóstico em que medimos a pulsação em três pontos diferentes do pulso direito e do pulso esquerdo. Cada pulso vai dar-me o estado de cada órgão e víscera, pela forma de bater. A língua também é analisada. Quando cheguei a Xangai, na pré-época, a seguir aos exames da medicina ocidental fiz fotografias à língua e à face de cada jogador, que foi uma base para iniciar o meu trabalho durante a época toda. Com o diagnóstico, vamos à causa que está a desregular a situação a tratar", explicou Paulo Araújo.
E Apontou o que provavelmente pode estar na origem do problema do argentino: "O vomitar aparece pelo cansaço, tonturas, dor de cabeça. É um processo que se dá ao nível do fígado, que se manifesta na vesícula, daí o vomitar. Há algo a perturbar o fígado dele que desencadeia aquilo tudo e se resolve só com acupuntura."
A saúde do fígado e do baço, como órgãos regedores de músculos, tendões e articulações, é essencial para um atleta de alta competição. "Se houver uma desarmonia do baço, vai perturbar o estômago e refletir-se nos músculos. Estando exaustos, não temos vontade de comer. Um estômago que funcione bem vai oxigenar melhor os músculos e renovar melhor o sangue, deixando o corpo menos afetado pelo cansaço", explicou.
No Shanghai SIPG, as técnicas de medicina tradicional chinesa permitiram a Paulo Araújo ultrapassar vários problemas. "A insuficiência de sangue no fígado, por exemplo, vai provocar cansaço, visão turva, meio nublada, e dá-se quando o esforço que se faz é grande e o sangue não consegue irrigar bem o fígado. Aconteceu com um jogador do Shanghai que tinha esta patologia e a partir dos 75 ou 80 minutos de jogo ficava com a visão turva, quase deixava de ver. O problema foi detetado e resolveu-se. Mas o jogador já estava tão habituado que assumia tudo com normalidade", contou.
Mestre de kung fu e de três artes marciais
Não foi só em medicina tradicional chinesa e medicina desportiva que Paulo Araújo se formou na China. O português é ainda treinador de kung fu e não só: "Sou mestre de nível quatro em mais três artes marciais para além do kung fu, o que me deu outra bagagem em termos de conhecimentos do corpo humano."
"O baço está ligado ao estômago, ao ruminar de ideias e à preocupação"
Os cinco elementos e os órgãos Zang-fu
Os tratamentos com acupuntura têm em conta os cinco elementos (água, madeira, fogo, terra e metal) e os órgãos Zang-fu, ou relacionamento mútuo entre órgãos e vísceras, para recuperar os pacientes. "Na medicina chinesa, todos os órgãos têm uma víscera que lhe é associada e através da qual eles se manifestam. O sentimento de alegria, ou de falta dela, está associado ao coração, cuja víscera é intestino delgado. O baço está ligado ao estômago, ao ruminar de ideias e à preocupação; o pulmão à tristeza, manifesta-se no intestino grosso; o rim ao medo ou ao pânico e manifesta-se na bexiga; o fígado à irritabilidade, ou cólera, e manifesta-se na vesícula. Como quem gere os tendões e as articulações é o fígado, quando há uma rotura do tendão vamos tonificar o fígado, porque é dele que vai ser exigida a cura", explicou.
Sem fitoterapia não há riscos de doping
O doping nunca foi uma questão para Paulo Araújo, que explica porquê: "Nunca prescrevo qualquer tipo de fitoterapia [n.d.r.: tipo de tratamentos da medicina chinesa com uso de ingredientes vegetais, animais ou minerais] aos atletas de alto rendimento, por causa do antidoping, por uma questão de proteção do atleta, principalmente, e de mim próprio. Como não temos produtos certificados para essas situações, abstenho-me de fitoterapia em qualquer dos casos. A acupuntura chega, não é preciso mais nada."