Salvador Agra: "Tondela vencer a Taça de Portugal? Sei a alegria daquele dia... "
ENTREVISTA, PARTE I - Salvador Agra, extremo do Tondela, garante que a presença inédita nas meias-finais da Taça de Portugal não levará a equipa a distrair-se do essencial, que é continuar na Liga Bwin. Por mais que o sonho apeteça
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Ao cabo de época e meia, Salvador Agra e o Tondela confundem-se. Aos 30 anos, corre como um miúdo, "11, 12 quilómetros por jogo", e essa urgência de quem leva à letra a ideia de que "um extremo tem de estar sempre em andamento" faz da equipa de Pako Ayestarán um coletivo mais sólido, a prometer estabilidade na Liga Bwin, com um final de época de sonho à espreita, graças à presença inédita nas meias-finais da Taça de Portugal, que tem o Mafra, do segundo escalão, no caminho do Jamor. A conversa por esse poço de energia que é Agra conduz naturalmente ao balneário e à identidade deste Tondela.
Continua a ter muito prazer em jogar, todos os dias?
-O futebol é o meu trabalho, a minha paixão, desde muito jovem. Lutei muito para estar onde estou, para ter jogado em ligas como a espanhola, a italiana. Se queremos ser alguém no futebol, trabalho, espírito de sacrifício, paixão são essenciais.
Falam disso no balneário?
-É a mensagem que passamos, tanto eu como o João Pedro, o Ricardo Alves, o Pedro Trigueira, que conhecem bem este campeonato. Sabemos o que temos pela frente, durante uma longa e dura época. Falamos no espírito de sacrifício, na união. Para mim, é o mais importante: quando tens um bom grupo, um forte espírito de equipa, estás praticamente com meio caminho andado. E o Tondela é isto. Quando cá cheguei, vi que estava em sintonia com a mensagem passada, ano após ano.
Não faltava ao Tondela um Salvador Agra? Alguém que, durante todos os 90 minutos da época, mantivesse a equipa bem acordada para a necessidade de ir para cima e ganhar?
-Cheguei na época anterior, mas acredito que outros tentaram passar a mesma mensagem, como os que citei. Agora, o futebol não é fácil, por vezes as coisas correm mal, mas, neste momento, estamos no bom caminho. O grupo acolhe bem o que os capitães tentam passar e isso é bom, facilita-nos ainda mais a vida, no balneário, e no campo torna-se tudo muito mais fácil.
Sente o Tondela mais estável? Não é de apostar num final de deixar cabelos brancos?
-Na época passada, já tentámos. A cinco jogos do fim, ainda não estava tudo seguro, mas...
...já dava para dormir?
-Isso. Não foi até à última. Essa é a mensagem: se há qualidade, se há este espírito de grupo, se não nos falta nada aqui - as pessoas são espetaculares, sempre ao nosso lado -, temos de nos focar no campeonato e pensar jogo a jogo. É o que temos feito, tem dado resultado. Há que continuar.
Agora, têm de pensar também na Taça de Portugal.
-É fruto do trabalho. Estar nas meias-finais é um presente para toda a gente no clube. Temos uma equipa complicadíssima pela frente, mas, o mais importante, aquilo em que todos temos de pensar, é no objetivo principal: é a permanência na I Liga.
Pensei que ia dizer que era ganhar a Taça de Portugal...
-Claro que, depois de lá estarmos, toda a gente quer ganhar. Já tive a felicidade de ganhar uma no sofá e de estar noutra [final]. Sei a alegria daquele dia... Todos gostávamos de estar presentes numa final, mas temos de arregaçar as mangas e dar o melhor de nós para darmos essa felicidade aos adeptos do Tondela, que o merecem.
"Enquanto aqui estiver darei tudo por este clube"
Depois de Espanha, Itália, Polónia, e em fim de contrato com o Tondela, Salvador Agra não está a pensar em fazer de novo a mala e emigrar: mantém tudo em aberto. "Até já tive essa conversa com a minha família. Não penso nisso. O que tiver de ser, será. Enquanto aqui estiver, serei o Salvador, a dar tudo por este clube". "É um clube que, em tão pouco tempo, me diz muito", explica, numa alusão à má experiência na Polónia, "a nível futebolístico", no Légia de Varsóvia, que precedeu a mudança para o plantel de Pako Ayestarán: "Marcou-me a forma como me receberam".