ENTREVISTA (Parte 1) - Fernando Gomes, diretor de scouting, aceitou convite de Pinto da Costa para liderar formação e explica o novo projeto portista.
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Fernando Gomes é uma das novidades na lista apresentada por Pinto da Costa às eleições do FC Porto. O atual diretor do departamento de scouting foi convidado a integrar a direção como vogal responsável pelo futebol de formação, uma área que vai merecer uma aposta ainda mais forte dos dragões.
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Em entrevista a O JOGO, o antigo goleador justificou a resposta afirmativa que deu a Pinto da Costa e falou da felicidade que sente por continuar a servir o FC Porto, entusiasmado com o novo projeto.
O que o levou a aceitar o convite de Pinto da Costa para fazer parte da Direção do FC Porto?
-Estou grato a Pinto da Costa e estou ao dispor do presidente para servir o clube, mas aceitei, sobretudo, porque estou diariamente com ele no Estádio do Dragão e vejo que mantém a sua grande capacidade de liderança e está com muita vontade de trabalhar, com uma grande paixão e uma enorme ambição. Isto para além da experiência que tem. São fatores importantes para a tarefa que o clube tem em mãos, ainda por cima depois desta pandemia, que vai trazer um novo futebol.
Ficou surpreendido com este convite?
-Eu sirvo o clube onde o presidente Pinto da Costa vir que sou mais útil. Nesse sentido, ele sentia que eu podia ser uma das alterações nas listas dele. Mas aquilo que me continua a nortear é a paixão de estar no clube, de servi-lo da melhor maneira e com a competência que possa oferecer. Sou o sócio 1682, sou sócio há 57 anos e, antes de ser futebolista, já ia ver os meus ídolos ao Estádio das Antas, quer no campo principal ou no de treinos. Acompanhei sempre o clube, seja como atleta ou como adepto.
Como analisa estas eleições, com três candidatos?
-Fico contente, revela a vitalidade do clube e, ao contrário do que muitos diziam, é a prova de que o FC Porto é um exemplo de democracia, é um clube democrata.
Como dirigente, mas também como adepto, receia que o poder mude de mãos?
-Os adeptos do FC Porto sabem o que querem para o clube, ainda por cima neste momento complicado, devido à pandemia, e acredito que os sócios sabem bem o que o clube precisa e, com certeza, na hora de votar, vão optar por aquele que nos dá mais garantias no momento e a curto/médio prazo. Para sintetizar, Jorge Nuno Pinto da Costa continua a ser a força motora do desenvolvimento do FC Porto e é ele o denominador comum de todas estas vitórias que o clube alcançou nestes últimos 38 anos. Como disse há pouco tempo o senhor Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, o FC Porto é dos clubes mais respeitados do mundo do futebol. O FC Porto é um clube com uma cultura única no planeta e isso também foi conseguido com a ajuda dos nossos adeptos.
"Quase metade do nosso plantel principal é da formação, mas depois desta pandemia, há uma necessidade maior de fazer disso a sustentabilidade do FC Porto"
Curiosamente, é quase impossível dissociar Pinto da Costa de Fernando Gomes...
-Foi meu diretor de futebol, ainda era eu bastante novo. Pinto da Costa e José Maria Pedroto foram duas pessoas que tiveram muita importância e uma enorme influência na minha vida, a nível pessoal e enquanto futebolista.
A formação passa a ser mais importante tendo em conta as alterações que o futebol terá de sofrer depois desta pandemia?
-Sim, sem dúvida. Vamos ter de nos focar mais na formação, em Portugal, mas também de um modo geral. No FC Porto, a formação já é um dos grandes pilares. Quase metade do nosso plantel principal é da nossa formação. Já fazíamos essa aposta, mas depois desta pandemia há uma necessidade maior de fazer da formação a sustentabilidade do FC Porto.
"Temos de investir ainda mais no capital humano"
O que tem de ser feito de diferente?
-Temos de investir ainda mais no capital humano, desde treinadores a dirigentes e jogadores. Temos de desenvolver o nosso talento com mais profundidade.
A construção da Academia é fundamental?
-Não é a Academia que vai fazer o nosso jogador, é a nossa cultura, o nosso trabalho e a nossa vontade de vencer. Na Constituição não havia grandes condições, mas saíam de lá grandes jogadores. Mas é lógico que as boas infraestruturas dão-nos a possibilidade de rentabilizar mais e melhor esse talento. Isso é inquestionável. Além disso, queremos todo o futebol ainda mais ligado de cima abaixo. Não havia barreiras, mas queremos que esteja ainda mais ligado. Nós sempre tivemos jogadores com talento, mas também temos de ter capacidade para mantê-lo, o que tem sido difícil nestes últimos tempos, porque os miúdos de 14 ou 15 anos já têm propostas muitas vezes astronómicas, já têm agentes e torna-se difícil, mantê-los no clube muito, mas temos de ter essa capacidade.
"FUNÇÕES? O SONHO FOI SEMPRE ESTAR AQUI"
É mais aliciante esta nova função ou a que ocupava no scouting?
-Sem qualquer demagogia, estar no FC Porto foi sempre o meu maior sonho. Foi assim desde miúdo até ser jogador e também foi sempre o meu sonho voltar depois de ter acabado a carreira. Felizmente consegui fazê-lo em ambas as situações. Hoje, o scouting é uma área fantástica, atraente, é estar sempre em movimento, em pesquisa. Não se pode parar no tempo, é preciso estar atualizado. Nunca imaginei poder pertencer ao scouting e hoje estou fascinado e entusiasmado com a função que tenho desempenhado. Penso que a experiência e competência que adquiri vai ser útil. Terei um grande entusiasmo em conjunto com os que vão trabalhar na formação para podermos dar ao FC Porto as alegrias que os adeptos pretendem, isto é, ver jogadores talentosos da nossa formação e também ver algumas vitórias importantes. Isto porque, na minha opinião, o lema será sempre formar a ganhar.
Que balanço faz do seu trabalho no scouting?
-A nossa entrega foi sempre enorme, colaborante e, sobretudo, sabendo viver com a frustração. Temos tido um trabalho de pesquisa e descoberta de jogadores importantes nos últimos tempos, mesmo tendo em conta que nos últimos quatro anos o FC Porto não teve o mesmo orçamento. O departamento teve sempre um bom orçamento, continua a ter, mas não é tão avantajado. Continuamos a procurar talento para todas as equipas.