O dia 17 de janeiro marca mais um momento na carreira de Sérgio Conceição. Estava com um pé no FC Porto, que defrontou nesse dia, e arrasou a especulação e a má-língua ao vencer por 1-0. O treinador conta a história em entrevista exclusiva a O JOGO
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O regresso ao Dragão acabou por não se confirmar, mas estava tudo alinhavado quando V. Guimarães e FC Porto se encontraram. O treinador estava convencido que dias depois estaria a trabalhar no clube onde se destacou como futebolista. Teve todas as indicações nesse sentido. Havia no balneário jogadores a chorar pela iminência da partida, no final desse encontro que foi tão falado ao longo da semana. É Sérgio quem conta a história, a partir de uma simples pergunta.
Essa semana foi muito difícil para si?
-Tenho de confessar que gosto dessa pressão... Não me incomoda, mas houve a outra parte, a desconfiança que lançaram sobre mim, os artigos de opinião em que colocaram em causa a minha dignidade, tanto nos jornais como na televisão. Começaram por dizer que era uma estratégia - se o FC Porto perdesse em Guimarães, como perdeu, ficaria a sete pontos, como ficou.
Vencer foi dar uma bofetada?
- Não preciso de dar provas da minha dignidade, mas não podem colocá-la em causa. Isso não admito. Nunca. Houve, é verdade, um misto de sentimentos. Ia chegar ao top do futebol português e isso é um sonho de quem é treinador. Tive indicações nesse sentido por parte de quem estava a intermediar e mesmo pelo que me disseram os dirigentes do Vitória. As coisas estavam praticamente resolvidas.
Como foi preparar um jogo nesse ambiente?
-Preparei o jogo da melhor forma, como preparei todos, mas sob uma pressão incrível. Sabia que se perdesse o jogo as pessoas iam lançar uma série de intrigas.
Foi para o jogo convencido que dias depois estaria do outro lado?
-Fui focado em ganhar o jogo e depois o que acontecesse acontecia. Tinha tudo delineado na minha vida e seguro de que o futuro imediato ia passar pelo FC Porto.
Nesse cenário, sabia que podia estar a tirar três pontos à sua futura equipa e a afastá-la do título?
-Fui para esse jogo para ganhar e ganhei... sabendo que podia estar a tirar pontos a mim próprio, mas seria mais forte do que eu ter qualquer outra postura. Nem que o meu pai e a minha mãe, as pessoas que mais amo, descessem à Terra e me pedissem para perder, seria incapaz de o fazer. Podia perdê-lo de uma forma natural, até porque em dez jogos com o FC Porto ganha-se um ou dois. Provavelmente, diriam mil coisas más. O futebol nesse aspecto é mau. Nessa semana puseram em causa valores intrínsecos da minha formação. Tinha um clube a defender-me, uns adeptos fantásticos, talvez dos melhores que tive até hoje, e 25 jogadores que eram como filhos, no bom como no mau, na exigência e no carinho. Entrei nesse jogo com uma tremenda vontade de vencer.
Os jogadores sentiram toda essa atribulação ao longo da semana?
-Houve instabilidade no sentido de estarem inquietos em relação ao futuro imediato. A mim nunca me questionaram, mas abordaram os adjuntos, querendo saber se eu ia mesmo embora. Muitos deles choraram no balneário no final do jogo, pensando que eu ia embora. E não foram só jogadores... Isso deixou-me feliz e orgulhoso. Ganhámos o jogo, mas esse sentimento de perda que eles demonstraram por quem estava a orientá-los deixou-me orgulhoso. Foi significativo.
Mas o que é que aconteceu depois? O que é que falhou?
-Não sei, sinceramente. Ouvi coisas, mas não sei.
Treinar um grande... da Europa
O FC Porto esteve muito perto... mas ficou longe. A ambição de treinar um grande em Portugal parece esfumar-se... "Quero treinar um clube grande da Europa. Não tenho nada contra o FC Porto, o Benfica ou o Sporting, mas há toda uma série de circunstâncias que me levam a pensar que será difícil treinar um dos três grandes portugueses. Mas quero treinar um grande clube da Europa. Tenho a minha convicção de que isso vai acontecer. Não sou um estranho no mundo do futebol. E tenho espírito de emigrante."