Líder do movimento Benfica Bem Maior, João Braz Frade, explicou porque manifestou o apoio à candidatura de Rui Costa à presidência das águias, marcou diferenças entre o antigo jogador e o ex-presidente e não deixou de parte a problemática em torno dos processos judiciais que têm estado na ordem do dia do emblema encarnado.
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O movimento Benfica Bem Maior (BBM) oficializou esta segunda-feira o apoio à candidatura de Rui Costa à presidência do emblema da águia, estando o ato eleitoral agendado para o próximo dia 9 de outubro. Como O JOGO já anunciara, existia proximidade de propostas, daí resultando um acordo que tem como consequência a não-apresentação de um candidato e o apoio ao atual presidente benfiquista.
Depois do longo trabalho que realizaram, como explica que o Benfica Bem Maior tenha chegado a esta altura e decidido não apresentar um candidato, optando por apoiar Rui Costa?
A resposta é simples. O Benfica Bem Maior passou por várias fases ao longo do processo. O ambiente eleitoral previsto inicialmente apontava para Luís Filipe Vieira não se recandidatar e João Noronha Lopes apresentar a candidatura, além de Rui Gomes da Silva e Francisco Benitez nas eleições de outubro passado. Este era o quadro geral inicial e nós entendemos que já havia muitas candidaturas e não fazia sentido avançarmos. Pensámos que mais à frente teríamos de concorrer com João Noronha Lopes e eventualmente Luís Filipe Vieira, caso ele não resistisse à tentação de se recandidatar. O quadro mudou, alterámos a estratégia, quando Luís Filipe Vieira deixou a presidência e Rui Costa assumiu a condução do clube. Mais tarde, João Noronha Lopes optou por não concorrer e nós já estávamos em conversas com Rui Costa e a sua equipa, nas quais fomos percebendo a enorme coincidência de pontos de vista quanto à necessidade de transformação do clube. Por isso entendemos que não havia necessidade de apresentar uma candidatura quando havia um candidato que, do nosso ponto de vista, defendia ideias muitos semelhantes às nossas. Nas eleições anteriores não declarámos apoio a nenhum dos candidatos, nestas resolvemos declarar o apoio a Rui Costa.
"Tenho tudo a favor do voto físico, deve existir e ser contado logo após o fecho das urnas. Não tenho nada contra o eletrónico, desde quer seja devidamente auditado, quer no software quer durante o ato eleitoral"
Pode falar-se numa aliança dada a proximidade de pontos de vista?
Pode chamar-se como quiserem, sem ironias. Somos um grupo de benfiquistas e o que nos limitámos a fazer foi mostrar às pessoas da candidatura de Rui Costa o nosso programa, qual era a nossa intenção e mostrar com que pessoas íamos a jogo. Cabia a Rui Costa, se fizesse um acordo programático connosco, escolher quem quisesse para a sua lista.
Alguns vice-presidentes da anterior Direção não vão continuar. Isso foi importante para esta decisão e para uma espécie de corte com o "vieirismo"?
Os sócios, de uma forma geral e não apenas aqueles que se manifestam em assembleias-gerais, mas também muitos que apoiam Rui Costa, exigiam que houvesse uma renovação significativa. Para a fazer e projetar essa ideia, era normal que algumas pessoas mudassem e até as pessoas mais ligadas à Direção anterior de Luís Filipe Vieira. Isso caberia a Rui Costa fazer esse julgamento e também às próprias pessoas decidirem se queriam continuar ou não num quadro completamente novo. Para a nação benfiquista era importante que o próximo presidente mostrasse vontade de mudar o clube, caso contrário nada disto faria sentido.
"Não se pode achar que Rui Costa e Luís Filipe Vieira são a mesma coisa. É confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Eu percebo onde se quer chegar porque Rui Costa esteve lá, viu ou não viu tudo..."
Em que Rui Costa é diferente de Luís Filipe Vieira?
Não se pode achar que Rui Costa e Luís Filipe Vieira são a mesma coisa. É confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Eu percebo onde se quer chegar porque Rui Costa esteve lá, viu ou não viu tudo... Não é a mesma coisa ser o líder, sobretudo sendo os clubes portugueses tão presidencialistas, e os presidentes nem sempre atribuírem a quem os rodeia a capacidade de decisão que às vezes parece que existe visto de fora. Eu não confundo Rui Costa com Luís Filipe Vieira. Este deixou um património físico notável no clube, e até de triunfos, como o inédito tetra, mas há um tempo que chega ao fim. Luís Filipe Vieira esteve mais de 17 anos como presidente, mais de 20 no clube, tenho pena que tenha saído desta maneira, era preferível para ele e para o clube que tivesse saído de outra forma. Agora, pelo facto de Rui Costa ter trabalhado no Benfica estes anos todos, nem sempre diretamente com ele, não há ligação possível. Rui Costa tem ideias próprias, muitas delas são radicalmente diferentes das que tinha Luís Filipe Vieira. Além disso, se for eleito, Rui Costa será sempre um presidente muito mais virado para o desporto, do futebol e modalidades, enquanto Luís Filipe Vieira vinha de outras áreas, era empresário. Tenho muita esperança que Rui Costa motive os benfiquistas a alterar o paradigma que se vive hoje em dia no desporto nacional, de alguma falta de transparência e democraticidade. Isso tem de mudar no clube e Rui Costa tem condições para construir um clube diferente.
O BBM não quis promessas de cargos nos futuros órgãos sociais. Que papel terá Braz Frade nos próximos quatro anos?
Não sei se Rui Costa vai ganhar, espero que sim. O meu papel e do BBM acaba aqui, dia 9 de outubro, com a eleição. Fizemos um grupo de trabalho que criou propostas para modernizar o Benfica e o transportar para um patamar superior. Se me perguntassem se aceitaria ficar nos órgãos sociais, a reposta é não. Já o disse antes, as pessoas têm de se habituar e todas as pessoas que fizeram este trabalho connosco, foi sem nenhuma promessa. O grupo de fundadores eram 130 ou 140 pessoas, que estiveram envolvidas nos 18 grupos de trabalho que analisaram todos os temas relacionados com o Benfica. Foi tudo por dedicação ao clube. Fiz questão, mesmo que me convidassem, de dizer que não porque alguém tem de dar o exemplo. Fazer isto tudo com a intenção de ter o "prémio" no fim, não me pareceu adequado. Há uma coisa que nunca interrompi na minha vida, qualquer Direção do Benfica que me peça ajuda terá sempre porque gosto muito do Benfica, sou doente pelo clube. A dedicação ao clube até está estatutariamente definida nos estatutos do nosso grupo e eu levo isso a sério. A minha maior surpresa foi encontrar tanta gente que, com cargos importantes em empresas e na sociedade, se disponibilizou para trabalhar só pelo amor ao clube. Depois de dia 9 espero ir calmamente para o meu lugar no estádio e ver o Benfica jogar.
Terá um papel vigilante se a futura Direção se desviar do que entender ser necessário para o Benfica?
O Benfica tem órgãos de fiscalização próprios e até achamos que devem ser reforçados. Não somos fiscais da Direção, não somos um grupo que anda aqui a fiscalizar para depois fazer uma berraria qualquer num sítio qualquer. O BBM deve extinguir-se à data das eleições. Isto é como em democracia, não fiscaliza quem quer mas sim que está estabelecido nas regras democráticas e no caso dos clubes isso está previsto, a nível interno e externo. Estaremos sempre disponíveis para ajudar e se me pedirem para ir vender bilhetes, eu vou.
"Tanto quanto sei, essas duas pessoas trabalham na SAD e não discuti temas da SAD no quadro destas conversas que tive com Rui Costa. Não vou dizer que nunca falámos de assuntos desses, mas não é tema que deva ser levantado num quadro de eleições"
Um dos problemas que perspetivam para o Benfica tem a ver com os processos judiciais. Na SAD, dois administradores, Miguel Moreira e Soares de Oliveira, são arguidos nestes processos. Isso foi abordado com Rui Costa?
Tanto quanto sei, essas duas pessoas trabalham na SAD e não discuti temas da SAD no quadro destas conversas que tive com Rui Costa. Não vou dizer que nunca falámos de assuntos desses, mas não é tema que deva ser levantado num quadro de eleições. De uma forma geral, o Benfica tem saído bem dos processos todos, mas há outros que continuam e estão em fases iniciais. O importante para o Benfica é ter alguém que coordene esta relação com a Justiça para que os outros possam ir gerindo o clube com alguma calma. Todos os benfiquistas falam disso, têm uma opinião, eu tenho uma opinião, mas não penso que seja altura para falar disso.
Na última assembleia-geral, um dos temas quentes era o voto físico e Rui Costa, no final, disponibilizou-se para tomar essa medida. Esperava que isso acontecesse?
Esperava. Rui Costa quer transparência e esse foi um dos temas que discutimos. Ele fez o que tinha de fazer, nós no BBM defendemos o voto eletrónico para não transformar o Benfica num clube de Lisboa e arredores, embora o voto físico possa ser feito por todo o país e até no estrangeiro. Tenho tudo a favor do voto físico, deve existir e ser contado logo após o fecho das urnas. Não tenho nada contra o eletrónico, desde quer seja devidamente auditado, quer no software quer durante o ato eleitoral. Voto físico, sim, mas não abdicaria do eletrónico para quem está deslocado, está no estrangeiro e para quem é mais prático. Com uma ambição grande de crescimento do número de sócios, até no estrangeiro, é mais prático manter o voto eletrónico confirmado pelo físico. Foi uma boa decisão de Rui Costa porque os sócios desconfiavam e isso não se pode ter no clube.
Acha necessário passar as contas do Benfica a pente fino?
As contas foram sempre aprovadas em assembleia-geral, mas quando alguém entra faz um balanço à entrada e à saída. Provavelmente será isso que acontecerá. Eu faria, de certeza. E não posso aconselhar as pessoas a fazerem de maneira diferente ao que eu faria.