António Salvador em entrevista: "O Braga vai lutar por títulos de forma coerente"
Presidente do Braga recebeu O JOGO num camarote da Pedreira e, numa entrevista de 60 minutos, apontou o dedo aos três grandes, acusando-os de impedir o crescimento dos outros clubes
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Felicíssimo com o trabalho de Carvalhal, com quem espera renovar, Salvador não mete o Braga na luta pelo título, mas também não o afasta. E diz que vai ser novamente candidato.
Já confessou várias vezes a vontade de ver o Braga conquistar o título de campeão. Sente que esse objetivo está mais próximo?
-Já esteve mais longe. É importante perceber que temos vindo a crescer na última década e a criar sustentabilidade desportiva e económica que nos leva a que possamos estar cada vez mais próximos de um objetivo comum a toda a cidade e adeptos. Temos ganho outros títulos e, se se fizer uma análise à última década, além da Taça Intertoto, já fomos a uma final da Liga Europa, em 2011, e em 2010 fomos vice-campeões nacionais e lutámos pelo título até à última jornada. Aliás, merecíamos ter sido campeões nesse ano; se não tivesse havido a história dos túneis, e outras, provavelmente teríamos sido a equipa que mais merecia ganhar aquele título. Não nos deixaram ganhar, mas fomos os melhores em campo. Estivemos também na Liga dos Campeões a seguir, ganhámos uma Taça da Liga, em 2013, e uma Taça de Portugal, em 2016. No ano passado, vencemos outra Taça da Liga e estamos aqui para continuar a trabalhar. É preciso perceber que temos de criar bases e raízes para poder estar mais próximo da linha da frente. Na última década, o Braga tem estado próximo dos primeiros lugares, sempre nos quatro primeiros, e permanentemente nas competições europeias. Fácil é chegar lá uma vez ou de vez em quando, difícil é manter permanentemente este estado de exigência e de competência para o Braga poder estar nos momentos decisivos. É isso o Braga tem feito.
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Acha que o sonho do título pode ser conseguido ainda esta época?
-O Braga teve a felicidade de contratar um treinador que vive de forma intensa este clube, é uma pessoa da casa, da cidade, que cresceu apaixonado por este clube e que o sente como ninguém. É a pessoa certa para desenvolver o trabalho que nós queremos e dar seguimento ao que tem vindo a ser feito nos últimos anos. Estamos muito satisfeitos com o trabalho realizado. Estamos a fazer uma campanha na Liga Europa muito boa e foi a segunda vez que fizemos mais pontos na fase de grupos. No campeonato, estamos na luta, bem posicionados, e sempre definimos que o objetivo é o próximo jogo. Ele tem dito sempre isso, e eu também lhe digo que se nos focarmos no próximo jogo e o vencermos, obviamente chegaremos ao fim com os nossos objetivos alcançados.
"O grande problema do futebol português é a desigualdade económica e social entre os clubes"
Em termos de infraestruturuas, o Braga já está ao nível dos denominados grandes e em alguns casos até está à frente. O que falta então para o clube poder dar o passo que lhe permita estar não perto dos grandes, mas entre os grandes?
-Em termos de organização e estabilidade desportiva e económica, o Braga tem conseguido estar a esse nível. Em termos de infraestruturas na parte da formação, o clube tem equipamentos excelentes, algo que se tem notado no crescimento dos atletas. Temos também acrescentado jogadores às seleções e atletas da formação já saíram para grandes clubes europeus. Estamos a construir a segunda fase da Cidade Desportiva para dotar o futebol profissional com as condições adequadas, embora as atuais já sejam boas. Serão das melhores em Portugal e na Europa. Mas há uma coisa que não podemos esconder: há três clubes em Portugal que têm uma dimensão social e económica que o Braga não tem. Esse é o grande problema do futebol português, é a desigualdade económica e social entre os clubes. A parte social temos vindo a combater, ano após ano, com a estabilidade financeira e os resultados que o clube tem tido na última década. Antigamente, o Braga era um clube que tinha muitos problemas estruturais e de estabilidade, mas isso mudou, algo que é importante para que a área social se envolva de uma forma ainda mais próxima com o clube, com especial atenção para os jovens. Depois, há outra coisa, que é a parte financeira. Em Portugal há um fosso cada vez maior em relação aos ditos três grandes, como é cada vez maior a diferença desses para os adversários das cinco principais ligas europeias. É por isso que o futebol português tem vindo a ter défice de qualidade, considero mesmo que os clubes portugueses fazem milagres com as condições financeiras atuais, tanto interna como externamente. O Braga não só se qualifica para as competições europeias, como tem estado sempre na fase de grupos da Liga Europa e também tem ido mais além; esteve nos quartos de final, numa meia-final, numa final, ultrapassando sempre os melhores.
É também por essa desigualdade com os três grandes que o Braga não assume a candidatura ao título? Pode ser nefasto ao nível da pressão ou de questões de arbitragem?
-Se formos ver em termos orçamentais, o Braga nunca irá ser campeão. O Braga poderá um dia ser campeão pela forma como montar a equipa, pela forma como a equipa conseguir manter a estrutura-base e, obviamente, se os outros clubes estiverem num ano menos bom, o que não é fácil, porque é uma conjugação que abrange três equipas. Combater orçamentos de cento e tal milhões em ordenados com 15 milhões é difícil. O dinheiro não é tudo, mas ajuda a ter os melhores. Mas não é por isso que em campo nos deixamos de bater com essas equipas, independentemente da diferença que existe. É uma luta desigual, titânica, mas a nossa ambição é ganhar.
Para todos os efeitos, tanto em termos de jogadores como de treinadores, o Braga é visto como um degrau de acesso a patamares superiores em Portugal. Há também um problema de estatuto?
-O Braga conseguiu o acesso a um patamar intermédio. Os jogadores gostam de vir para cá, porque têm boas condições de trabalho e porque promovem a sua imagem. Eles sentem o clube. Por exemplo, o Ricardo Horta, o Esgaio, o Paulinho, o Fransérgio já renovaram um segundo contrato e querem fazer a diferença. Só que o Braga, como os outros clubes, tem de ter um projeto de três anos para os atletas, porque, depois disso, ou os vende ou tem de renovar com eles, aí com outro patamar salarial a que o clube não tem acesso, sob pena de hipotecar a sua sustentabilidade económica. Isso o Braga nunca irá fazer, irá ser sempre cauteloso. O Braga irá sempre querer lutar pelos lugares cimeiros, por títulos, mas de forma coerente.
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