Entrevista, parte II - Pereira da Costa lembra que acordo anterior não previa a hipótese de recuperar os 30% cedidos à Ithaka
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CFO explica que a alínea relacionada com a possibilidade de poder emitir dívida com base nos 70% da Porto Stadco que ficam na posse da SAD recebeu “consentimento” da Ithaka.
A duração prolongada da parceria foi um fator que pesou na renegociação?
-É uma duração muito longa e o negócio pode evoluir com desenvolvimentos que não conseguimos antever. Por isso, colocámos ao nosso parceiro como condição a possibilidade de recompra da participação, algo que não acontecia no acordo anterior. Ficou estabelecido neste novo acordo que o FC Porto poderá recomprar à Ithaka os 30% no final do 10.º ano, em 2034, ou no final do 15.º ano, em 2039. Essas condições já ficaram acordadas e esta opção dá-nos flexibilidade adicional. No caso de a exercermos, voltaríamos a ter 100% dos negócios comerciais incluídos nesta parceria, que seria desfeita nesta altura. Uma hipótese remota, mas é sempre bom ter uma opção que depende da nossa vontade, sem condições associadas. Se o FC Porto quiser, tem essa possibilidade a um preço que também ficou já acordado, mas não é fixo. Vai depender do desempenho. Se for bom, o FC Porto teria de pagar mais. Se não for, pagaria menos. A última condição teve que ver com a possibilidade de montarmos uma operação de financiamento por dívida com base nesta nova empresa que vamos criar, a Porto Stadco. Já existem precedentes de mercado que são, no fundo, emissão de dívida a partir dos veículos que detêm estes negócios comerciais associados ao estádio e que têm um risco mais baixo do que o risco típico de um clube de futebol. No perímetro deste negócio não se incluem variáveis que dependem muito do sucesso desportivo, como prémios da UEFA ou vendas de jogadores. São negócios estáveis. A bilhética é estável, a receita dos camarotes também. Portanto, esteja o FC Porto bem ou não desportivamente, tem aí receitas mais ou menos estáveis. Com base nesta projeção de “cash flows”, os investidores em dívida emitida por estes veículos atribuem um risco mais baixo. As operações que têm vindo a ser feitas têm rating por parte de agências internacionais, que permite que o FC Porto e outros clubes possam financiar-se a muito longo prazo e com taxas atrativas. E nós, com este acordo, não quisemos prejudicar a possibilidade de podermos fazer na mesma a emissão de dívida com base nos 70% da sociedade com que vamos ficar. Ficou expresso que o nosso parceiro dá o consentimento e apoia o FC Porto nessa operação.
A “moda” que chega à europa e já conta com o real
O acordo estabelecido entre FC Porto e Ithaka enquadra-se numa “tendência” que, na Europa, tem no Real Madrid e no Lyon bons exemplos, refere Pereira da Costa. “Temos vindo a acompanhar operações de financiamento de muitos clubes e esta foi uma tendência que começou nos Estados Unidos e que passou para a Europa. O Real Madrid fez, o Lyon também... A moda está a pegar”, nota.