Idalécio recupera aquela que era uma das viagens mais longas do Braga, à capital georgiana em 1997. Energia reduzida nas casas para haver iluminação no jogo. Parceiro de Artur Jorge na defesa do Braga
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O Braga acabou de fazer a maior travessia da sua dimensão europeia, que já envolveu viagens a 30 países, sendo o Azerbaijão o 31º destino. A descolagem para Baku, capital azeri, pode chegar a nove horas de travessia e, além de paciência até ao momento da aterragem, os minhotos têm de levar muitos golos na bagagem para superarem eliminatória muito inclinada em favor do Qarabag na primeira mão.
Os tempos são outros, mas outra das viagens mais duras de duração, não tanto de aflição pelo desfecho, aconteceu à Geórgia em 1997/98, quando o Braga de Fernando Castro Santos foi a Tbilisi derrotar o histórico Dínamo por 1-0, já depois de vencer por 4-0 no 1º de Maio. Ainda a derrocada da União Soviética não era distante, as condições sofredoras das pessoas estavam a nu nessa ida à Geórgia.
O antigo central Idalécio, hoje a viver em Londres, fez parte desse plantel dos guerreiros. "Recordo uma longuíssima viagem e a pobreza nas ruas e até na porta do hotel, com muitos jovens à espera que lhes pudéssemos dar algo, como comida e dinheiro. Foi um choque na altura! Depois no estádio ficou aquela imagem de estarmos rodeados de militares, uma segurança fortíssima à volta do encontro. As bancadas estavam repletas de gente", lembra, acrescentando nuances surreais. "Houve uma redução de energia na casa das pessoas em Tbilisi para que não faltasse iluminação no estádio e, assim, permitisse a realização do jogo. Os balneários eram um bocado assustadores com vários fios elétricos visíveis e os bancos lá instalados eram sofás para cada jogador. Só mesmo o hotel é que era um luxo comparado à miséria e dificuldades do país, pois havia muito desemprego, muita gente vendia bananas e garrafas de água na rua. Vimos isso ao ir de autocarro para o estádio", documenta o antigo defensor, 50 anos, e 134 jogos pelo Braga, tendo visto a equipa nessa época de 1997/98 chegar precisamente aos oitavos da Taça UEFA, prestação que era ótima na altura, missão agora no horizonte para o Braga e Artur Jorge, que fez dupla várias vezes com Idalécio no eixo defensivo, inclusive em Tbilisi.
"Foi uma grande experiência toda essa campanha europeia e esse jogo para o qual fomos com um bom resultado alcançado em Braga. Deu para encarar a viagem de forma positiva e acho que já estávamos com boa mentalidade e qualidade, apesar de pouca experiência na UEFA", sublinha, viajando, sem ter que abastecer a memória. "Hoje as condições são distintas, o Braga tem outras ferramentas de trabalho, outra capacidade de logística e conta com uma experiência internacional muito alta de muitos jogadores", elogia, destapando sinais dos tempos, calibre e desenvoltura. "Havia uma informação limitada e, talvez, ainda bem. Se não estou em erro, a observação do adversário foi feita por um adjunto que se deslocou para lá para nos trazer referências do que íamos encontrar", recorda Idalécio, que viu o Braga afastar Vitesse e Dinamo Tbilisi antes de ser eliminado pelo Schalke 04. "Tanto o presidente como o treinador nos transmitiram muita confiança e que não nos preocupássemos com mais nada, além do jogo e do rival. A ideia era seguir em frente e elevar o nome do clube, muito em concordância com o que é nos dias atuais", valoriza o antigo central.
"É possível melhorar a imagem e passar"
Não é fácil a vida do Braga no Azerbaijão, obrigado a vencer por dois golos para igualar a eliminatória ou vencer por três para tomar a dianteira. Impacto maior por derrotas incómodas para o ego, ferindo a confiança pela expressão dos números. "Temos de ser realistas, o resultado teve tanto de inesperado como de exagerado, tendo em conta o que Braga estava a fazer em jogos anteriores. Ainda para mais, defrontando um adversário que era teoricamente menos dotado e mais desconhecido. Acredito que os jogadores estavam bem informados de cuidados a ter", lamenta Idalécio. "A equipa técnica preparou certamente bem o jogo e o mesmo fará agora. O resultado da primeira mão deixou a desejar, foi pesado, mas, agora, só há um caminho, juntar muita ambição e união, porque qualidade o Braga tem para melhorar a sua imagem, sabendo que vai ter um ambiente difícil", alerta.
"Acho que ficaram marcas de Alvalade, reforçadas diante do Qarabag. Mas é possível fazer melhor e passar, a equipa está bem orientada e os jogadores são muito bons", elogia, debruçando-se mesmo sobre a atual liderança de Artur Jorge, que tem estado sob fogo cruzado de alguns adeptos. "Conheço o seu caráter e não vai desistir, vai exigir o máximo para darem a volta a este período menos bom. Já o fizeram com o Farense", nota, escudando o setor recuado. "A defesa não tem culpa exclusiva. Há qualidade, há experiência, sô têm de melhorar e serem unidos e concentrados para evitarem os golos sofridos recentes. É algo resultante da forma ofensiva como o Braga joga, pois traz alguns desequilíbrios. Muita força ao Artur, que dê continuidade ao excelente trabalho que tem feito."
Fonte e Moutinho aprovados
Conhecedor especial de Fonte e Moutinho, que jogaram vários anos em Inglaterra, Idalécio destrinça a importância de ambos neste projeto. "Fizeram excelentes carreiras fora de portas em grandes campeonatos. Acho que foi positivo o regresso deles embora em já estejam em fase descendente. Trouxeram certamente muito profissionalismo, experiência, qualidade, liderança e mentalidade vencedora, importante em qualquer equipa que lute por grandes objetivos como o Braga", frisou