Sandro recorda B SAD: "Franclim foi o pior, estava mais como fantoche do presidente"
O médio Sandro encerrou a carreira em 20/21, em Portugal, e por cá ficou a viver. Muitas lições assimiladas por quem desenha agora a vida como treinador
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Hoje com 35 anos, a residir na zona de Setúbal, Sandro já não vive do jogador consagrado que foi no Tottenham, também premiado com 18 jogos pela canarinha. Terminou a carreira em Portugal, atuando pelo B SAD, experiência futebolística de má memória mas determinante para o treinador que se anuncia nesta entrevista. “Foi dos anos onde aprendi mais no futebol, mesmo soando estranho, porque pouco joguei. Foi uma experiência impactante no B SAD, porque tive de ser muito forte mentalmente, lidar com pressão o tempo todo e acabei a fechar de forma bonita marcando um golo. Estive afastado do plantel, queria ajudar e não me deixavam. Estive a alto nível muito tempo, a questão aqui foi mental, de lidar com a rejeição. Mesmo rejeitado acreditava que podia ajudar. Ninguém acreditava!”, desabafa, expondo alguns contornos acrescidos.
“Era uma rejeição de cima, entravam e saíam treinadores, nada mudava. A vivência foi rica, nunca tinha sofrido algo assim, precisei de muita força psicológica. Os treinadores falavam que não me podiam utilizar, eu dizia que tinha experiência para segurar o jogo. Que tinham de poder usar-me algum tempo. Reclamava o papel de treinar, nem isso me deixavam. Foi tudo igual com Petit, Filipe Cândido e Franclim Carvalho”, lembra, precisando dias terríveis que vieram das imposições de Rui Pedro Soares. “Franclim foi o pior, comprou uma guerra, estava mais como fantoche do presidente. Tive uma lesão normal numa coxa, que demorou a cicatrizar, perderam a paciência e forçaram o regresso. Comecei a sentir outras dores e passaram a duvidar do meu caráter. Mas são coisas que acontecem quando se acelera o processo, não dando os passos certos. Queriam rescindir quando nem dois meses tinha, quiseram fazer isso à força, sem conversa ou respeito, tentaram pisar o meu nome”, rebobina.
“Nunca usei a minha história, o que vivi, porque queria demonstrar aos colegas o que merecia. Diziam para eu não passar por isso, mas eu reiterava que tinha de continuar, não podia rescindir. Sempre fui um médio que não desistia das jogadas, entregava-me ao jogo, não podia ser diferente por conta de um presidente que fazia coisas absurdas. Confiava em mim, sabia do meu caráter, queria dar exemplo a mim e aos outros. Para que soubessem, um dia, lutar pelos seus direitos”, frisa, tocando na mudança de chip. “Não joguei muito mas deu-me força para o que quero ser hoje, um treinador. Foi uma aprendizagem tremenda. Vou pegar em diferentes experiências e colocar na minha nova carreira”, situa, decompondo a nova paixão. “É algo que vem de trás. Começou ao sair do Tottenham. Antes não pensava, era um jovem com energia e força, todos à minha volta eram fenómenos e os jogos eram, por regra, fáceis, não precisávamos de puxar tanto pela tática. Eu não pensava o jogo. Ao sair do Tottenham, lutando na parte baixa da tabela, comecei a interessar-me muito mais pelo lado tático, entender tudo, porque tínhamos de sacar ferramentas para ganhar o jogo. Comecei a discordar daquilo que os treinadores montavam, era um sinal, pois achava que podia fazer diferente. Durante o jogo algumas coisas ficavam claras na minha cabeça, ao ver a equipa perder pontos. Fiquei viciado nessa análise do adversário.”
Apesar de estar agora muito ligado a Portugal, Sandro podia ter chegado antes como reforço do Sporting de Jesus em 2016. “Não tive sorte com os presidentes em Portugal. Nos exames médicos, então com o Varandas, só quiseram avaliar um joelho e percebi que havia ‘sacanagem’. Eu entrei na carrinha para assinar o contrato e já queriam reduzir o salário. Eu rompi essa conversa...”
“Dei a vida num clássico e nem sabia que ia para prolongamento”
Sandro tem claro que o Tottenham mudou a sua vida. “Eu era a cara do futebol em Inglaterra. Noutros lados sofri muito pelo meu estilo de jogo, agressivo mas na bola. Em Inglaterra isso não é nada! Era aclamado, batiam palmas de pé. Era paixão, cada jogada no limite. O meu primeiro jogo foi com o Arsenal, na Taça, o Redknapp testou-me mas eu disse que queria sempre estes jogos”, recorda. “Achava que o jogo tinha acabado empatado nos 90 minutos. Estava louco que acabasse ali, o empate com o rival parecia-me ótimo, não fazia ideia do prolongamento. Estava exausto. Acabei por pedir para sair ao fim de alguns minutos e a equipa sofreu três golos. Os adeptos elegeram-me o melhor do Tottenham e entenderam logo quem contrataram. Dei a vida num clássico”, recorda.