Desde que chegou à presidência do Braga, António Salvador já trabalhou com 19 treinadores, mas reconhece os méritos da estabilidade. Carlos Carvalhal é uma aposta "para muitos anos".
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Na última temporada, o Braga viu passar pelo banco nada menos do que quatro treinadores diferentes: Sá Pinto, Rúben Amorim, Custódio e, finalmente, Artur Jorge. Apesar da fama de impulsivo no relacionamento com os técnicos principais, António Salvador reconhece que a estabilidade é um trunfo para uma equipa que tem títulos como objetivo e vê em Carlos Carvalhal, "um bracarense e um braguista", o homem certo para levar a cabo o projeto de crescimento sustentado que defende para o clube.
O próprio Carlos Carvalhal já disse que tem sonhos e projetos de carreira a médio prazo. Sente que é um risco voltar a perder o treinador antes do tempo?
-Infelizmente, esta é a vida dos clubes. O Carlos Carvalhal tem um contrato de dois anos, espero poder renovar com ele em breve por mais anos. Esse é o nosso objetivo, mas a vida dos clubes portugueses é esta. A diferença de poderio económico do nosso futebol para o de outros países é enorme e, muitas vezes, somos mesmo forçados a vender. Mas, de forma muito concreta, aquilo que queremos em relação ao Carlos Carvalhal é que ele fique cá por muitos anos, queremos em breve renovar com ele, até porque, para além das qualidades técnicas, é um homem da casa, que vive este clube como ninguém, que foi cá jogador e que é braguista. Agora, sabemos que há sempre essa possibilidade. Quando assinei com o Rúben Amorim, e quando pus uma cláusula de rescisão de dez milhões, ele próprio me disse que ninguém a iria exercer, mas o que é certo é que isso aconteceu. Portanto, nunca sabemos o que vai acontecer.
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Vem aí a Taça da Liga, não ganhá-la já será uma frustração?
-O importante é estar no momento de decisão e o Braga tem estado. Todos gostariam de estar lá. É crucial que a equipa esteja focada no primeiro jogo e, se tudo correr bem, ir à final e lutar pela vitória. Vamos ter adversários de peso. É uma luta titânica, tal como na época passada.
"Já fui mais impulsivo..."
Com fama de hiperativo e de ser um presidente que muda muitas vezes de treinador, o líder do clube bracarense confessa que, com o passar do tempo e a experiência, o foco derivou para a estabilidade
Admite que há uma forma de gestão presidencialista no Braga?
-Quando se ganha, ganham todos, mas nas derrotas o presidente é que assume as responsabilidades. E eu assumirei sempre as minhas responsabilidades. Sempre que há decisões de fundo, ouço toda a gente envolvida, todas as áreas, e depois tomo a decisão, mesmo que essa decisão não vá ao encontro do que as pessoas entendem que deve ser. Mas, na generalidade, estamos em consenso, e todos percebem o que queremos.
Não há uma formação específica para se ser presidente. Como é que se preparou para este cargo? Foi um processo contínuo?
-Digo sempre às pessoas que estão comigo que devemos aprender com o que as outras pessoas fazem bem. Não devemos ter vergonha de ver o que as outras pessoas fazem bem, o que não invalida que tenhamos também as nossas ideias, o nosso cunho próprio e saibamos para que direção queremos ir. Sabemos o que queremos e temos de nos ajustar à realidade, às mudanças no desporto. É necessário termos pessoas competentes à nossa volta, e tenho tido a felicidade de saber escolher essas pessoas, que sentem o clube e que trabalham de forma intensa. A liderança tem de ser intensa e deve incutir ambição.
Tem a fama de ser impulsivo e de mudar de treinador com uma certa frequência. É uma fama que se justifica?
-Já fui mais impulsivo... Os tempos mudam-nos um pouco, a experiência também nos muda. Admito que já cometi muitos erros à frente deste clube, mas também reconheço que fiz mais coisas boas do que erradas. É importante reconhecer que se errou e houve medidas que não devia ter tomado. Essa é uma fase mais antiga, agora a estabilidade é o nosso foco.
A relação entre presidente e treinador é complicada?
-Ao longo de todos estes anos tive sempre uma relação excecional com todos os treinadores, no dia a dia, no ambiente, na relação e não tenho razão de queixa de nenhum deles. Aliás, sou amigo de todos os treinadores que tive durante este trajeto no Braga. E é com enorme satisfação que vejo onde estão hoje os treinadores que escolhi, estão em grandes clubes na Europa e em Portugal. Os treinadores dos ditos três grandes passaram pelo Braga. Este reconhecimento do trabalho dos treinadores também é algo que nos enche de orgulho e que nos faz continuar a trabalhar desta forma.
Já agora, quando contratou Carlos Carvalhal e lhe ofereceu um contrato de duas épocas, o que é que lhe pediu concretamente?
-Pedi-lhe para termos uma equipa competitiva, que jogasse bom futebol e que desse seguimento ao que se tem vindo a fazer, isto é, com uma equipa-base muito forte e também com o objetivo de relançar a nossa formação, que é muito importante para o crescimento e sustentabilidade do clube. Queremos criar uma onda de futebol positivo, de maneira a que possamos discutir a vitória e o resultado em cada campo.
"Pandemia coloca em risco todos os clubes"
Neste momento, o Braga é um dos clubes mais equilibrados em termos financeiros do campeonato português e no último exercício, relativo à época 2019/20, apresentou um lucro recorde de 22 milhões de euros. A pandemia coloca em risco esse equilíbrio?
-A pandemia coloca em risco todos os clubes em Portugal. Seria incoerente da minha parte dizer que não coloca riscos. Quando digo que tenho de me recandidatar, é precisamente por ter consciência das dificuldades que aí vêm. Seria fácil sair agora. Se, economicamente, o clube estava preparado para enfrentar este primeiro impacto da pandemia, é preciso preparar o futuro. Se este ano, mesmo sem vendas na janela de transferências de verão, e apesar das perdas de receita, conseguimos passar a época sem qualquer tipo de problema, teremos de nos preparar para os próximos anos, reajustando aquilo que for preciso reajustar atempadamente com a consciência de que, muitas vezes, é nestes momentos de crise que devemos aproveitar as oportunidades. Quando foi o lançamento da segunda fase da Cidade Desportiva em julho, mesmo numa altura pandémica, disse que é nas grandes dificuldades que se aproveitam as grandes oportunidades. Não tenho dúvidas que daqui a um ano, quando a segunda fase da Cidade Desportiva estiver concluída, depois de um ano e meio de pandemia, o Braga vai estar preparado para agarrar a oportunidade e para mostrar que se preparou a tempo para lidar com as dificuldades que se avizinham.
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