ENTREVISTA, PARTE I - Capitão gaba o trabalho de Conceição face à saída de Díaz, vê Pinto da Costa como um suporte e refere que a longevidade não se explica só com a genética. Ser bicampeão aos 40 anos já lhe passou pela cabeça.
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Com as emoções da conquista do título ainda bem presentes, Pepe aborda, em entrevista a O JOGO, as razões do sucesso do FC Porto na Liga, como é trabalhar com Sérgio Conceição aos 39 anos, o castigo que lhe foi aplicado pelo CD da FPF e deixa uma farpa aos rivais pela forma como o avaliam.
"Tentaram tirar-nos o foco, mas fomos maduros"
O que significa este título, aos 39 anos, depois de já ter ganho três Ligas dos Campeões e um Europeu?
-Significa muito. Sinceramente, é como se fosse o primeiro que ganhei pelo FC Porto. Trabalhamos de forma muito séria. Eu, particularmente, dedico-me muito a esta profissão. Depois de ser campeão, as pessoas podem pensar que é fácil, mas não é. São muitas horas que ninguém vê, mas que estão ali. Aos 39 anos, poder jogar 90 minutos a cada jogo é muito difícil. Muitos jogadores sabem disso. São necessárias muitas horas de dedicação, não é só a genética. Por isso, este título tem um significado muito importante: o de poder ajudar o meu clube e os meus companheiros a poder conquistá-lo.
Imagina-se a vencer o bicampeonato aos 40 anos?
-[Risos] Imagino, claro. Trabalho e trabalhamos para isso, mas o mais importante é desfrutarmos deste momento, porque foi uma época muito dura. Vai ser a minha primeira ida aos Aliados. Quando cheguei ao FC Porto, era esse o meu sonho e vou poder realizá-lo. Quero agradecer à minha família, que me tem dado muito apoio e tido paciência para aturar tantas horas de ausência. Dedico este título à minha mulher, às minhas filhas e a todos os adeptos portistas.
Quais são os desafios de capitanear uma fornada de miúdos saídos da formação e conduzi-los ao título?
-O desafio é tentar demonstrar-lhes o prazer de ganhar. Hoje em dia, com tantas redes sociais e com a influência da opinião pública perante os jovens, é importante não deixarem de seguir o seu sonho e o seu foco, que é poder ganhar. Costumo dizer que aqui, no FC Porto, não comemoramos vitórias, comemoramos títulos. O míster também é o primeiro a dizê-lo. Então tentei sempre demonstrar-lhes que, sempre que vencemos, temos que desfrutar do triunfo no dia do jogo, mas, no seguinte, temos de pensar logo no próximo para alcançarmos os objetivos do clube: vencer as duas competições nacionais, campeonato e Taça. O clube soube interiorizar muito bem o que é ganhar. Portanto, sublinho que, apesar de se tratar de um plantel jovem, também tem muita fome de vencer.
Esta temporada ficou pautada por vários recordes...
-Não se tem falado muito do trabalho que esta equipa tem feito e do mérito. Foram 58 jogos sem perder, melhor ataque do campeonato, melhor defesa e há esse recorde de pontos ao alcance. Foram tentando tirar o foco do nosso objetivo, mas nós, independentemente do que possam falar e apesar de termos uma equipa jovem, fomos bastante maduros. Demonstrámos perante o nosso grande rival, o Benfica, que somos uma equipa madura. Sabíamos que o empate chegava para sermos campeões, mas nunca jogamos para empatar. É sempre para ganhar, porque é isso que este clube e esta camisola exigem de nós. Demonstrámos humildade, querer ganhar e paixão pela vitória. Não nos cansamos de ganhar e, por isso, quero dar os parabéns aos meus companheiros, ao treinador, a todo o seu staff e aos nossos dirigentes, que foram impecáveis connosco em dois anos muito difíceis, com a covid-19. Estiveram sempre ao nosso lado, apoiaram-nos e nós, jogadores, entendemos a situação que atravessávamos. É uma vitória de todos, não apenas dos jogadores, do que é ser FC Porto, que demonstrou que a gente do Norte é resiliente, com muita capacidade e sempre com uma palavra a dizer. Representamos uma região e isso é apaixonante.
Sérgio Conceição venceu a terceira Liga em cinco anos como treinador do FC Porto. Qual o papel dele na conquista?
-O nosso treinador... Fico sem palavras ao falar dele, porque, com todas as dificuldades de que já falei, com pouco investimento, manteve sempre o nível e este ano foi uma prova disso. O Luis Díaz, o Sérgio Oliveira e o Corona foram embora e ele provou, mais uma vez, que com trabalho, dedicação e amor à profissão poderíamos sair por cima. Desde o meu primeiro dia cá, sempre me disse que todos os jogadores eram extremamente importantes e demonstrou-o. As pessoas não conhecem bem o trabalho que se faz, até porque, se isso for público, torna-se mais fácil para os nossos adversários. Mas a verdade é que o nosso treinador confia em todos, até nos que estavam na equipa B e chegaram à equipa principal. Basta lembrar quando colocou o Danny [Loader] contra o Boavista: entrou e marcou um golo. Fê-lo porque sentia que era um jogador importante naquele momento. E os que não jogaram também fazem de nós melhores a cada dia. Com o míster treinamos muito forte, não há descanso. Ele sempre deixou bem claro o clube que representamos e que temos de ter orgulho nisso. Só podemos agradecer-lhe, porque o trabalho que fez no FC Porto é extraordinário. Tanto assim é, que os títulos estão aí, para todos verem.
E o do presidente?
-O nosso presidente é o nosso chefe máximo. Disse, quando ele chegou aos 40 anos de liderança, que é o nosso suporte. Apoiou-nos sempre muito. Passámos anos muito difíceis, não só para o FC Porto, mas para o próprio futebol, sem adeptos e sem a paixão deles. Mas demos a volta e o presidente soube fazer isso muito bem.
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