ENTREVISTA (Parte 7) - Saravia, Carraça e uma equipa em suspenso pelas vendas que tem de fazer e por um arranque de I Liga espinhoso. Conceição tem três contratações em falta.
Corpo do artigo
Famalicão, seguido de perto pelo V. Guimarães, ameaça mudar o paradigma das contratações nos clubes pequenos e médios, embora Sérgio anteveja pontos negativos na estratégia. Mas os portugueses têm de ser "criativos" no mercado e Marega é um exemplo.
"Há outros clubes que gastam 20 milhões num jogador só e são fracassos"
Depois de João Pedro e Janko, o fracasso de seis milhões de euros com Saravia e, entre os três, dinheiro que dava para contratar um craque...
-Há outros clubes que gastam 20 milhões num jogador só e são fracassos.
O que falhou com o Saravia?
-Muitas vezes olhámos para o jogador fora do contexto. E eu também cometo erros. O Saravia jogou na seleção argentina, não era um desconhecido, para além de que continua a ser um jogador interessante. Tanto assim é que o clube onde está quer ficar com ele mais tempo. Há certos requisitos que são essenciais aqui e muitas vezes jogadores interessantes, fora deste contexto, acabam por não ter sucesso. Outros são surpresas. Vejam o caso do Marega. Antes da minha chegada, teve muita dificuldade, o crédito que tinha era fraco e hoje arrisco a dizer que é dos jogadores mais importantes. Não digo o mais importante porque esse é a equipa. Além de ter melhorado aspetos do seu jogo, a evolução geral é fantástica e o estado de espírito dele é completamente diferente. É um jogador que dá gosto ver treinar. Depois de três épocas, treinar como ele treina é das maiores vitórias que posso ter.
Pelo menos para o público menos conhecedor, a contratação de Carraça é surpreendente. Se funcionar, significa que temos um problema sério de preconceito no futebol português?
-Em Portugal, cada vez mais se olha para o mercado interno. O Sporting foi buscar o Pedro Gonçalves, o Taremi jogava no Rio Ave, o Zaidu no Santa Clara. Olhámos para a nossa realidade e não é fácil. O Carraça tem 27 anos, sai livre do Boavista. Em termos de custos, não tem nenhuns, é interessante. É um jogador que conhece a Liga, que percebe a exigência do FC Porto, está numa boa idade a nível de experiência. E foi com esse intuito que o FC Porto pensou no Carraça.
12639866
No mercado, há margem para que a inteligência bata o dinheiro?
-Tem de haver, forçosamente. Mas tem de haver também um trabalho de todos, porque o futuro dos clubes tem a ver com essa inteligência e perspicácia de perceber as situações, para que se cometa menos erros.
Este campeonato não foi diferente só por causa disso. Alguns plantéis, como os do Famalicão e do V. Guimarães, foram construídos de formas inovadoras. Mudaram o paradigma?
-Percebo, mas acaba por haver uma contradição. O Famalicão fez um trabalho fantástico e o Vitória está a fazer agora, neste mercado, ao ir buscar segundas linhas de equipas importantes de Espanha, Inglaterra. Mas há jovens portugueses que necessitam também dessa oportunidade na I Liga. É uma questão de equilíbrio e de perceber quem gere ou comanda o clube. Se sou um fundo, se calhar dá mais jeito ir buscar jogadores a determinados sítios para depois poder usufruir desse talento escondido. Se calhar, o jogador português dá menos.
https://d3t5avr471xfwf.cloudfront.net/2020/09/oj_sc_e_os_reforcos_que_falt_20200904204343/mp4/oj_sc_e_os_reforcos_que_falt_20200904204343.mp4
Entre saídas e contratações, o plantel 2020/21 parece um pouco atrasado. Quantos reforços faltam ainda?
-Quantos acha que faltam?
Dois?
-Direi três.
Um ponta de lança, que deve ser o Toni Martínez...
-Por aí já não entro. Acho que falta alguma criatividade, alguém que possa jogar a extremo e por dentro, mas que tenha esse perfume no jogo. E vamos ver a questão dos defesas-centrais.
Ficou desiludido com o desfecho do Nuno Santos, que acabou por ir para o Sporting?
-Na vida, o que tiver de acontecer, acontece. Muitas vezes, ficamos muito tristes no momento em que perdemos um jogador, mas estou a lembrar-me do Bruma, que falhou no ano passado. Em vez dele, veio o Luis Díaz que foi a surpresa do campeonato, para mim. Um jogador que estava no Barranquilla, sem competitividade nenhuma, um selvagem. Chegou aqui e foi dos jogadores estrangeiros que fizeram mais golos. Há males que vêm por bem. Isto não tem nada a ver com a qualidade do Nuno Santos, que é apreciada por muita gente e por mim também. Temos de aceitar as situações.
https://d3t5avr471xfwf.cloudfront.net/2020/09/oj_sc_sobre_luis_d_20200904225839/mp4/oj_sc_sobre_luis_d_20200904225839.mp4