Sérgio Conceição deixa comando técnico do FC Porto ao fim de sete épocas
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O treinador Sérgio Conceição está de saída do FC Porto sete temporadas depois. A desvinculação do técnico, de 49 anos, acontece alguns dias depois de uma polémica e mediatizada rutura com Vítor Bruno, seu adjunto há 12 anos, que, segundo a imprensa, será o potencial sucessor escolhido pela administração presidida por André Villas-Boas.
O acordo foi alcançado esta segunda-feira, numa reunião entre advogados da SAD azul e branca e de Sérgio Conceição, no Porto. O ex-internacional português estava vinculado ao FC Porto por mais quatro temporadas, até junho de 2028, sendo que a sua última renovação foi revelada em 25 de abril, a dois dias da histórica derrota de Pinto da Costa, então presidente há 42 anos e 15 mandatos, frente ao atual líder azul e branco’no ato eleitoral mais participado de sempre do clube.
Em 26 de maio, Sérgio Conceição assinalou o último duelo ao leme dos dragões, com a conquista da Taça de Portugal, graças à vitória perante o recém-campeão Sporting (2-1, após prolongamento), na final da 84.ª edição da prova, no Estádio Nacional, em Oeiras.
O FC Porto arrebatou o troféu pela 20.ª vez, e terceira consecutiva, enquanto o treinador selou o quarto êxito nas últimas cinco decisões, repetindo 2019/20, 2021/22 e 2022/23, e ampliou os seus recordes de jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) no banco do clube.
Desse currículo fazem igualmente parte três campeonatos (2017/18, 2019/20 e 2021/22), três Supertaças Cândido de Oliveira (2018, 2020 e 2022) e uma Taça da Liga (2022/23).
Sérgio Conceição tornou-se ainda o treinador mais laureado por um só clube nacional, ao superar as 10 conquistas de Jorge Jesus pelo Benfica, entre 2009 e 2015, evitando uma inédita temporada em branco no FC Porto, que fechou a I Liga no terceiro lugar, com 72 pontos, a 18 do Sporting e a oito das águias, acedendo à fase principal da Liga Europa.
Sérgio Conceição estava no cargo desde junho de 2017, quando substituiu Nuno Espírito Santo e regressou ao clube no qual concluiu a sua formação como jogador e juntou duas passagens pela equipa principal (1996-1998 e 2004), vencendo três campeonatos - dois durante um inédito ‘penta’ na década de 1990 -, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.
Antes de reerguer o FC Porto, que vinha de quase cinco anos seguidos sem êxitos, o ex-internacional passou por Olhanense (2012-2013), Académica (2013-2014), Braga (2014/15), Vitória de Guimarães (2015/16) e os franceses do Nantes (2016/17), numa carreira técnica principiada como adjunto nos belgas do Standard Liège (2010/11), um dos 10 clubes por si representados ao longo de uma década e meia como jogador.
Seis dias depois da investidura de André Villas-Boas na SAD, os dragões negociaram a rescisão do técnico, que até tinha entrado recentemente em rutura com Vítor Bruno - seu adjunto há 12 anos e potencial sucessor no cargo -, e foi vincando a eterna gratidão pelo anterior presidente Pinto da Costa face à crescente mudança no universo ‘azul e branco’.
Sérgio Conceição chegou a renovar contrato por mais quatro épocas, até 2028, em 25 de abril, quando faltavam 48 horas para um ato eleitoral sem precedentes na história do FC Porto, sem que essa decisão fosse unânime ou tivesse ajudado o dirigente mais antigo e titulado do futebol mundial a evitar um deslize histórico ao fim de 42 anos e 15 mandatos.
Villas-Boas tomou posse no clube 10 dias depois das eleições, mas o recordista de jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) no banco portista continuou a ser respaldado por Pinto da Costa na SAD até à conquista da Taça de Portugal pela quarta vez nas últimas cinco edições, e terceira consecutiva, graças à vitória perante o recém-campeão Sporting (2-1, após prolongamento), na final da 84.ª edição da prova, no Estádio Nacional, em Oeiras.
Ao suplantar Jorge Jesus, que o tinha orientado no Felgueiras (1995/96), como treinador mais laureado por um só clube nacional, Sérgio Conceição evitou uma inédita época em ‘branco’ no FC Porto, enquanto já dava sinais de que estava de saída 2.552 dias depois.
Competitividade nos píncaros, polémicas sem fim e tiradas marcantes retratam o técnico, de 49 anos, que chegou a intercalar três títulos (2017/18, 2019/20 e 2021/22) com outros tantos segundos lugares na I Liga, antes de encarar a pior prestação do clube na última década, ao ser terceiro em 2023/24, com 72 pontos, a 18 do Sporting e a oito do Benfica.
Os dragões habituaram-se a ser estrategas na Liga dos Campeões, traço indelével com Sérgio Conceição - somaram cinco presenças na fase a eliminar e duas idas aos quartos de final em sete temporadas -, mas estão de volta à Liga Europa, cujo novo formato em 2024/25 não atenua uma diminuição de receitas tão clara quanto inoportuna para a SAD.
As contas debilitadas foram uma constante desde que o técnico chegou dos franceses do Nantes, em junho de 2017, fase a partir da qual a administração ficou sob alçada do 'fair play' financeiro da UEFA por cinco anos, tendo essas restrições voltado no mês passado.
Nem os cerca de 540 milhões de euros (ME) acumulados em vendas desde 2017/18 nem os prémios da UEFA, estimados em 340 ME, deram folga ao FC Porto, que deixou sair vários titulares a custo zero e sentiu dificuldades em capitalizar alguns reforços, num total de 280 ME investidos.
Norteado pelo discurso frontal, efervescente e de exigência plena, Sérgio Conceição deu reprimendas públicas à SAD pela quebra gradual da qualidade dos plantéis e reivindicou méritos por ter procurado fazer muito com pouco, enquanto resgatava a mística do clube.
O campeonato conquistado em 2017/18 foi simbólico, uma vez que, apesar da badalada escassez de reforços, os ‘dragões’ evitaram um inédito ‘penta’ do Benfica e voltaram aos troféus quase cinco anos depois, findando o maior ‘jejum’ do ‘reinado’ de Pinto da Costa.
Ao agregar duas ‘dobradinhas’ (2019/20 e 2021/22), mais três Supertaças (2018, 2020 e 2022) e a única Taça da Liga do seu historial (2022/23), o FC Porto arrebatou 11 dos 28 troféus nacionais disputados em sete épocas, contra oito do Sporting e cinco do Benfica.
Assumindo, sem hesitar, que não vinha para aprender, mas para ensinar, quando voltou ao clube no qual finalizou a sua formação como jogador e teve cinco conquistas na dupla passagem pelo conjunto principal (1996-1998 e 2004), Sérgio Conceição adaptou-se em função dos recursos ao dispor e variou nuances táticas nos tradicionais ‘4-4-2’ ou ‘4-3-3’.
A obsessão por chegar rápido à baliza adversária, sem grandes preocupações estéticas, encontra parecenças no modo como subiu a pulso no futebol e jamais virou a cara à luta, mesmo quando ficou órfão aos 15 anos, alimentando-se pelo desejo indómito de vencer.
Nascido em 15 de novembro de 1974, em Ribeira de Frades, nos arredores de Coimbra, Sérgio Paulo Marceneiro Conceição impôs-se como homem de família, devoto e solidário perante as agruras da vida, definindo um temperamento impulsivo e atraído pelo choque.
Além das 25 expulsões como técnico do FC Porto, envolveu-se em diversas altercações, algumas em defesa dos cinco filhos futebolistas - já orientou Rodrigo e Francisco, atual extremo ‘azul e branco’ -, que nasceram da paixão de infância com a sua esposa Liliana.
Esse caráter, de semblante volátil em função do resultado, raras vezes foi consensual e agudizou-se numa esforçada carreira como extremo, na qual brilhou pela Lázio, com as conquistas da Liga italiana, Taça das Taças e Supertaça Europeia, alinhando ainda pela seleção principal portuguesa no Euro2000 e no Mundial2002, com 12 golos em 56 jogos.
Sérgio Conceição deixou os relvados em representação do PAOK Salónica, então do ex-selecionador luso Fernando Santos, e subiu a diretor desportivo dos gregos, em 2009/10, antes de voltar a Liège, onde tinha sido eleito melhor jogador da Liga belga, em 2005/06, para se aventurar nos bancos como adjunto do amigo Dominique D’Onofrio no Standard.
A estreia como técnico principal deu-se na Olhanense, em janeiro de 2012, seguindo-se Académica, Sporting de Braga, Vitória de Guimarães e Nantes até rumar ao FC Porto e personificar as máximas erguidas nos anos 70 por Pinto da Costa e José Maria Pedroto.