ENTREVISTA (Parte 3) - Como ter a certeza de que um jogador de outro contexto será capaz de responder? Sérgio põe um asterisco em Zaidu e fala no que o "espetáculo" Uribe deixou por fazer.
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Uribe é o exemplo de uma contratação que confirmou quase tudo o esperado. Falharam as subidas à área do adversário por excesso de contenção do colombiano, diz Sérgio.
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Pareceu que a chave, em pelo menos três dos clássicos, voltou a ser o Marega. Em Alvalade, pô-lo a partir da esquerda para apanhar o Coates nas diagonais. O Carvalhal já tinha feito o mesmo com o Taremi. É coincidência?
-Não teve a ver só com esse jogo. O Taremi é um jogador interessante, consegue ser uma referência na frente, consegue sair daquele espaço que é normalmente dos atacantes, joga de costas para a baliza, joga em apoio e também nos movimentos curtos à profundidade. É um jogador refinado e, pelo que vi, em cima da linha defensiva, é um avançado de equipa grande porque descobre espaços onde é difícil encontrá-los. Só jogadores altamente refinados é que o conseguem fazer. Tem essas características que acho interessantes e, depois, acrescenta uma personalidade de que gosto. É muito humilde, respeitador do que o treinador pretende, do trabalho coletivo.
Taremi não era um desconhecido. Era titular de uma seleção mundialista. E, no entanto, às vezes parece muito difícil aos clubes grandes encontrarem jogadores.
-Muitas vezes, conta a capacidade e qualidade da organização do clube para descobrir esses talentos. Não é fácil... Nem o melhor jogador do Irão, ou de uma dessas seleções num campeonato que não seja da Europa, tem garantidamente capacidade para jogar num FC Porto. Se calhar, num primeiro momento, passar por um clube mais pequeno é normal e natural. Mas há muito a melhorar em termos de scouting e não é só no FC Porto. Temos uma quantidade de jovens e de talentos que não é normal num país com 10/11 milhões de habitantes. No Brasil bate-se numa pedra e aparecem dez jogadores, aqui é mais difícil, mas é de louvar a quantidade e qualidade que existe cá. O futuro passa por aí.
"Taremi consegue sair daquele espaço que é normalmente dos atacantes, joga de costas para a baliza, joga em apoio e também nos movimentos curtos à profundidade"
Mas também é cada vez mais difícil usufruir deles...
-É, porque não somos competitivos no mercado. Aparece um jovem com qualidade e estão logo os tubarões todos de olho. O mercado passa por descobrir jovens com talento e essa tendência vai acentuar-se. As nossas seleções são boas nos diversos escalões, trabalha-se bem, há éne jogos internacionais e quando eles chegam ao 16/17/18 anos já os maiores clubes da Europa os conhecem e vão buscá-los.
Zaidu parece um jogador talhado para Sérgio Conceição. Potente, ofensivo, razoável no jogo aéreo. Que expectativa tem?
-É difícil olhar para jogadores num contexto diferente do nosso. É fácil detetar aqui ou acolá, mas depois há o contexto. Existe potencial no Zaidu, há margem para ele crescer e evoluir - não tenho dúvida de que vai ser melhor jogador - mas a exigência do FC Porto não é para daqui a três ou quatro meses, é já para o primeiro jogo com o Braga. É para isso que temos de olhar. Estes jogadores chegam de clubes diferentes, em que a sua formação não foi a melhor. Não foi como estar num FC Porto. Não podemos esquecer que jogava no Mirandela e passou pelo Santa Clara. É sempre um desafio para estes jovens, mas o maior desafio é eles terem o carácter e personalidade para entenderem que estão num clube onde a pressão e a exigência são grandes. É mais nesse sentido, do que em fechar bem os espaços interiores ou o alinhamento defensivo. Isso trabalha-se e criam-se as rotinas.
"Existe potencial no Zaidu, há margem para ele crescer e evoluir"
O Uribe não come linhas, em força, como o Herrera e deixou de haver um jogador assim no FC Porto. Porque são difíceis de encontrar ou porque não é necessário?
-Queria um jogador que tivesse a capacidade de perceber bem o que pretendo naquilo que é a ocupação de espaços, quando a equipa não tem bola. Por isso, tinha de ser alguém com alguma experiência. Ao mesmo tempo, queria um jogador que permitisse à equipa ter chegada a zona de finalização. O Matheus é um jogador de equilíbrios, muito inteligente em termos de posicionamento, porque ele recupera muitas bolas sem fazer grandes piques. Adivinha para onde o adversário vai fazer um passe, e nisso é fantástico. Por isso, disse uma vez que ele não é um jogador espetacular, mas é um espetáculo de jogador. Dá à equipa um equilíbrio fundamental. Mas é verdade que depois faltou o que já começou a ter na fase final da época. Em Braga marcou um golo e teve outro anulado antes. Veio de uma realidade diferente, onde o futebol é diferente, onde não há esse rigor em termos táticos e ele soltava-se mais. Aqui ficou com um travão, mas não pode tê-lo. Um médio como ele, e jogando com alguém como o Danilo ao lado, pode e deve soltar-se.
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