Extremo abriu o livro e reviveu uma experiência que custou 4,7 milhões por minuto; Jovem norueguês considera que "o futebol é um mundo doente" e diz que "nada correu" como tinha planeado no Benfica, ao ponto de não ter resposta para a ausência de minutos. Jogou três, desde janeiro...
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Deixou o Benfica no último dia da janela de transferências, manteve-se em silêncio, mas a frustração veio agora ao de cima. Schjelderup não se conteve e, ao serviço da seleção norueguesa de sub-21, fez um balanço negativo da passagem pelo Benfica, com críticas e vários adjetivos que rimam com "frustração" e até "desmotivação", que proferiu ao longo de uma entrevista à TV2 do seu país, chegando mesmo a avaliar o que viveu como "muito estranho".
Reforço contratado em janeiro pelos encarnados, o extremo de 19 anos chegou e não jogou. Aliás, de então para cá, até ao dia 31 de agosto, somou três minutos de águia ao peito, contra Marítimo e Inter ainda na época passada e FC Porto, na Supertaça já da temporada em curso. Schjelderup foi um investimento de 14 milhões de euros, o que dita um gasto de 4,7 milhões por cada minuto em campo. Este custo diminuiu 2,5 milhões com o regresso à procedência, o Nordsjaelland, que assumiu esse desconto ao recebê-lo por empréstimo.
A história até se iniciou com muitos sonhos à mistura e uma grande expectativa, sobretudo quando foi informado "na véspera de Ano Novo, que algo podia acontecer", sendo esse algo a transferência para as águias. Schjelderup nem dormiu. "Acho que só me apercebi verdadeiramente que tinha assinado pelo Benfica algumas semanas mais tarde quando já lá estava", recordou o jovem dianteiro que já voltou a jogar pelo Nordsjaelland, clube que deixou como melhor marcador (e também do campeonato dinamarquês), e fez um "hat-trick" pelos sub-21 da Noruega, diante de São Marino.
O estado de graça durou pouco tempo, como descreveu. "Foi necessário um mês para ficar no momento de forma ideal para poder jogar, mas claramente esperava ter jogado mais. Disseram-me que iria ser lançado e jogar uns minutos. Esperava que isso tivesse acontecido, mas as coisas não seguiram esse caminho. Porquê? Realmente, não tenho uma resposta para isso. Sinto que dei sempre tudo nos treinos e que iria ter oportunidades. Mas nessa altura o Benfica era uma das melhores equipas na Europa, vencia todos os jogos do campeonato por 3 ou 4-0 e disputava a Liga dos Campeões. Era um pouco difícil entrar na equipa", referiu.
O nono a entrar abriu a porta para deixar a Luz
Num primeiro balanço, "nem tudo correu de acordo com os planos" e, embora tenha consciência que "tudo pode acontecer em futebol", isto alimentou uma conclusão negativa. "O mundo do futebol é um mundo doente", atirou sem explicar, mas descrevendo de seguida o que viveu na pré-época. "Fui o nono jogador a entrar com o Feyenoord [jogo particular]. Foi nesse momento que os pensamentos começaram: será que irei ter oportunidades suficientes aqui esta época ou devo encarar outras possibilidades noutro lado? A partir daí, coube ao meu empresário procurar possibilidades e dialogar com o Benfica sobre se me permitiam sair", apontou.
Schjelderup confessou que estava "com um espírito positivo e imensamente motivado", mas à porta do plantel bateram mais concorrentes, como Di María e Gonçalo Guedes. "Senti que fiz tudo bem na pré-época e que mostrei o que posso fazer. Porém, de repente, a competição aumentou mais. E tudo pareceu imensamente duro. Na minha idade, eu preciso de jogar mais do que um minuto por jogo. Foi muito importante para mim sair para algum lado e jogar", considerou, sem deixar de criticar a demora na resolução do problema: "Foi estranho porque não sabia se me permitiriam sair. Só me deram luz verde no último dia. Foi muito estranho."
O camisola 21 repetiu várias vezes que se sentiu "frustrado e chateado" porque os seus planos não se concretizaram. "Foi um pouco duro. Não posso mentir. Foi um pouco duro mentalmente. Afeta-te. Pesa na nossa cabeça quando muitas coisas acontecem. A pessoa tenta concentrar-se e dar o seu melhor, mas havia muitas coisas a acontecer nos bastidores e na minha cabeça. É complicado concentrar-se quando as coisas são incertas. Eu exijo muito de mim próprio. Não ligo nada ao que as pessoas dizem. Fico chateado comigo próprio e a pensar no que poderia ter feito de diferente. Mas chego à conclusão que fiz tudo bem, que fiz tudo o que podia", concretizou.
Quatro golos e relaxar na "bolha" sub-21
Chamado aos sub-21, Schjelderup respondeu com três golos diante de São Marino e ontem mais um à Letónia. "Vir à seleção é o melhor que me podia ter acontecido, posso relaxar completamente nesta pequena bolha com os companheiros, falar de tudo e de nada e acalmar. É muito bom para a cabeça depois do período por que passei", comentou.