ENTREVISTA, PARTE III - Adaptação do defesa ao clube leonino foi facilitada pela proximidade dos colegas
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Debast confessou que a mudança da Bélgica, onde tem as suas raízes familiares, para Portugal, foi um processo desafiante, mas explicou a importância dos seus colegas de equipa nesta adaptação.
Jogou toda a vida no Anderlecht antes de rumar ao Sporting. O que o levou a abandonar a sua zona de conforto, e de que aspetos sente mais falta?
-Eu estava em casa, no Anderlecht. Conhecia todos os funcionários do clube, conhecia os adeptos, pessoalmente. Mas o que me deixa com mais saudades [da Bélgica] é a minha família, porque estou cá sozinho, antes era mais fácil. Quando tinha um jogo mais difícil, voltava para casa, e estavam lá o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, o resto da minha família. Quando volto para casa agora, não tenho ninguém próximo com quem falar, é difícil falar sobre sentimentos com outras pessoas, e falar por chamada não é a mesma coisa.
Atualmente, quando atravessa uma fase menos positiva, quem o apoia?
-Penso que temos um ótimo grupo. Sinto que posso falar com todos os meus companheiros e com a equipa técnica sobre os meus sentimentos e emoções. O meu melhor amigo veio morar comigo para Lisboa, e ajuda-me a fazer coisas como ir às compras. Não senti a necessidade de ir a um psicólogo, a última vez que foi há três anos. Por vezes, os jogadores apenas precisam de falar para receber algumas dicas de forma a melhorar mentalmente. Quando cheguei ao Sporting, sentia-me pronto para dar este passo mentalmente, o nosso psicólogo é a própria equipa. Temos muitos homens bons, que falam contigo fora do futebol. Vamos almoçar juntos, fazemos várias coisas juntos.
“Ansiava por marcar um golo”
O tiro de Debast frente ao Lille, para a Liga dos Campeões, fez tremer as bancadas do Estádio de Alvalade, e foi essencial para a afirmação do central no Sporting.
O que lhe passou pela cabeça quando disparou aquele remate frente ao Lille?
-Não estava à espera que a bola chegasse a mim. Ansiava por um golo há muito tempo, não sabia que iria surgir daquela forma. Queria muito, mas não acreditava que seria daquela maneira. Apenas pensei que precisava de fazer um remate à baliza, e penso que correu bem.
O golo ajudou-o a libertar-se?
-Sim, sem dúvida. No início, foi difícil chegar aqui, adaptar-me a um novo estilo de jogo, a uma nova competição. Ajudou-me muito mentalmente, senti-me livre, foi um momento de alívio. A partir daquele momento, comecei a construir o meu caminho, foi um marco.
“Martínez pode dar um título internacional a Portugal”
O central do Sporting estreou-se pela seleção principal da Bélgica pela mão de Roberto Martínez, atual selecionador de Portugal, e acredita que o treinador espanhol tem as virtudes necessárias para levar a equipa das quinas à conquista de um grande título internacional, como um Europeu ou um Mundial de futebol: “Sim, com certeza [pode levar a seleção portuguesa a conquistar títulos]. Tive uma boa experiência com ele, apesar de curta, uma vez que apenas nos cruzámos por seis meses, mas ele é um treinador incrível, pela forma como fala com os jogadores, como envolve todos os jogadores do grupo na equipa. Ajudou-me a evoluir em alguns aspetos do meu jogo. Tenho a certeza de que vai conseguir bons resultados”, disse Debast sobre o selecionador.
Curiosidades
Zeno Debast revelou que o antigo internacional brasileiro Ronaldinho Gaúcho foi a sua grande referência durante os primeiros passos no futebol. “Pode parecer estranho, por eu ser um defesa, mas eu sempre fui fã de Ronaldinho, da forma como ele jogava, mas, aos 15 anos, tive de adotar novos ídolos [risos]. Sempre gostei de seguir o Vincent Kompany e Puyol, são dois jogadores que sempre admirei. Tive a oportunidade de trabalhar com Kompany no Anderlecht, o que foi incrível para mim”, disse, o internacional belga.
O central cumpriu todo o trajeto de formação no Anderlecht, e assinou o seu primeiro contrato profissional aos 16 anos. A estreia oficial chegou em maio de 2021, quando foi lançado num duelo com o Club Brugge, para a liga belga, tinha 17 anos de idade. O defesa somou 97 partidas pelo clube, e chegou a envergar a braçadeira de capitão.
Roberto Martínez, atual selecionador português, que, à altura, orientava a Bélgica, chamou Debast à seleção quando o central cumpria a sua primeira temporada completa como sénior. A estreia chegou em setembro de 2022, no encontro frente à seleção de País de Gales, tinha Debast 18 anos de idade. O defesa soma, agora, 16 internacionalizações pelo seu país, a nível sénior.