Sérgio Conceição a O JOGO: "Danilo é grandíssimo jogador e um homem que admiro"
ENTREVISTA (Parte 5) - O FC Porto-Krasnodar marcou a época, mas o treinador culpa mais a inadaptação do que um eventual bloqueio provocado pela eliminação. E admite que os dragões foram impotentes na Liga Europa.
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Um desvio para regressar ao incidente do início de época com Danilo valeu uma senhora vénia ao capitão e ao papel que teve no título. Sérgio admite responsabilidades no fracasso do acesso à Champions.
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Pareceu que o FC Porto-Krasnodar criou um bloqueio demasiado longo na equipa, que na Europa nem chegou a ser ultrapassado. Sentiu isso?
-Não foi uma questão de bloqueio. A equipa era pouco consistente e, na Europa, encontrou adversários mais competitivos. Também não começámos bem o campeonato, mas era mais falta de consistência do que bloqueio ou outra razão qualquer. Mesmo quando ganhámos ao Young Boys, podíamos ter sofrido um ou dois golos antes dos nossos. Tínhamos jogadores novos, utilizei o Loum, o Uribe, que vinham de realidades diferentes. O Loum agora é um jogador diferente e do Uribe nem se fala. E apanhámos equipas que, não tendo o poderio do FC Porto em termos históricos e até na qualidade individual, estavam melhores do que nós coletivamente.
O pecado original foi ter usado muitos reforços nesse jogo, demasiado cedo na época?
-Foi por aí... Tínhamos ganho 1-0 lá. Nakajima, Luis Díaz, por exemplo, jogaram e pensei que podiam ser importantes numa determinada fase do jogo. Mas é verdade que o treinador nem sempre acerta.
"Quem pisa o Olival tem de perceber a sua função e responsabilidade. Se for assim, não há problema nenhum"
Houve alguma relação entre essa escolha e o incidente com o Danilo no estágio?
-Não. Deu-se demasiada importância a um pseudo-episódio. Episódios menos confortáveis para treinadores e jogadores existem sempre. Estamos a falar de muita gente e eu quero ter pessoas com carácter e personalidade aqui dentro. Quem pisa o Olival tem de perceber a sua função e responsabilidade. Se for assim, não há problema nenhum. Temos de olhar para o Danilo é pela forma como acabou o campeonato e não falo de ter jogado (fascinou-me nessa fase final, com a final da Taça incluída): falo dos jogos em que não participou e esteve no banco a puxar pelos colegas. Chegava ao intervalo e era o jogador mais importante da equipa, não estando a jogar. Posso e devo realçar isso. Como treinador, é fantástico ter um capitão que também teve a sua evolução nessa função. O Danilo é um grandíssimo jogador e um homem de princípios, que admiro. Quando é assim, divergências haverá aqui e em todo o lado. Foi mais o que quiseram criar a partir de um possível problema do que o que valorizámos aqui dentro. Não quer dizer que não tenha havido durante a época muitas situações dessas, mas que não foram faladas, nem saíram lá para fora.
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Ainda sobre a UEFA: o campeonato pede cada vez mais ataque e a Europa pede cada vez mais defesa?
-Tem a ver com a diferença de competitividade para as outras ligas. Entre nós, existe competitividade, mas é diferente da que Inglaterra, Espanha ou Alemanha dão. A intensidade, a qualidade individual... É por isso que é muito difícil ganhar. Muitas vezes precisámos muito mais de atacar e descobrir espaços, de desmontar o processo defensivo dos adversários no campeonato do que na Europa. Aí tens de ser muito consciente do que deves fazer sem bola. Se atacas com sete ou oito jogadores, tens de estar equilibrado na mesma, porque o adversário deixa um ou dois jogadores soltos e, sem reação à perda ou transição forte, podemos sofrer com isso. Na Europa é um trabalho diferente, em termos de consistência defensiva da equipa.
"A equipa era pouco consistente e, na Europa, encontrou adversários mais competitivos"
A intensidade do adversário pareceu um problema para o FC Porto. Os jogos com o Glasgow Rangers foram exemplo disso.
-É verdade. Encontrámos equipas com as mesmas características do que nós. Foi por aí.