ENTREVISTA, PARTE I >> Depois de uma subida, um acesso à Liga Conferência. Regresso a Portugal de Pedro Ferreira tem um carimbo de excelência e de qualidade no meio-campo do Santa Clara
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Pedro Ferreira mostra-se em Portugal como unidade de valor acrescentado no Santa Clara, mostrando nos Açores as bases de uma formação longa no Sporting e uma competitividade maior trabalhada no futebol dinamarquês em três anos e meio no Aalborg, que se seguiram à COVID-19. Fez 35 jogos e destaca os méritos da equipa insular e do trabalho de Vasco Matos.
Pedro Ferreira, 27 anos, veio da Dinamarca para os Açores para se tornar figura pendular do Santa Clara na zona intermédia. Peça importante com dois anos impactantes, subida e apuramento europeu.
Num regresso do clube à Liga, a sua estreia na elite portuguesa não podia ter sido mais proveitosa...
—Era impossível sonhar com uma época tão boa como a que fizemos. Coletivamente fomos ótimos. Quem sobe tem como objetivo estabilizar-se no escalão e nós não fugimos à regra. Queríamos estar tranquilo, nunca pensando que uma qualificação europeia podia acontecer.
O treinador, em algum momento, adotou essa ambição na comunicação convosco?
— Internamente nunca foi falado o ataque às provas europeias. Com o passar da Liga, fomos acreditando que era possível, mas sem nunca expor isso. Só mesmo no final tivemos claro que podíamos lutar, mas o nosso foco andou sempre jogo a jogo, porque sabíamos que já muitas equipas fizeram grandes primeiras voltas e, depois, caíram a pique na segunda. Nós conseguimos estar sempre na parte alta.
Já imaginava a disputa da Liga Conferência e a imagem que a equipa poderá deixar na Europa?
— Nada disso foi já discutido, acredito que vamos manter o espírito jogo a jogo, eliminatória a eliminatória, para conseguirmos entrar na fase de grupos da Liga Conferência. Ainda é cedo para falar, eu, pessoalmente, sinto essa ambição de entrar na fase regular da prova, vamos ver até onde podemos chegar.
Esse desejo de vingar na Europa é um perigo para os objetivos na Liga?
— Sabemos que já aconteceu no passado equipas darem mais atenção a uma prova em detrimento de outras e, depois, acabam aflitas no final. Temos de dar igual importância a todas, no passado muitos sofreram por colocarem a cabeça mais ligada a determinados objetivos. É essencial prevenir desde cedo, nunca desligar o foco para não nos colocarmos a jeito de percalços.
Como lidavam com alguns comentários mais depreciativos, de serem uma equipa de maior tração atrás?
— Não nos interessa muito o que se diz de nós. No final, o que conta são as vitórias e a classificação. Somos, sim, uma equipa que defende muito bem, muito bem organizada, onde todos são solidários. Todos correm muito no Santa Clara. Se não fosse assim, não teríamos acabado no quinto lugar, numa classificação histórica.
Como carateriza o Vasco Matos por estes dois anos de sucesso nos Açores?
— O Vasco Matos mostrou ser sempre alguém muito calmo nas ligações com os jogadores, era fácil chegar a ele, falar com ele, sempre aberto para isso, independentemente do assunto. Também exigia muito, tinha, por vezes, de dar uns gritos para acordarmos e manter toda a gente ligada. Acho que é um treinador com muito potencial, fez um grande trabalho durante duas épocas no Santa Clara. Nunca nos deixou relaxar, nem pensar muito à frente, meteu-nos sempre o foco no próximo jogo e os pés bem firmes na terra. Nunca esteva satisfeito, pedia para melhorarmos semana a semana, exigindo mais para cada treino para irmos mais além no jogo.
Apesar de experiente, nunca tinha atuado na divisão maior de Portugal. Que custos teve essa adaptação na chegada à I Liga com o Santa Clara?
— Fiz muitos jogos, há um ano e meio também estive em quase todos, só falhei mesmo por suspensão. Sinto-me importante no grupo, acarinhado por uma malta excelente. A adaptação foi muito fácil, por conta do nível do grupo, toda a gente empenhada em ajudar a equipa. Não senti, na realidade, grandes diferenças da Liga 2 para a I Liga, foi uma transição tranquila, embora apanhando um jogo mais rápido, sem tantas faltas e maior qualidade. Não senti na competitividade muita diferença, talvez por ter tido também experiência na I Divisão da Dinamarca. Em Portugal nunca tinha ido além da Liga 2, mas, na prática, acho que me dei bem, estava preparado há algum tempo para este momento. Só aconteceu agora, mas estou muito feliz pela maneira como foi.
Sente que está num clube de futuro também?
— O projeto está a crescer a olhos vistos. Basta ver a época feita, a construção da academia, as condições estão em progressão. Os planos de equipa B e sub-23, estão a trabalhar para elevar a fasquia no clube. Também estão a ver como melhorar o estádio, há um trabalho forte no seu todo, que pode dar importância ao futebol nos Açores.