Primeiro exercício financeiro completo da administração Villas-Boas inverteu rumo do anterior. SAD fecha 2024/25 com o melhor exercício de sempre, depois do prejuízo de 21 milhões de euros na época anterior. Redução brutal nos capitais próprios negativos, de 113,8 M€ para 10,5 M€.
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Os 21,06 milhões de euros de prejuízo de 2023/24 deixaram o FC Porto em risco de não cumprir as regras de sustentabilidade financeira da UEFA, que se teria tornado uma realidade se este exercício não tivesse lucro. "Convencemos a UEFA a esperar por este resultado e a aplicar uma multa, de 750 mil euros, que já está paga e entrou nestas contas, que impediu a entrada no fair-play financeiro", explicou Pereira da Costa.
LUCRO RECORDE DE 39 MILHÕES
A temporada de 2024/25 não ficará propriamente na memória dos adeptos portistas pelas conquistas desportivas, mas promete assinalar o início daquilo que a administração da SAD dos dragões acredita ser a inversão da realidade financeira. A época fechou com um lucro de 39,2 milhões de euros, que representa o melhor exercício de sempre da SAD azul e branca. As mais-valias com as transferências de jogadores ajudam a explicar o resultado positivo, enquanto a renegociação da dívida a longo prazo justifica a enorme redução dos capitais próprios negativos, de 113,8 para apenas 10,5 milhões de euros.
Numa temporada sem o pote de ouro garantido pela Liga dos Campeões, o FC Porto viu as receitas da UEFA baixarem de 65 M€ para apenas 17,2 M€, por ter atingido o play-off de acesso aos "oitavos" da Liga Europa, numa redução que foi ligeiramente compensada pelos 17 M€ pagos pela participação no Mundial de Clubes e pelo crescimento das receitas comerciais, nomeadamente o aumento do número de sócios, venda de lugares anuais e bilhética.
No primeiro relatório e contas da responsabilidade da atual direção, a administração da SAD concretizou duas das principais promessas eleitorais feitas por André Villas-Boas, baixando os custos com pessoal em 10,5 M€ (-11%) e com fornecedores externos (7,8 M€, o que representa 14%) e garantindo a reestruturação total da dívida. A emissão das Dragon Notes, de 115 milhões de euros a 25 anos, permitiu, segundo o administrador financeiro, Pereira da Costa, "alongar a maturidade da mesma e reduzir o custo financeiro em seis milhões".
A nível patrimonial, os capitais próprios registaram uma enorme recuperação para 10,5 M€ negativos, contra os 113,8 M€ registados em junho de 2024, notando-se, ainda, a redução do balanço entre o passivo e o ativo correntes: dos 242 M€ negativos do ano anterior passaram a 31 M€, também negativos, no atual exercício.
A receita com a venda de passes de jogadores também atingiu um valor recorde, de 171,5 milhões de euros, com destaque para as transferências de Evanilson, no verão de 2024, Nico González e Galeno, em janeiro deste ano. O saldo, após amortizações e perdas por imparidade com os passes, atingiu um total de 66,1 M€.
Agentes cobraram taxa média de 6,5%
O FC Porto detalhou, também, as transferências deste último defeso - Froholdt, por 20 milhões, foi o mais caro -, sendo que dos 112 M€ investidos, 13 M€ foram para taxas de intermediação, numa média de 6,5%.
Número de sócios já vai em 160 mil
A SAD avançou que, para esta época, já se regista o crescimento de lugares anuais (15%) e o aumento do número de sócios: de 140 mil para 160 mil.
591 milhões de euros
É o valor do passivo total, que reduziu apenas 1,6 M€, mas o passivo corrente baixou drasticamente: de 301 M€ em 23/24 para 184 M€.
10,4 milhões de euros
Os capitais próprios continuam em terreno negativo, mas registaram uma redução de 91%. No exercício passado, cifravam-se em -113 M€.
-47% de FIFA e UEFA
Em receitas da UEFA e FIFA. Em 2023/24, com os "oitavos" da Champions, o FC Porto garantiu 65 M€ contra os 34,2 M€ em 24/25 com Liga Europa e Mundial de Clubes.
+15% bilhética
Foi a subida com a bilhética. A temporada de 2023/24 valeu apenas 11,9 milhões, enquanto a época passada rendeu 13,6 milhões de euros em venda de bilhetes.
Boas contas podem valer reforço
André Villas-Boas marcou presença na apresentação do relatório e contas da SAD que registou um lucro recorde de 39,2 milhões de euros e admitiu que o desfecho do exercício pode permitir recorrer ao mercado de inverno para encontrar uma alternativa ao lesionado Nehuén Pérez.
"Quero começar por congratular as equipas de gestão e financeira, bem como a parte comercial do clube e agradecer aos sócios, porque esta dinâmica vem do respeito que têm para com esta direção. Isso é bem visível no crescimento orgânico do número de sócios e mais lugares anuais. Continuamos a crescer exponencialmente", começou por referir o líder dos dragões, antes de ser questionado se o lucro apresentado pode permitir ao FC Porto reforçar-se já no próximo mês de janeiro.
"Foram resultados extraordinários, que permitiram este investimento [de verão] avultado na equipa principal. Temos um plantel equilibrado, mas que tem sofrido algumas lesões. Nessa ótica, não é impossível que pensemos em reforçar a equipa com um defesa-central em janeiro. Não obrigatoriamente uma compra, mas talvez um empréstimo. Vai ser algo para o treinador decidir", explicou Villas-Boas, que lembrou que teria sido impossível ao FC Porto conseguir estes resultados financeiros sem as vendas de Evanilson, Galeno e Nico González.
Com cerca de 170 milhões de euros garantidos nas duas últimas janelas de mercado do exercício 2024/25 - não contabilizando as vendas deste último defeso -, o presidente portista reconheceu que o caminho dos clubes portugueses passa sempre por gerar mais-valias.
"Há crescimento do valor do ativo total e o FC Porto detém quase sempre 100% dos passes, o que não acontecia no passado. Para ser sustentável, vai ter de gerir os mercados de transferências com pinças e gerar mais-valias. Temos jogadores de qualidade que podem ser assediados por clubes das ligas principais", assumiu.
CAR: obras com prazo até dois anos
O FC Porto já comprou os terrenos onde vai nascer o futuro Centro de Alto Rendimento (CAR), no Olival, Vila Nova de Gaia, e Villas-Boas explicou que está em curso a fase de licenciamento. Depois, terá de decidir se as obras, que está previsto venham a ter uma duração de entre ano e meio a dois anos, serão feitas com parceiros ou com fundos próprios da SAD.