Rafa cansou-se da Seleção: "Entendia que tinha futebol e nunca optaram por ele"
Foi lançado 22 vezes por Santos, mas apenas sete como titular. Benfiquista diz tratar-se de uma decisão "honesta e acertada". Pacheco viveu situação idêntica e admite ter sido um ato de "retaliação".
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É o ponto final 25 internacionalizações A depois... Numa comunicação algo surpreendente, Rafa renunciou à Seleção Nacional, depois de ter sido convocado para os jogos contra a Chéquia e Espanha, nos dias 24 e 27 deste mês, respetivamente. Embora não argumente sobre a sua tomada de decisão, O JOGO sabe que Rafa não estava satisfeito coma pouca utilização que tinha na Seleção.
Reduzida utilização e notícias de que não estava comprometido com a missão portuguesa também não ajudaram.
"Informei hoje [segunda-feira] o selecionador Fernando Santos e a FPF [Federação Portuguesa de Futebol] da minha indisponibilidade para representar a equipa nacional. Julgo tratar-se de uma decisão honesta e acertada, neste momento da minha carreira. Peço que as razões, de foro pessoal, sejam respeitadas por todos", pode ler-se no comunicado enviado à Agência Lusa. "Representei as seleções nacionais em 40 ocasiões, ajudei a conquistar o Euro'2016 e a Liga das Nações e estarei sempre na primeira fila a apoiar a equipa de todos nós. Estou certo de que a Seleção Nacional continuará a dar alegrias aos portugueses, desde logo na Liga das Nações e no Mundial'2022", acrescentou o extremo de 29 anos.
A decisão de Rafa, certamente pensada durante muito tempo, surpreendeu (... ou talvez não) os vários setores ligados ao desporto português, até porque o jogador do Benfica estava a viver um dos melhores momentos da carreira.
Nos anos 1990, António Pacheco, então jogador do Benfica, não renunciou publicamente à Seleção Nacional, mas enviou um recado ao selecionador da altura, Carlos Queiroz. Vinte anos depois, mantém-se perto do clube da Luz e "sem ter informação detalhada" encontra semelhanças entre a situação que viveu naquela altura e a de Rafa.
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"Renúncia de Rafa? Acho que tudo tem a ver com o que se passou dos 25 aos 29 anos. Ele entende que o comportamento do selecionador nacional não foi o melhor e esta situação até pode funcionar como retaliação", explicou o antigo extremo dos encarnados a O JOGO, especificando: "A leitura que faço é esta: ir muito e não jogar. Eu também fui convocado 30 vezes e só fui internacional seis", sublinhou, admitindo que Rafa "cansou-se" de ir à Seleção e não ser utilizado.
Feridas abertas e decisões radicais
A meio de novembro do último ano, depois de Portugal ter falhado o apuramento direto para o Mundial, foi noticiado que Rafa não estaria comprometido com a missão de Portugal. A Federação Portuguesa de Futebol [FPF] não tomou uma posição em relação ao tema - Rafa nunca se pronunciou sobre esta questão, mas terá ficado profundamente magoado -, mas Fernando Santos desmentiu as notícias numa entrevista à TVI, desmentindo tudo.
"É totalmente falso. Não [aconteceu nada]. Foi convocado para as últimas duas convocatórias. O Rafa está comigo desde 2015. Estava no Braga, foi campeão da Europa, ganhou a Liga das Nações. Esteve sempre comigo", explicara o selecionador nacional, que o lançou em 22 jogos, sete a titular, três destes particulares.
"O Rafa entendia que tinha futebol e nunca optaram por ele. Agora, quer concentrar-se apenas no Benfica. Podemos considerar uma posição legítima", reforça Pacheco, referindo ainda que o timing escolhido pelo camisola 27 das águias tem a ver com a sua personalidade. "Por aquilo que me dizem, o Rafa tem um feitio muito sui generis. É muito orgulhoso, introvertido, pouco expansivo e terá pensado que foi mal utilizado. Às vezes, essas pessoas são as mais radicais quando tomam decisões. Acredito também que se tenha sentido injustiçado quando saíram aquelas notícias após o jogo contra a Sérvia. E agora deve ter dito: "chegou a hora de marcar a minha posição"".
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Apesar de tudo, Pacheco entende que a sua situação foi mais delicada do que a de Rafa porque entrou em ruptura com o selecionador. "Eu mandei um recado ao Carlos Queiroz. Enquanto ele estivesse na liderança da Seleção eu não iria. Não fui mais longe, não tornei a minha posição pública, porque na altura a federação poderia processar um jogador que abdicasse da Seleção e impedir que participasse no campeonato. Foi isso que me explicaram. Quando tomei a decisão era mais novo do que o Rafa. Deixei a seleção mas depois levei com ele no Sporting. Aliás, no Sporting, foi apenas um ano mas equivaleu a trinta. Ainda hoje não durmo bem com isso", terminou Pacheco em tom de brincadeira.
Ainda na segunda-feira a FPF colocou uma nota oficial no seu site: "A direção da FPF respeita a decisão tomada pelo Rafa, que connosco viveu as duas maiores conquistas da Seleção Nacional, o Euro'2016 e a Liga das Nações. O Rafa será para sempre um dos nossos e é credor do nosso reconhecimento e agradecimento".
António Araújo, empresário do benfiquista, garante que o jogador deu o passo que pretendia. "Foi o que ele quis, pretende dedicar-se e estar concentrado a cem por cento no Benfica".
Uzbequistão a abrir portas em 2013
Rafa estreava-se no escalão sénior, com as cores do Feirense, quando foi chamado pela primeira vez a uma Seleção Nacional. A 23 de abril de 2013 foi lançado por Edgar Borges na derrota com o Uzbequistão. Tinha oito golos pelo seu clube, apontou mais três e foi contratado pelo Braga.
Sub-21 no trampolim para voos mais altos
Rui Jorge chamou-o aos sub-21 após dois jogos pelos sub-20. Estreou-se contra a Croácia, a 2 de junho de 2013, e marcou o primeiro golo diante da Polónia, a 10 de setembro do mesmo ano. Na carreira, alinhou em 13 partidas deste escalão, que o catapultaram para a seleção principal.
Paulo Bento dá-lhe carimbo dos AA
Pelo meio das chamadas aos sub-21, Rafa conquistou o estatuto de internacional A, ao ser convocado e lançado em campo por Paulo Bento. O primeiro jogo foi diante dos Camarões, a 5 de março de 2014, em que foi titular, tendo alinhado ainda diante da Grécia (7') e México (14'), todos jogos de preparação.
Só sete jogos no onze com Fernando Santos
Saiu Paulo Bento, entrou Fernando Santos. Rafa foi chamado por este pela primeira vez a 11 de outubro de 2015, mas não saiu do banco ante a Sérvia. Entrou a 14 de novembro, aos 89', diante da Rússia. O dianteiro inscreveu no seu currículo nacional 22 presenças em campo (em muitos jogos não foi lançado ou ficou fora da ficha de jogo), mas foi titular apenas sete vezes, das quais só quatro em jogos oficiais.
Quatro competições e dois troféus ganhos
Pelos AA, Rafa tem 25 internacionalizações, que lhe permitiram participar em quatro provas e ajudar a levantar dois troféus: o Euro'2016, em França (um minuto em sete jogos), e a Liga das Nações 2019 (15 minutos na final com os Países Baixos). Esteve ainda no Mundial'2014 (não saiu do banco) e no Euro'2020 (19' com a Hungria e 32' com a Alemanha).