Salvador entrou para a presidência do Braga com 32 anos, nunca pensou que fosse ficar 18 anos, mas também acha que esta não é a altura para se ir embora, pelos desafios que estão à porta. Vai a votos em maio.
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"Por todo o envolvimento, em Sevilha foi o jogo mais marcante nestes 18 anos"
Acreditava se lhe dissessem em fevereiro de 2003, quando entrou para a presidência do Braga, que iria ser o presidente do clube no ano do centenário?
-Nunca me passou pela cabeça estar estes anos todos à frente do clube. Quando cheguei, em 2003, não foi por ser eleito, mas sim por ter sido convidado para uma missão de salvar o clube, que vivia momentos muito difíceis em termos desportivos e financeiros. Há muitos jovens que são bracarenses e que nem se lembram disso. O meu objetivo era estabilizar o clube, financeira e desportivamente, e depois ir à minha vida. Nunca imaginei ser presidente do clube; gostava de futebol e de desporto, mas nunca me passou pela cabeça ser presidente do clube. O tempo e a forma apaixonada e intensa como vivi o dia a dia do clube levou a que me dedicasse de corpo e alma ao Braga.
Agora já seria estranho deixar de ser presidente?
-Obviamente que um dia vou deixar o clube e será quando os sócios assim o entenderem. Estamos a viver um momento muito difícil com a crise da pandemia e as dificuldades económicas, sem saber onde isto vai chegar. Estamos assim há um ano, os clubes não estão a ter vida fácil e vêm aí coisas muito difíceis na área económica. Há um projeto que está a ser concluído, que é a segunda fase da Cidade Desportiva, a qual gostaria de estar a inaugurar agora, o que não é possível porque houve um impasse nas negociações com a Câmara, que originou este atraso. Vamos fazer a inauguração daqui a um ano e vamos ter eleições pelo meio, em maio. Não seria correto da minha parte abandonar agora o clube neste momento difícil. Seria mesmo um ato de cobardia. Estou disponível para mais um mandato de quatro anos, se assim os sócios o entenderem. Vou ser candidato por uma questão moral, de ética e pelo momento difícil que atravessamos. Vamos ter de estar muito focados na gestão do clube nos próximos tempos, porque não vai ser fácil para ninguém, tanto no futebol como em todas as atividades, e porque temos um projeto para concluir. Não seria correto da minha parte não dar a oportunidade aos sócios de escolherem ou não a continuidade deste projeto.
Nas últimas eleições, 32,5 por cento dos que foram às urnas votaram na lista adversária. Estava à espera de ver essa percentagem votar na lista adversária?
-É muito importante na vida do clube haver outras candidaturas, é salutar haver discussão com os sócios, com novas ideias, novos objetivos, o que também nos traz exigências maiores. Gosto de desafios e exigências. Para mim é normal, é salutar e é importante que apareçam outras candidaturas, será sinal de vitalidade. Nesta última década isso é possível acontecer, mas no passado não era fácil. Estou orgulhoso pelo que temos feito nestes 18 anos e há uma grande ambição para fazer mais; acredito que se pode fazer mais.
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Também é sinal de que o Braga se tornou um clube apetecível?
-Não tenho dúvidas. Não diria que é um clube apetecível, mas que pode orgulhar qualquer adepto pelo seu trajeto, rigor, rendimento desportivo, cumprimento das obrigações e sustentabilidade. É importante que as pessoas vejam que o clube tem condições e que outros candidatos possam aparecer.
Qual é a principal virtude que um presidente deve ter?
-Sentir o clube com uma paixão enorme e viver o clube de forma intensa. E toda a gente que o rodeia deve ter a mesma paixão e intensidade.
Neste trajeto de 18 anos enquanto presidente, qual foi a principal dificuldade com que se deparou?
-A principal foi quando cheguei. Foi muito difícil mudar tudo, hábitos, organização. A nível desportivo, o que mais me custou foi quando perdemos a Taça de Portugal, no Jamor, em 2015. Estávamos a ganhar 2-0 ao Sporting a dez minutos do fim, fomos a prolongamento e depois perdemos na marcação das grandes penalidades.
E qual foi o momento mais marcante?
-Não foi o mais simbólico, mas o mais emotivo foi, sem dúvida, o jogo em Sevilha [2010]. Foi um jogo memorável, por aquilo que se jogou, pelo ambiente e pelo que criou no futuro. O Braga qualificou-se para a Liga dos Campeões e, depois de não conseguir passar à fase seguinte, mesmo com nove pontos, foi para a Liga Europa e chegou à final. Por todo o envolvimento, o jogo com o Sevilha foi o mais marcante nestes 18 anos.
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